Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. O que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu. Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai. Mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar. Romanos 14:2-4
Introdução
Esta é a última mensagem da série #Koinonia. E talvez seja a mais difícil.
Nestes quase dezesseis anos pastoreando igrejas, uma das coisas que aprendi é que o povo de Deus é sempre tentado em se apegar com coisas secundárias, ferindo com isso a sua unidade espiritual.
Ministrar essa palavra hoje tem uma importância muito grande. Acabamos de participar da assembleia de membros e da ceia do Senhor. Estamos crescendo como comunidade. E para garantirmos a boa manutenção da nossa comunhão, fortalecer três ideais bíblicos que fazem parte de nossos valores locais é de vital importância. São eles:
A Liberdade de Consciência
A Responsabildade Pessoal
A Tolerância com os irmãos
O desafio da maturidade espiritual envolve crescermos nesses valores acima para sermos os "elos fortes" que mantém a unidade da igreja firme.
Se formos maduros para lidar com essas questões, não perderemos tempo nem energia com assuntos que são secundários na fé.
Espero na graça do Senhor que possamos crescer e praticar o que aprenderemos hoje, para a glória do nome de Jesus!
a Liberdade DE CONSCIÊNCIA
O fato de sermos uma igreja bíblica, não proibicionista, pode levar alguns irmãos a pensarem que defendemos a autossatisfação em detrimento dos valores éticos e morais que existem no cristianismo. Jamais defenderíamos algo dessa natureza.
Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão. Gálatas 5:1
Como já mencionamos anteriormente em outras mensagens, a liberdade cristã se trata, primariamente, do fato de que o cristão não se submete mais à lei mosaica ou a tradições humanas, mantendo sua consciência cativa somente a Palavra de Deus, exercendo essa liberdade para obedecer a Deus e servir uns aos outros em amor.
Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor. Gálatas 5:13
Essa liberdade nos habilita a vivermos toda a nossa vida para a glória de Deus (1 Co 10.31), tendo nossa consciência cativa somente à mensagem das Escrituras. Entendemos com isso que não devemos nos submeter ao jugo de escravidão resultante de tradições e doutrinas de homens.
Nós somos livres em Cristo para expressarmos nossas individualidades dentro dos claros limites apresentados na Escritura.
Isso significa que devemos reconhecer as coisas boas da vida como dádivas divinas, e desfrutar delas para a glória de Deus, dando ao Senhor graças por tudo!
Essa verdade, obviamente, me colocará diante de exercícios de liberdade que serão diferentes de cristão para cristão.
Por isso, ela sempre deve ser dosada com amor.
No que se refere às coisas sacrificadas a ídolos, sabemos que todos temos conhecimento. O conhecimento leva ao orgulho, mas o amor edifica. 1 Coríntios 8:1
Perceba que, à luz das Escrituras:
A minha liberdade nunca pode lançar tropeço à um irmão mais fraco na fé
Ora a comida não nos faz agradáveis a Deus, porque, se comemos, nada temos de mais e, se não comemos, nada nos falta. Mas vede que essa liberdade não seja de alguma maneira escândalo para os fracos. 1 Coríntios 8:8,9
Em temas sensíveis, é sempre melhor o exercício da liberdade de forma privada, preservando a consciência dos mais fracos na fé
Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça. Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova. Romanos 14:21,22
É papel da igreja discipular e instruir os fracos na fé, para que pela palavra deus, a sua consciência seja fortalecida e eles deixem a meninice espiritual e se tornem maduros para servir a Deus e lidar com a liberdade do seus irmãos
Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal. Hebreus 5:13,14
A liberdade cristã não é libertinagem. É a capacidade de transitar pela vida hodierna amando a Deus, servindo ao próximo e sem nos contaminarmos com o sistema maligno que rege nosso mundo.
Uma Igreja que vive profundamente a liberdade cristã é poderosa para ministrar a um mundo marcado pela escravidão do pecado e pela tirania dos prazeres. Esse é o nosso alvo como comunidade cristã.
