E Isaque orou insistentemente ao Senhor por sua mulher, porquanto era estéril; e o Senhor ouviu as suas orações, e Rebeca sua mulher concebeu. Gênesis 25:21
Introdução
Uma preocupação recorrente que possuo é com respeito da comunicação da fé aos dois filhos que o Senhor me deu. Entendo, como cristão reformado, que a salvação deles é um assunto que será resolvido entre eles e Deus, mas como pai, é meu papel transmitir às minhas crianças a mensagem completa do evangelho, para que eles sintam o peso dos seus pecados e reconheçam a Cristo como Senhor e Salvador.
Quando o assunto é a formação dos filhos, trazê-los para a igreja não é o suficiente. Nossas crianças devem observar em nossas vidas um amor sincero pelo Senhor Jesus Cristo, devem orar conosco nos momentos familiares, devem aprender a valorizar a obra da cruz e a honrarem ao Senhor por sua dádiva imerecida. Falha o casal que terceiriza a educação dos filhos e falha miseravelmente o casal cristão que nunca pregou "todo o conselho de Deus" para seus filhos.
Essa pequena introdução é necessária, uma vez que a partir de agora, Isaque será o foco de poucas, porém muito importantes, ministrações da série "Origens". Este homem precisou aprender, na prática, que não poderia viver da fé seu pai e que ele próprio necessitava viver à altura da aliança, procurando amar, honrar e buscar ao Senhor de todo o coração. Como se tornaria um dos patriarcas, ele precisava, como Abraão, viver uma vida piedosa e de profunda confiança no Senhor. Falaremos sobre isso nessa reflexão.
O último pedido de Abraão
Um pouco antes de sua morte, Abraão pediu a seu servo Eliézer que voltasse à sua terra natal para ali buscar uma esposa para seu filho Isaque. A necessidade por trás do pedido girava em torno daquilo que Deus havia prometido: a descendência de Abraão abençoaria as famílias da terra. Isaque era o primeiro passo firme da concretização desse plano, mas o próprio Isaque também deveria gerar seus descendentes.
E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. Gênesis 12:3
Porém Deus disse a Abraão: Não te pareça mal aos teus olhos acerca do moço e acerca da tua serva; em tudo o que Sara te diz, ouve a sua voz; porque em Isaque será chamada a tua descendência. Gênesis 21:12
A esposa de Isaque deveria ser uma moça da linhagem de Sem e não das filhas de Canaã. Abraão sabia que os descendentes de Sem eram abençoados por Deus e os de Cam, amaldiçoados.
Como um pai zeloso, Abraão queria manter Isaque unido ao povo de Deus, uma preocupação que deve ser a de cada um de nós que estamos criando filhos para o Senhor. A nossa lealdade com Deus nos pede que nos relacionamos com pessoas que possuem a mesma fé, o mesmo Senhor e os mesmos princípios que temos, para não sermos colocados em uma situação desconfortável em nossa unidade familiar. Namoro e casamento não deve ser encarado como estratégia de evangelização.
E disse: Maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos. E disse: Bendito seja o Senhor Deus de Sem; e seja-lhe Canaã por servo. Gênesis 9:25,26
Não se ponham em jugo desigual com descrentes. Pois o que têm em comum a justiça e a maldade? Ou que comunhão pode ter a luz com as trevas? Que harmonia entre Cristo e Belial? Que há de comum entre o crente e o descrente? 2 Coríntios 6:14,15
A história bíblica nos conta ao longo de Gênesis 24 que Eliézer, em oração e direcionado pelo Senhor, teve sucesso em encontrar uma esposa para Isaque. Ao longo da história da igreja, é comum que alguns comentaristas façam a analogia nesse episódio demonstrando por ele "o Espírito indo buscar uma esposa para Cristo", mas como afirmarmos anteriormente em outras mensagens, alegorias podem ser usadas quando a Bíblia autoriza seu uso e, nesse caso, a intenção do autor é simplesmente demonstrar o zelo de Abraão de buscar entre a descendência abençoada de Sem uma esposa para seu filho, a fim de que nada o tirasse dos caminhos da piedade, algo que ele deveria insistir por ser parte da linhagem da promessa. Quando Rebeca finalmente foi apresentada a Isaque, eles se uniram diante do Senhor e Isaque foi consolado após a morte de sua mãe.
