Filhinhos, guardem‑se dos ídolos. 1 Jo 5.21
INTRODUÇÃO
Nesta semana, conversando com uma profissional de coordenação pedagógica, falávamos sobre a comemoração do Dia dos Pais. Ela partilhou comigo sua decisão de não promover o evento a fim de não perpetuar o sofrimento de crianças que vivem em lares desfuncionais.
Ouvi sua explicação com empatia e atenção. Entendi que não era uma decisão simplesmente pedagógica, mas que havia uma forte inclinação de viés ideológico.
Na sequência, pedi a palavra e lhe falei:
"- Entendo ser essa uma alternativa a grave questão da ausência de paternidade na sociedade atual. Mas quando nos omitimos de celebrarmos a existência de bons pais, que se sacrificam pelos seus filhos, perdemos a oportunidade de ensinar aos meninos que eles podem fazer a diferença quando se tornarem adultos, formando-os como pais responsáveis".
Resultado: uma troca de olhares, um silêncio, e o fim abrupto da conversa.
A reflexão desse domingo encerra a primeira etapa da série "Doenças Eclesiásticas". Faremos uma pausa na próxima semana recebendo um pregador convidado e, depois, retomaremos nossas reflexões sobre problemas que adoecem igrejas locais.
Eu entendo que essa mensagem desempenhará um papel especial para nós, cristãos, em um ano onde teremos um novo pleito eleitoral no país.
Falar sobre política em uma sociedade polarizada é um desafio e tanto, principalmente quando o assunto, para alguns, situa-se no âmbito das vacas sagradas.
Por desejarmos, sinceramente, expressarmos da melhor forma os ideais do Reino de Deus, esse não pode ser um assunto periférico.
Ele precisa ser tratado com seriedade e sem filtros, para capacitarmos nosso povo não apenas para a defesa da fé, mas para um debate saudável e plural em uma sociedade radicalmente fragmentada.
Esse é o meu desafio de hoje. Analisar as Escrituras, identificar nelas o que Deus planejou para o governo humano e transmitir ao coração de vocês, esperando que o Espírito Santo nos ajude a não sermos contaminados pelo espírito desse tempo, tão impregnado por uma idolatria política diabólica e perversa.
GRAÇA COMUM E GOVERNO HUMANO
A Bíblia nos apresenta o fato de que Deus, graciosamente, provisiona seu amor e bondade para toda a humanidade, indistintamente, tanto para justos quanto injustos.
Esse conceito é conhecido por cristãos reformados como "graça comum".
Jesus falou sobre ela em um dos textos mais impactantes do evangelho de Mateus.
para que vocês venham a ser filhos do seu Pai, que está nos céus. Porque ele faz raiar o sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Mt 5.45
Uma das dádivas que a graça comum nos proporcionou foi o conceito de governo. Como seres sociais, precisamos compor estruturas onde existam leis que impeçam que o mal fique impune.
O governo humano é, reconhecidamente, um aspecto da graça comum e ele é ordenado e instituído por Deus.
"Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação." Rm 13.1,2
"Sujeitai-vos a toda autoridade humana por causa do Senhor, quer ao rei, como soberano, quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores e para louvor dos que praticam o bem." 1 Pe 2.13,14
O compromisso dos cristãos com o governo humano, contudo, é exercido na medida que esse governo corresponde aos ideais de Deus e do seu plano de redenção.
A partir do momento em que um governo adota posturas que contrariem os valores éticos do Reino de Deus, a própria Escritura orienta uma pacífica desobediência civil.
Tendo levado os apóstolos, apresentaram‑nos ao Sinédrio para serem interrogados pelo sumo sacerdote, que lhes disse: ― Demos ordens expressas a vocês para que não ensinassem neste nome. Contudo, vocês encheram Jerusalém com a sua doutrina e nos querem tornar culpados do sangue desse homem. Pedro e os outros apóstolos responderam: ― É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens! Atos 5.27-29
A Igreja, portanto, deve existir como uma comunidade que siga na contramão da cultura estabelecida. Ela deve ser altamente compromissada com a ética do Reino de Deus, somando com ações que promovam os ideais de Deus e denunciando estruturas injustas que promovem aquilo que Deus abomina, não através de um moralismo morto, mas pelo poder de uma vida irrepreensível.
POLÍTICA E COSMOVISÃO
Em meio às discussões sobre política, frequentemente tratamos as ideologias como meras estruturas de poder ou programas para organização da sociedade. No entanto, cada ideologia política — seja liberalismo, conservadorismo, socialismo ou qualquer outra — carrega dentro de si uma cosmovisão subjacente.
Não existe ideologia política neutra.
Eu preciso definir com vocês o significado da expressão 'cosmovisão' antes de continuar o sermão.
