Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti; Lucas 15:18
Introdução
Na mensagem anterior, "O Deus da Família", introduzi a série de reflexões sobre a parábola do Filho Pródigo demonstrando como todo o plano de Deus a respeito da redenção se passa no palco das famílias da terra. Assim como o pecado entrou no mundo por um homem (Gn 3), em um ambiente familiar, o Messias nasceu de uma mulher, também em um núcleo familiar (Mt 1).
Nesta segunda mensagem da série, me concentrarei na figura do filho pródigo e do modo como a parábola demonstra dois princípios espirituais: 1) o pecado, mais do que um ato praticado, é qualquer movimento humano que o distancie da glória de Deus, mesmo que tenha aspecto virtuoso; 2) uma parte da humanidade fará sua jornada para longe do Pai Celestial através de uma busca desenfreada por prazeres e autossatisfação.
Espero que essa reflexão acenda em seu coração um desejo profundo por não percorrer a jornada do pródigo, mas em sentir-se amado e satisfeito na presença do Pai Celestial, onde há abundância de alegria!
O que significa a palavra pródigo?
A palavra pródigo não aparece no texto bíblico, mas no título da seção dos versos em estudo. Em nosso português, a expressão tem dois significados distintos, sendo que o primeiro deles identifica perfeitamente a natureza do filho mais novo: "o que dissipa seus bens, que gasta mais do que o necessário; gastador, esbanjador, perdulário".
O que o pródigo almejava?
Conforme lemos no texto bíblico, o filho mais novo possuía uma inclinação natural para uma busca desenfreada por prazeres. O que teria causado esse desequilíbrio nos seus valores? A ausência da mãe? A falta de amor do irmão? A necessidade de afirmação? Não sabemos. Mas temos registrado na Escritura o seu pedido ao pai:
E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda. Lucas 15:12
O moço tinha consciência de que só poderia usufruir do seu direito pela propriedade do pai com a morte dele. Contudo, o pai aceita a solicitação e divide entre os filhos a parte que lhes era devida, dois terços ao primogênito e um terço ao mais novo. Com os recursos disponíveis para dar cabo do seu plano infeliz, o filho pródigo parte para uma jornada em busca de autossatisfação, mergulhando em toda forma de paixão carnal e vivendo de modo dissoluto:
E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente. Lucas 15:13
Ele sabia que sua sede por prazer desagradava seu pai, por isso, ele viaja para longe. Ali, sem os freios morais que possuía em sua casa, ele desperdiça mais seus bens, mas a sua própria vida, deixando-se escravizar por uma busca desenfreada por satisfação e prazer, que nós leitores do texto sabemos, será incapaz de preencher o vazio do seu coração.
Buscar o prazer não é pecado
É importante pararmos um pouco para refletirmos sobre um fato que permeia a história do filho pródigo: ele possuía uma inclinação natural para entregar-se de modo inconsequente aos prazeres dessa vida. Contudo, Deus, que é a fonte de todo prazer verdadeiro, não priva o homem de buscar satisfação nessa vida; o problema surge quando o prazer se torna tirano e passa a nos escravizar em um espiral sem fim de excessos que não rendem glórias a Deus. Vejamos o que a Bíblia diz a esse respeito:
Desfrutar do fruto de nosso trabalho é dom de Deus
Não há nada melhor para o homem do que comer e beber, e fazer com que sua alma goze do bem do seu trabalho. Também vi que isto vem da mão de Deus. Eclesiastes 2:24
Constituir família para desfrutarmos da benção da intimidade conjugal, também!
Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade. Provérbios 5:18
Celebrar com festa a comunhão que temos com Deus, também!
Naquele dia, comeram e beberam com grande alegria na presença do Senhor. Então pela segunda vez proclamaram Salomão, filho de Davi, como rei, ungindo-o diante do Senhor como soberano, e Zadoque como sacerdote. 1 Crônicas 29:22
Quando buscamos o prazer lícito e partilhamos dele, estamos de alguma expressando nossa alegria pela bendita providência de Deus e, ao mesmo tempo, nos preparando para o perfeito estado eterno, que será uma realidade de prazer sem fim. Glória a Deus!
A redefinição do pecado
Por isso, uma das interessantes lições que a parábola do filho pródigo nos traz é que o pecado é muito mais do que os erros que eu cometo, mas qualquer movimento que dou que pode me afastar da presença do Pai Celestial. Mesmo quando transito apenas em hábitos que são socialmente aceitos, posso estar pecando gravemente contra Deus.
Netflix não e pecado. Mas se você passa mais tempo na TV do que em comunhão com Deus, o televisor virou seu ídolo e você está pecando! Ter sucesso não é pecado. Mas se na busca pelo sucesso você abre mão de estar com Deus e não partilha do que possui para diminuir a dor de alguém, o dinheiro virou seu deus e você está pecando.