Certa tarde, saiu ao campo para meditar. Ao erguer os olhos, viu que se aproximavam camelos. Rebeca também ergueu os olhos e viu Isaque. Ela desceu do camelo e perguntou ao servo: "Quem é aquele homem que vem pelo campo ao nosso encontro? " "É meu senhor", respondeu o servo. Então ela se cobriu com o véu. Depois o servo contou a Isaque tudo o que havia feito. Isaque levou Rebeca para a tenda de sua mãe Sara; fez dela sua mulher, e a amou; assim Isaque foi consolado após a morte de sua mãe. Gênesis 24:63-67
a morte de abraão
No capítulo 25 de Gênesis, a Bíblia afirma que após a morte de Sara, Abraão casou-se com uma nova mulher, chamada Quetura, e teve filhos com ela. Aos 175 anos, em boa velhice, ele foi recolhido ao Senhor e sepultado por seus filhos na caverna de Macpela. Agora, com o fim do ciclo do primeiro patriarca, a benção de Deus é derramada sobre a vida de Isaque, que seria a continuidade da linhagem da promessa.
Depois da morte de Abraão, Deus abençoou seu filho Isaque. Isaque morava próximo a Beer-Laai-Roi. Gênesis 25:11
a Família de Isaque
Com a morte de Abraão, Isaque agora precisa viver com fé no Deus que se revelou a seu pai em Ur dos Caldeus. E ele próprio precisaria ter a sua experiência com Ele. Por mais virtuoso que seja um pai e mãe, nossos filhos precisam ter o seu próprio contato com o Pai Celestial.
Esta é a história da família de Isaque, filho de Abraão: Abraão gerou Isaque, o qual aos quarenta anos se casou com Rebeca, filha de Betuel, o arameu de Padã-Arã, e irmã de Labão, também arameu. Gênesis 25:19,20
Isaque sabia que a promessa do Senhor dizia respeito a uma descendência numerosa para Abraão. Mas o único que era contado até o momento era ele próprio, e uma pessoa somente não poderia ser considerada uma "descendência numerosa". Ele compreendeu, portanto, que deveria gerar filhos para que o plano de Deus fosse continuado. E nesse momento, ele se deparou com o seu primeiro desafio espiritual: sua esposa, Rebeca, era estéril. Ele tinha quarenta anos quando se casou com ela e a luz do texto bíblico, começou a orar para que sua esposa engravidasse.
Isaque orou ao Senhor em favor de sua mulher, porque era estéril. O SENHOR respondeu à sua oração, e Rebeca, sua mulher, engravidou. Gênesis 25:21
Assim como Isaque nasceu mediante a promessa, seus filhos, da mesma forma, seriam gerados de modo sobrenatural, mediante o poder de Deus curando o ventre de Rebeca. Seriam filhos da promessa, assim como ele mesmo foi.
Aqui, perceba que a oração de Isaque não visava primariamente atender um desejo pessoal seu de ser pai, mas sim o de cumprir com o próprio plano de Deus de abençoar as famílias da terra pela descendência prometida. Neste ponto cabe a nós um momento particular de reflexão.
A oração é uma das maiores dádivas que foi conquistada por nós na cruz. Quando miseráveis pecadores e inimigos de Deus são reconciliados com Ele pela morte de Cristo na cruz, o propósito por trás dessa obra não é simplesmente trazer mortos de volta à vida, mas a de formar uma família para o Pai Celestial. Nós fomos salvos para a comunhão com Deus, essa é a natureza da reconciliação, um dos aspectos mais belos da doutrina bíblica da salvação.
Não apenas isso, mas também nos gloriamos em Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, mediante quem recebemos agora a reconciliação. Romanos 5:11
A oração é a expressão visível da reconciliação. Falamos com Deus porque temos interiormente a certeza de que a inimizade que tínhamos com Ele foi removida, uma vez que Cristo pagou o preço para nos perdoar de nossos pecados! Por isso, o povo da aliança deve orar ao Senhor recorrentemente, e essa oração deve visar, primordialmente, construir o nosso relacionamento com o Deus de Pactos e nos adequar à sua vontade soberana.