Cosmovisão é a forma como alguém enxerga e entende o mundo ao seu redor. Ela envolve as crenças e valores que uma pessoa tem sobre a vida, o universo, a natureza humana, o que é certo ou errado, e o sentido da existência. É como um "óculos mental" que influencia as decisões e a maneira de viver.
Todo ser humano possui uma cosmovisão, moldada por diversos fatores, como tradição, educação, influências familiares e a cultura em que está inserido.
A cosmovisão também é profundamente formada pela religião e pela ideologia política vigente.
Cristãos confessionais, como nós, entendem que a cosmovisão deve ser formada de acordo com a revelação que Deus faz de si mesmo nas Escrituras.
Na construção de nossa cosmovisão, reconhecemos ser verdade as afirmações abaixo:
Deus é o Criador Soberano A cosmovisão cristã começa com a crença em um Deus soberano, criador de todas as coisas e sustentador do universo.
"No princípio, Deus criou os céus e a terra." Gn 1.1
A Natureza Humana (Imago Dei e Queda) O ser humano foi criado à imagem de Deus, mas também está corrompido pelo pecado original, o que afetou a relação entre Deus e o homem.
"Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou." Gn 1.27 "Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus." Rm 3.23
Redenção em Cristo A cosmovisão cristã acredita que a solução para o pecado e o mal é a redenção que Deus providenciou por meio de Jesus Cristo, cuja morte e ressurreição trazem perdão dos pecados e salvação.
"Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que
todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16
"Pois pela graça vocês são salvos, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus;", Efésios 2:8
Revelação de Deus
A cosmovisão cristã acredita que Deus se revelou ao homem de forma especial, principalmente por meio das Escrituras.
Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, a fim de que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra. 2 Tm 3.16 Santifica-os na verdade, a Tua Palavra é a verdade, Jo 17.17
O Reino de Deus O cristianismo ensina que o Reino de Deus foi inaugurado com a vinda de Jesus e será plenamente estabelecido em Sua volta.
'Busquem, pois, em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas serão acrescentadas a vocês. Mt 6.33
Mas, de acordo com a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, onde habita a justiça. 2 Pe 3.13
O Destino Final (Julgamento e Vida Eterna) A cosmovisão cristã inclui a crença em um julgamento final e o destino eterno dos seres humanos, seja em vida eterna com Deus ou separação eterna Dele.
"E irão estes para o castigo eterno, porém os justos para a vida eterna." Mateus 25:46
O Propósito da Vida
Os cristãos são chamados a viver de acordo com os padrões de Deus, refletindo a santidade de Cristo em suas vidas.
"Pois está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.", 1 Pedro 1:16
Nenhum cristão minimamente informado sobre sua religião discordaria de qualquer uma das afirmações acima.
política e religião
Infelizmente, por falta de uma compreensão mais saudável das Escrituras Sagradas, muitos cristãos tem feito de sua escolha política a materialização da sua fé.
A idolatria política tornou-se tão forte que, para alguns cristãos, a religião só tem valor quando corresponde às ideias de seu espectro político favorito.
Paulo já precaveu os cristãos sobre o risco de se deixarem levar por filosofias terrenas ao invés da revelação que Deus dá a respeito de si mesmo nas Escrituras.
"Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo." Colossenses 2:8
Um cristão não desenvolve sua visão de mundo baseado em seu espectro político favorito, mas nas Escrituras.
Embora possam existir convergências de ideais cristãos em boa parte das ideologias políticas atuaais (afinal, a Palavra de Deus é a verdade), todas elas, se abraçadas indiscriminadamente, nos levarão adotarmos valores anticristão e que ofendem a santidade de Deus e que se tornarão ídolos perniciosos aos nossos corações.
Vamos analisar hoje três espectros políticos muito presentes em nossa cultura e a forma como eles podem convergir e/ou divergir da cosmovisão cristã.
Cristianismo e Conservadorismo
O conservadorismo é o espectro político adotado pela ampla maioria dos cristãos brasileiros. A afinidade dos valores conservadores social do catolicismo e com a ética protestante da liberdade individual faz dessa ideologia um chamariz natural para cristãos.
Mas ela apresenta pontos em sua cosmovisão que se contrastam com o cristianismo.
O conservadorismo favorece a liberdade religiosa, mas em sociedades conservadores que abraçam o capitalismo como modelo economico, ele pode colocar o sucesso econômico acima dos princípios espirituais.
O conservadorismo entende que a sociedade existe para favorecer a liberdade e a prosperidade, enquanto a Bíblia afirma que a sociedade deve glorificar a Deus e viver para Ele.
O conservadorismo reconhece, como a Bíblia, que a desigualdade é inevitável em uma sociedade decaída, mas tem dificuldades em propor soluções que promovam a justiça social, um elemento muito importante em nossa fé.
