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O irmão mais velho - Sermão 21/02/2021



E saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos; Lucas 15:29


Um personagem bastante desprezado na parábola do filho pródigo é o irmão mais velho. Ele ocupa a menor porção do texto, mas suas ações e posicionamentos tem grande importância na lição que o Senhor Jesus Cristo deseja transmitir. E para nós, estudantes da Bíblia, é de grande relevância entendermos todas as aplicações possíveis que podem ser extraídas desse personagem, para não sermos achados por nosso Pai Celestial com a mesma atitude e coração.


Como mencionei desde a primeira reflexão dessa série, os dois filhos do pai demonstram o modo como a humanidade decaída em seus pecados se afasta do Pai Celestial. Enquanto o pródigo mostra o modo como homens e mulheres embarcam em uma vida de excessos para satisfazerem os desejos de sua carne, o filho mais velho mostra a justiça própria e a moralidade sem amor como um outro caminho de perdição, tão perigoso quanto, mas que infelizmente é seguido por muitos, dentro e fora da igreja.


O que a Escritura fala sobre o filho mais velho?


Segundo lemos na parábola, o filho mais velho recebeu parte da sua herança, assim como o filho mais novo (Lc 15.12). Contudo, diferente do seu irmão, ele permaneceu na fazenda, tocando a vida com os seus afazeres. Veja que é notável no texto não ter acontecido nenhuma interação sua com o irmão, o que talvez demonstre indiferença em seu relacionamento.


Quando o caçula volta, arrependido, ele ouviu o barulho da festa e, curioso, quis saber do que se tratava. Ao tomar ciência dos fatos, toda a maldade do seu coração veio a tona como a erupção de um vulcão:


E o seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou, e não queria entrar. Lucas 15:25-28

O pai, ao tomar ciência do que se passava com o seu filho mais velho, o procurou para reconciliá-lo. As cenas que se seguem são dignas de um filme de Hollywood.


E saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos; Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado. Lucas 15:29,30

Eu esperava ver alegria pelo irmão que voltou. Mas vi desprezo. Busquei palavras de compaixão, mas o que encontrei foi ódio. Tentei achar algum resquício de afinidade familiar, mas parecia estar vendo uma disputa entre estranhos. Busquei graça, mas encontrei apenas justiça própria.


A infeliz comparação do irmão mais velho resumia-se no seguinte ponto: "o teu filho pecador merece juízo e desprezo, e eu, que sou o seu filho correto e responsável, mereço o seu favor". Essa é a religião da justiça própria. É a fé praticada por boa parte dos seres humanos: "eu não roubo, não bebo, não jogo e não fumo. Eu mereço o favor de Deus".


Esses irmãos mais velhos estão por aí. Inclusive dentro das igrejas...



A justiça própria é o maior problema do ser humano



No contexto da parábola do filho pródigo, o irmão mais velho representa os fariseus, que julgavam-se merecedores do Reino de Deus e que desprezavam os demais por não serem tão bons quanto eles. Para os tais, era inconcebível a mensagem libertadora de Jesus, que oferecia perdão a publicanos, prostitutas, gentios e outros grupos que eles jugavam não serem merecedores de salvação.


Esse conceito de autojustificação apareceu primeiro no Éden. Quando Adão desobedeceu o mandamento de Deus e cobriu sua vergonha com folhas de figueira, ele estava demonstrando que desejava cobrir seus pecados sem contar com a graça de Deus. Como sabemos pelo texto, Deus reprovou aquelas vestes improvisadas e ofereceu a Adão a única forma de cobrir a vergonha do pecado: no sacrifício de uma vítima inocente, a vergonha do homem poderia ser coberta.


Desde então, parte dos filhos de Adão seguem cometendo o mesmo erro, desprezando a Deus e buscando na justiça própria uma forma de aplacar a sua consciência agitada. Você percebe esse mal corroendo a alma dos homens dentro e fora do ambiente da igreja. Vejamos!


Fora do contexto religioso, a justiça própria leva os homens a buscarem caminhos de virtude como uma justificativa para não se renderem a Deus. Veja hoje a quantidade de pessoas afirmando: "eu sou melhor do que muitos crentes", ou "eu estou fazendo o que a igreja não faz". Quando alguém começa a vociferar tais coisas, o fétido cheiro da justiça própria chega às narinas de Deus, como um clamor: "eu não preciso de Deus". Pobres coitados! Seu engano os levará a uma ardente condenação!


Pois, não reconhecendo a justiça que vem de Deus e buscando estabelecer a sua própria, não se submeteram à justiça de Deus. Romanos 10.3

A justiça própria na igreja


O problema é que no contexto religioso, a justiça própria pode encontrar um excelente terreno para crescer e sufocar a obra de Deus, quando pessoas que estão nas igrejas e ainda não compreenderam a natureza do Reino de Deus começam a se comportar como irmãos mais velhos. Infelizmente, comunidades inteiras de cristãos são repletas dessas pessoas que ainda não entenderam o evangelho de Jesus Cristo.


"Nossa, esse endemoninhado vai querer frequentar nossa igreja?". "Chegou ontem e o pastor já quer dar oportunidade?". "Se o pastor soubesse como é essa irmã lá fora". "Eu estou aqui desde o começo, eu tenho direito de fazer o que eu bem entendo". "Ninguém na igreja ora o tanto que eu oro". Já ouviu uma dessas? Frases que ouvimos em muitos lugares por onde passamos. Frases que caracterizam os irmãos mais velhos nas igrejas.