Para muitos cristãos, orar resume-se a pedir coisas para Deus. A oração bíblica, contudo, refere-se a compreender o coração de Deus, aceitar a Sua vontade para nossas vidas e fazê-la se cumprir na terra, da mesma forma que ela é cumprida no céu. Foi isso que Jesus nos ensinou na oração modelo, que os cristãos carinhosamente chamam de Pai Nosso.
Vocês, orem assim: ‘Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia. Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém’. Mateus 6:9-13
Quando oramos, devemos buscar reconhecer a paternidade de Deus e a nossa posição privilegiada como filhos amados dEle. Devemos honrar o Seu nome com vidas santas e consagradas e sacrificarmos aos pés de Cristo nossas ambições egoístas e sonhos que não glorificam ao Senhor para que a vontade dEle se cumpra em nós! Devemos agradecer pela provisão e clamarmos por proteção contra a tentação e os poderes das trevas, reconhecendo o governo soberano e a Sua glória acima de toda a criação.
A oração cristã deve ser uma conversa entre um filho com o Seu Pai e não a leitura de uma lista de compras.
Como Isaque orou nos termos da promessa, querendo que a vontade de Deus se concretizasse em sua vida, Deus lhe atendeu. Mas há uma curiosidade no texto: não foi uma oração rapidamente respondida. Se Isaque começou a orar assim que se casou, foram longos vinte anos de oração até que Rebeca lhe desse filhos.
A oração é uma disciplina para corações que não são apressados.
E depois saiu o seu irmão, agarrada sua mão ao calcanhar de Esaú; por isso se chamou o seu nome Jacó. E era Isaque da idade de sessenta anos quando os gerou. Gênesis 25:26
A oração é o antídoto para todas as nossas aflições, já dizia João Calvino. Existem diversas ocasiões onde a oração deve ser o refúgio do cristão e na Escritura podemos perceber alguns exemplos de como essa disciplina ajudou homens piedosos a viverem nesse mundo conturbado:
Eu clamo pelo Senhor na minha angústia, e ele me responde. Salmos 120:1
Na sua aflição, clamaram ao Senhor, e ele os tirou da tribulação em que se encontravam. Salmos 107:28
O Senhor é bom, um refúgio em tempos de angústia. Ele protege os que nele confiam, Naum 1:7
Deem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus. 1 Tessalonicenses 5:18
O maior servirá ao menor
Rebeca foi atendida pelo Senhor e engravidou de gêmeos. A Bíblia afirma que os filhos lutavam dentro do seu ventre, o que gerou nela uma profunda preocupação. Ela então foi consultar ao Senhor, o que deve ser entendido como "buscar ao Senhor em oração". Assim como Deus respondeu a Isaque, Ele também falou ao coração de Rebeca. As palavras divinas foram deixadas a nós no texto bíblico:
E os filhos lutavam dentro dela; então disse: Se assim é, por que sou eu assim? E foi perguntar ao Senhor. E o Senhor lhe disse: Duas nações há no teu ventre, e dois povos se dividirão das tuas entranhas, e um povo será mais forte do que o outro povo, e o maior servirá ao menor. E cumprindo-se os seus dias para dar à luz, eis gêmeos no seu ventre. E saiu o primeiro ruivo e todo como um vestido de pêlo; por isso chamaram o seu nome Esaú. E depois saiu o seu irmão, agarrada sua mão ao calcanhar de Esaú; por isso se chamou o seu nome Jacó. E era Isaque da idade de sessenta anos quando os gerou. Gênesis 25:22-26
Isaque e Rebeca deveriam lidar com um particular desdobramento da promessa divina. Abraão teve diversos filhos, mas "em Isaque será contada a sua descendência". Agora, Isaque teve filhos gêmeos, sendo Esaú o primogênito. Mas a promessa não segue padrões e protocolos humanos e a descendência seria contada não dele, mas de Jacó, porque Deus disse que "o maior servirá o menor".