A RESPONSABILIDADE PESSOAL
Entendemos como responsabilidade pessoal o fato de que somos responsáveis por nossa vida cristã, sendo necessário fazermos nossas escolhas com temor e sabedoria, pensando sempre:
em nossa posição perante Deus
e diante da comunidade a qual pertencemos,
assumindo toda a responsabilidade por esse decisões. Afinal, cada um de nós prestará contas a Deus da vida que viveu.
Assim, pois, cada um de nós prestará contas de si mesmo diante de Deus. Romanos 14:12
Vivemos em uma geração marcada por anos e anos de educação vitimizadora, onde as pessoas não são capazes de assumir responsabilidades. Vivemos a era de adultos infantilizados que se vitimizam o tempo todo.
Tudo é culpa do outro. Queremos atribuir nossos fracassos pessoais àqueles que não nos ajudaram, à política e as circunstâncias que nos rodeiam.
De fato, pode ser que todas essas variáveis existam! Mas Deus está conosco!
O cristão não pode ser um picolé de chuchu. Ele precisa ter hombridade, assumindo responsabilidades e enfrentando os dilemas da vida com fé, esperança e amor no coração!
Por isso:
Trabalhe e não seja pesado para ninguém, 2 Ts 3.8
Não dê mau testemunho do evangelho, Lc 17.1;
Assuma responsabilidade diante de Deus, 2 Co 5.10;
Esforce-se para crescer em Cristo, Fp 2.12;
Vida de modo agradável a Deus e aos homens, Rm 14.18;
Coma e beba para glória de Deus, 1 Co 10.31;
Mas que cada um examine o seu próprio modo de agir e, então, terá motivo de gloriar-se unicamente em si e não em outro. Porque cada um levará o seu próprio fardo. Gálatas 6:4,5
Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. 1 Coríntios 11:28
Cristãos responsáveis são poderosos instrumentos que Deus usa para fortalecer a comunhão da igreja. Uma comunidade emancipada, com membros responsáveis e se esforçando para darem o seu melhor por Cristo não perderão tempo ou gastarão energias com trivialidades e discussões inúteis.
Nossa vida pertence a Deus e devemos dar o nosso melhor para honrar o sangue que Cristo derramou por cada um de nós!
Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor. Romanos 14:7,8
A Tolerância com os irmãos
Aqui reside nosso maior desafio: viver a liberdade de consciência como membros responsáveis do corpo de Cristo nos colocará diante da verdade de que não somos iguais uns aos outros.
Paulo percebeu que isso poderia gerar um risco na comunhão fraterna da igreja e dedicou todo o capítulo 14 de Romanos pra tratar desses assunto.
O fato de termos diferentes histórias de vida, formação e educação distintos nos levarão a diferentes perfis liberdade e de renúncias pessoais por causa do evangelho. Alguns exemplos eu enumero abaixo:
Irmãos que conviveram com problemas de infidelidade conjugal podem optar por serem reclusos e cultivarem comunhão somente com membros da própria família;
Irmãos que vieram de igrejas proibicionistas podem ter dificuldade em lidar com cristãos que não vivem conforme a tradição que eles tinham em suas igrejas de origem;
Irmãos que tiveram problemas com pornografia podem necessitar abdicar de consumirem livros, filmes e séries para não ativarem gatilhos que os levem de volta a esse pecado;
Irmãos que viveram vidas no alcoolismo podem se sentir constrangidos com cristãos que consomem pontualmente e moderadamente bebidas alcoólicas;
Todas essas questões devem ser tratadas no âmbito da tolerância entre os irmãos. A tolerância cristã é a necessidade que temos de suportar nossas diferenças em assuntos que não são essenciais à nossa fé.
A tolerância cristã a construção de nossa unidade baseada não em comportamentos, tradições ou preferências teológicas, mas na fé comum que temos em Nosso Senhor Jesus Cristo.
Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. O que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu. Romanos 14:2,3
Embora possam divergir em assuntos não essenciais, todos os cristãos foram eleitos pelo mesmo Pai, redimidos pelo mesmo Cristo e regenerados pelo mesmo Espírito.
Dessa forma, se eu observo meu irmão exercendo sua liberdade em algo que não "cabe" em minha vida, mas que não fere princípios fundamentais da Palavra de Deus, eu não devo julgá-lo, mas compreendê-lo, amá-lo e aceitá-lo.
Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio Senhor ele está em pé ou cai. Mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar. Romanos 14:4
De igual modo, irmãos mais maduros não devem julgar aqueles que demonstram serem mais fracos ou zelosos nestas questões, uma vez que certamente eles agem assim preocupados em melhor servir a Deus.
Quem adora a Deus num dia especial o faz para honrá-lo. Quem come qualquer tipo de alimento também o faz para honrar o Senhor, uma vez que dá graças a Deus antes de comer. E quem se recusa a comer certos alimentos deseja, igualmente, agradar ao Senhor e por isso dá graças a Deus. Romanos 14:6
Deste modo, o caminho bíblico sempre é calar as disputas em temas não essenciais e crescer cada vez mais no amor a Deus e ao próximo, que é a finalidade do evangelho.
Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão. Romanos 14:13
Uma vez que nossa religião não é construída em torno de tradições mortas ou proibições tolas, mas no Cristo Vivo, que é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, devemos reger nossa liberdade e responsabilidade com amor e nas tensões eventuais que podem surgir, sermos tolerantes no trato e maduros para conciliar as diferenças em prol da nossa unidade espiritual!
Afinal, o Reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo!
Eu sei, e estou convencido com base na autoridade do Senhor Jesus, que nenhum alimento é por si mesmo impuro. Mas, se alguém considera errado ingerir determinado alimento, para essa pessoa ele é impuro. E, se outro irmão se aflige em razão do que você come, ao ingerir esse alimento você não age com amor. Não deixe que sua comida seja a causa da perdição de alguém por quem Cristo morreu. Desse modo, você não será criticado por fazer algo que, a seu ver, é bom. Pois o reino de Deus não diz respeito ao que comemos ou bebemos, mas a uma vida de justiça, paz e alegria no Espírito Santo. Romanos 14:14-17
conclusão
Como vimos, a construção da unidade espiritual de uma igreja e o fortalecimento de sua 'Koinonia' são resultado direto da graça de Cristo em favor do Seu povo, que forma uma comunidade de pecadores que são livres pela fé, responsáveis diante de Deus e tolerantes com as diferenças que existem entre eles.
Todos nós, pela fé, nos reunimos diante da cruz de Nosso Senhor! Embora sejamos tão diferentes e ainda tão incompletos, estamos sendo aperfeiçoados em Cristo e crescendo juntos, para a glória de Nosso Deus!
É esse amor que fortalece o anúncio do evangelho da graça de Deus!
Quando a sociedade observa a rica diversidade da igreja e o amor que temos uns pelos outros, ela percebe com clareza que Deus está no nosso meio!
Nosso Senhor morreu na cruz por nossos pecados e ressuscitou verdadeiramente ao terceiro dia. E Ele não passou por isso para ficarmos discutindo trivialidades, mas para amarmos a Ele e também uns aos outros!
Eu lhes dou um novo mandamento:que vocês amem uns aos outros. Assim como eu os amei, que também vocês amem uns aos outros. Nisto todos conhecerão que vocês são meus discípulos: se tiverem amor uns aos outros. João 13:34,35
Que a estrada do amor seja a rota que trilhamos dia após dia para cultivarmos a 'koinonia' em nosso meio. Nos ajude Senhor, a crescermos diariamente em nossa unidade espiritual!
Pastor Sérgio Fernandes
Pastor Titular da IPR
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