Além disso, perceba que o pecado possui um poder de atração tão forte que ele é capaz de transformar as dádivas de Deus em ferramentas de corrupção. Veja que a mesma Bíblia que recomenda ao homem desfrutar sua vida com responsabilidade, na presença de Deus, orienta que estes mesmos prazeres podem se tornar um meio de nos afastar de Nosso Pai Celestial.
O prazer do sucesso material pode desencadear o pecado da cobiça
Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. 1 Timóteo 6:10
O prazer da intimidade conjugal pode desencadear a impureza sexual
Fujam da imoralidade sexual. Todos os outros pecados que alguém comete, fora do corpo os comete; mas quem peca sexualmente, peca contra o seu próprio corpo.1 Corintios 6.18
O prazer de festejar pode levar aos pecados da glutonaria e da embriaguez
porque cada um come sua própria ceia sem esperar pelos outros. Assim, enquanto um fica com fome, outro se embriaga. Será que vocês não têm casa onde comer e beber? Ou desprezam a igreja de Deus e humilham os que nada têm? Que lhes direi? Eu os elogiarei por isso? Certamente que não! 1 Coríntios 11:21,22
O filho pródigo é um retrato de Romanos 1
Na sua busca desenfreada por prazeres, o filho pródigo perdeu tudo o que possuía: perdeu seu lar, a companhia do pai, os recursos que recebeu do pai, os amigos de conveniência. Em sua jornada longe de Deus ele começa rico, mas termina pobre. Seu triste destino o leva a desejar comer a comida dos porcos. Assim é a vida de todos aqueles que, desprezando o conhecimento de Deus, se lançam em um salto em queda livre para longe do Pai Celestial, entregando-se a tudo aquilo que o Nosso Pai odeia! O fim destes, se não se arrependerem, é a morte eterna!
Além do mais, visto que desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem o que não deviam. Tornaram-se cheios de toda sorte de injustiça, maldade, ganância e depravação. Estão cheios de inveja, homicídio, rivalidades, engano e malícia. Romanos 1:28,29
O filho pródigo cai em si
Certamente, há muito o que reprovar nas atitudes e escolhas feitas pelo filho pródigo. O texto, contudo, é repleto de graça: uma ação invisível parece soprar vida naquele coração endurecido pelo pecado, a fim de trazê-lo ao arrependimento. Em um relance sobrenatural, várias memórias povoam a mente do pródigo e ele sente falta de seu lar:
E, tornando em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti; Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros. Lucas 15:17-19
O sopro de graça que esse texto nos proporciona é sublime! Embora a humanidade sofra escravizada pelo pecado, há um Pai Celestial trabalhando para atrair para si homens e mulheres, de toda raça, povo, língua e nação. E quando sua graça irresistível opera, aqueles que se encontram cansados e sobrecarregados vem amorosamente buscar salvação na presença de Cristo Jesus!
Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Mateus 11:28
Estes pecadores vêm não porque quiseram a Deus, mas porque Deus os escolheu para si e os atraiu:
Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. João 6:37
E quando chegam à presença do Pai por intermédio da morte e da ressurreição de Jesus Cristo, estes pecadores são perdoados e recebem uma nova vida, que durará para sempre:
Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés; E trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos; Porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se. Lucas 15:22-24
E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia. João 6:39
Conclusão
Uma parte dos pormenores da história do pródigo eu deixarei para a última reflexão dessa série. Basta para mim demonstrar pelo texto que entre aqueles de nossa raça que se lançam em uma vida sombria de pecados e dissolução, paira a esperança do evangelho da graça, que oferece perdão e salvação para aqueles que, arrependidos de seus pecados, se voltam para Deus de todo o coração!
Talvez essa seja a sua realidade: uma vida escravizada por uma busca desenfreada por prazeres que não são capazes de preencher o vazio do seu coração. Nossa alma possui um vazio do tamanho de Deus! Dele viemos e somente nEle encontraremos salvação e perfeita satisfação! Volte-se para Cristo! Contemple-o na cruz sangrando para perdoar os seus pecados! Abra seus olhos espirituais e perceba a graça que lhe é oferecida, e abrace-a com fé, porque aquEle que há de vir virá e não tardará!
Ahhhh, é vale um pequeno adendo: nós, que já fomos iluminados pela graça de Deus e resgatados de nossa vã maneira de viver, Deus determinou que vivamos a nossa vida em Sua presença! Devemos desfrutar de todo o bem e de todas as dádivas que Ele nos proporciona, vivendo com moderação, pureza e santidade, para que não venhamos cair de volta na lama de onde Ele nos tirou! Que o Espírito nos ajude a não sermos pródigos errantes, mas servos prontos para atender o chamado do Pai, que deseja restaurar cada um dos filhos que voltam! Aleluia!
Pastor Sérgio Fernandes Pastor Titular da Igreja Pentecostal Reformada