Embora os dois filhos tenham sido gerados "pela fé", somente um deles receberia a fé de salvação. Os dois nasceram no mesmo estigma do pecado, mas somente um seria vivificado. A um, Deus haveria de mostrar justiça, ao outro, misericórdia. Falaremos muito disso na próxima reflexão, mas deixo um lampejo do que a própria Escritura afirma a esse respeito:
Todavia, antes que os gêmeos nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má — a fim de que o propósito de Deus conforme a eleição permanecesse, não por obras, mas por aquele que chama — foi dito a ela: "O mais velho servirá ao mais novo". Como está escrito: "Amei Jacó, mas rejeitei Esaú". Romanos 9:11-13
Conclusão
Isaque haveria de aprender a andar lado a lado com Deus, assim como andou seu pai Abraão. E a sua história de fé começa quando ele ora insistentemente ao Criador pedindo que sua esposa, Rebeca, gerasse filhos segundo a promessa. Nosso Deus, o Deus da família, lhe atendeu e cumpriu-se em sua vida as palavras do Salmo 113.9.
Faz com que a mulher estéril habite em casa, e seja alegre mãe de filhos. Louvai ao Senhor. Salmos 113:9
Assim como Isaque, Jesus, o Filho de Deus, também foi um homem de oração. Em toda a sua vida ele pautou suas ações, decisões e milagres como um resultado natural à profunda vida de oração que Ele teve. Para trazer pecadores mortos de volta à vida, Jesus orou para que a sua Noiva, a Igreja, pudesse gerar filhos, que seriam reunidos à família de Deus. Essa oração está registrada no evangelho de João, capítulo 17. Destacarei alguns versos em especial.
Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus. João 17:9
"Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. João 17:20,21
Contudo, para poder ver sua oração atendida, Cristo precisou submeter-se à vontade do Seu Pai. E ainda orando, Ele aceitou beber do cálice da ira de Deus, esponjando sobre si todos os pecados e sofrendo a justa indignação do Deus Todo Poderoso! Agonizando na cruz, ele levou sobre si os pecados dos que foram eleitos para salvação!
Isaque orou para ter filhos, Cristo orou para que a ira de Deus fosse retirada dos filhos e derramada sobre Ele!
E, indo um pouco mais para diante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres. Mateus 26:39
A oração de Cristo foi atendida! Por essa oração, ele foi levado ao madeiro! Por ter orado a Deus, Ele sofreu angustiantes seis horas de dor e sofrimento dependurado em uma cruz romana, levando sobre seu corpo a ira de Deus, o castigo que nos trouxe a paz!
Que santa e bendita oração! Ele pediu paraa si a nossa maldição para nos dar a sua benção! Pediu para si a nossa morte para nos dar a sua vida! Pediu para si os nossos pecados para nos dar o seu perdão!
Para que por intermédio da Noiva, a Igreja, muitos filhos viessem ao Pai, o Filho de Deus que orou por nossa salvação fez uma sublime prece antes de morrer. Nessa oração, Ele nos mostrou a natureza da Sua obra e aquilo que, com oração, Ele conquistou para nós!
E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. Lucas 23:34
A morte de Cristo tornou a salvação uma obra real e concreta! Você pode receber esse perdão e salvação! Se o seu coração teme pelos seus pecados e você sabe que será julgado por um Deus santo, que não tem o culpado por inocente, corra ao abrigo da cruz! Lave seus pecados no sangue precioso de Jesus e clame por sua salvação! Só sente a dor e o peso dos próprios pecados aqueles por quem Cristo morreu! E se você necessita desse perdão e dessa salvação, o Cordeiro de Deus deu a vida por você!
Talvez você se sinta pequeno, indigno de receber essa dádiva imerecida, mas é assim que a salvação funciona. A graça não é a recompensa dos vencedores mas o dom gratuito oferecido a pecadores que merecem a sua condenação!
Quanto mais indigno você se sentir, mais perto da graça você estará! E Cristo orou para que você receba essa graça no coração! Não deixe a oração de Cristo sem resposta: entregue-se sinceramente àquele que deu a vida por você!
Que Cristo, Nosso Isaque, te abençoe!
Pastor Sérgio Fernandes
Pastor Titular da IPR
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