Quando a Igreja abandona a pregação do evangelho e se torna meramente uma voz moralizadora, ela não produz discípulos de Cristo, mas "irmãos mais velhos" que poderão ser mais dignos do inferno do que os pecadores que estão fora dela. Isso porque tendo a Bíblia como testemunho de que o evangelho é a oferta graciosa da justiça de Deus para os que não merecem recebê-la, julgam-se donos de Cristo, donos do Reino, donos da Igreja e donos do próprio céu. Muitas pessoas foram feridas por "irmãos mais velhos" e hoje, já não conseguem enxergar na igreja a graça de Cristo. Temos uma responsabilidade diante de Deus de jamais deixarmos nosso coração se embriagar com a justiça própria. E para isso acontecer, precisamos beber diariamente das fontes da salvação.


Como se curar da justiça própria?


Se você entendeu que tem agido como um irmão mais velho na igreja, precisa reconhecer seu pecado, confessá-lo diante de Deus e pedir a Ele que converta o seu coração ao puro evangelho da graça de Deus. Deixarei aqui algumas porções da Escritura que lhe ajudarão nesse processo.


Primeiro, traga a memória que a salvação é pela graça e que, portanto, ninguém jamais pode merecê-la.


Vocês são salvos pela graça, por meio da fé. Isso não vem de vocês; é uma dádiva de Deus. Não é uma recompensa pela prática de boas obras, para que ninguém venha a se orgulhar. Efésios 2:8,9

Segundo, reconheça que a salvação é resultado da obra consumada por Cristo na cruz do Calvário e que por essa obra, Deus credita em nós a sua justiça, perdoando os nossos pecados e nos justificando em Sua presença;


Pois ninguém será declarado justo diante de Deus por fazer o que a lei ordena. A lei simplesmente mostra quanto somos pecadores. Agora, porém, conforme prometido na lei de Moisés e nos profetas, Deus nos mostrou como somos declarados justos diante dele sem as exigências da lei: somos declarados justos diante de Deus por meio da fé em Jesus Cristo, e isso se aplica a todos que creem, sem nenhuma distinção. Pois todos pecaram e não alcançam o padrão da glória de Deus, mas ele, em sua graça, nos declara justos por meio de Cristo Jesus, que nos resgatou do castigo por nossos pecados. Romanos 3:20-24

Terceiro, lembre-se de que outrora, eu e você estávamos debaixo da ira de Deus como qualquer outro pecador da face da terra. A mesma misericórdia que nos foi dada pode ser oportunizada para qualquer outra pessoa que Deus escolher para si.


Vocês estavam mortos por causa de sua desobediência e de seus muitos pecados, nos quais costumavam viver, como o resto do mundo, obedecendo ao comandante dos poderes do mundo invisível. Ele é o espírito que opera no coração dos que se recusam a obedecer. Todos nós vivíamos desse modo, seguindo os desejos ardentes e as inclinações de nossa natureza humana. Éramos, por natureza, merecedores da ira, como os demais. Mas Deus é tão rico em misericórdia e nos amou tanto que, embora estivéssemos mortos por causa de nossos pecados, ele nos deu vida juntamente com Cristo. É pela graça que vocês são salvos! Efésios 2:1-5

E por fim, lembre-se de que como cristãos, devemos ser proclamadores da misericórdia divina. Não devemos colocar filtros na graça de Deus, não podemos fechar o céu para ninguém e não podemos recusar o perdão a nenhum pecador arrependido. A graça de Deus se manifestou trazendo salvação indistintamente.


Portanto, em tudo que disserem e fizerem, lembrem-se de que serão julgados pela lei que os liberta. Não haverá misericórdia para quem não tiver demonstrado misericórdia. Mas, se forem misericordiosos, haverá misericórdia quando forem julgados. Tiago 2:12,13

Felizes os misericordiosos, pois serão tratados com misericórdia. Mateus 5:7


Conclusão


A parábola do filho pródigo termina de modo abrupto, sem que tenhamos a notícia da reconciliação dos irmãos. Somente no céu saberemos se o irmão mais velho entrou ou não na festa de seu irmão. E isso é um desafio para mim e para você: se permanecermos vestidos com a nossa justiça própria e fazermos da nossa soberba um impedimento para transmitirmos graça aos arrependidos que procuram ajuda e salvação, nós também poderemos acabar do lado de fora da festa.


“O pai lhe respondeu: ‘Meu filho, você está sempre comigo, e tudo que eu tenho é seu. Mas tínhamos de comemorar este dia feliz, pois seu irmão estava morto e voltou à vida. Estava perdido e foi achado!’”. Lucas 15:31,32

Que Deus, por meio do Seu Espírito, ilumine nossos olhos espirituais para enxergarmos a nossa triste condição sem Cristo e para percebermos que toda e qualquer virtude que existir em nossas vidas vem somente dEle. Que Ele nos ajude a renunciarmos nossa justiça própria e nos apegarmos com firmeza à justiça que Ele nos revelou, aquela que provém da fé na morte e na ressurreição de Jesus, para sermos perdoados de nossos pecados e participarmos de Sua promessa de vida eterna.


Que Ele te abençoe!



Pastor Sérgio Fernandes

Pastor Titular da Igreja Pentecostal Reformada




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