Que fique claro: conservadorismo não é o cristianismo materializado em espectro político.
Suas teses, embora encontrem alguma convergência com a nossa fé, não a representam em sua totalidade e podem levar a extremos ideológicos perigosos, como o famoso "bandido bom é bandido morto".
Cristianismo e PROGRESSISMO
O progressismo é o espectro político adotado por boa parte das gerações mais novas da sociedade. Sua ênfase na construção de justiça social atrai a atenção da geração nascida depois do milênio, que assistem com pessimismo a forma como a sociedade vem caminhando e acreditam que somente com um Estado muito forte, que regulamente os detalhes mínimos da vida, poderemos ter um mundo mais justo e igualitário.
O progressismo, como o conservadorismo, apresenta aspectos de cosmovisão significativamente distintos do cristianismo histórico.
O progressismo não favorece a liberdade religiosa, endossando que a fé deve ser vivida em âmbito particular. Isso vem levando sociedades a proibirem evangelização e impedirem cristãos de se manifestarem sobre temas considerados sensíveis.
No progressismo, a liberdade individual é subordinada ao bem coletivo. O governo assume o controle sobre vários aspectos da vida. O cristianismo afirma a liberdade individual plena e a vida para a glória de Deus.
No progressismo, o Estado assume o papel redentor, reconhecendo a disputa de classes como o mal que impede o florescimento da sociedade. Cristãos entendem que Deus é o Redentor e o problema da sociedade é o pecado.
O atual progressismo identitário tem tentado promover, na força de lei, a aceitação pela sociedade de novas convenções de gênero que não reconhecem nem a cosmovisão cristã e muito menos os fatores biológicos.
O resultado social do progressismo é, inevitavelmente, a polarização. Embora em tese ele procure construir uma sociedade igualitária, ele torna cada vez maior a segregação social e a disputa de classes, desfazendo o tecido social.
O progressismo é perigoso. Embora tenha temas convergentes a fé cristã, como a busca pela justiça social, ele tem suas origens na visão de mundo materialista, onde a religião só tem serventia se apoia a sua revolução.
Cristianismo e COMUNISMO
O comunismo é um espectro político que faz parte da linha progressista, mas que deseja a construção de uma sociedade sem divisão de classes. O comunismo é, de certa forma, a conclusão da implementação do socialismo ou, em termos modernos, o fim do progressismo, eliminando o estado, as classes sociais e a propriedade privada.
Na lista de comunistas famosos, temos Karl Marx, Lenin, Fidel Castro, Mao Zedong. Estima-se que, somente no século XX, cerca de 100 milhões de pessoas no mundo morreram por causa da ideologia comunista, destas, cerca de 70 milhões somente na China.
O comunismo foi declarado heresia pela Igreja Católica, através dos papas Pio IX (século 19) e Papa Pio XI (século XX). Protestantes históricos fazem continuamente a mesma denúncia.
Qualquer igreja cristã minimamente comprometida com o evangelho denuncia o comunismo como uma doutrina diabólica, que visa construir um mundo sem Deus.
Comunistas rejeitam Deus e qualquer autoridade religiosa. A doutrina comunista é naturalmente ateísta. Leon Trotsky, preeminente comunista, afirmou: "Deus é a negação da razão e da justiça, e a religião é a negação de toda dignidade e da moralidade humanas". Super do bem!
O comunismo promove a abolição da propriedade privada. O decálogo, ao afirmar "Não furtarás" (Ex 20.15), reconhece que a propriedade privada é um direito básico humano dado por Deus.
No comunismo a justiça social é promovida de modo tirano e opressor, por força estatal, abolindo as classes. Cristãos, contudo, promovem justiça social pela força do amor e de um coração voluntário.
Cristãos são perseguidos e mortos em regimes comunistas. Na Coreia do Norte, na China e em Cuba, igrejas são fechadas e cristãos, perseguidos, presos e mortos como inimigos do Estado.
Não há compatibilidade entre comunismo e cristianismo. Um é a antítese do outro.
Não existe cristão comunista.
CONCLUSÃO
Pela revelação das Escrituras, a Igreja e o Estado devem ser, sempre, organismos divinamente separados.
Nos últimos anos, a Igreja vem comprometendo-se de tal modo com a política a ponto de contaminar sua missão e enfraquecer sua capacidade de testemunhar do evangelho de Jesus Cristo.
Nós não recebemos de Deus a missão de moralizar a sociedade. A Igreja deve chamar homens e mulheres ao arrependimento e doutrinar somente aqueles que o amor de Deus ja converteu.
Sob nenhuma desculpa a Igreja pode sacrificar seus valores éticos e morais em nome de uma suposta igualdade, que não será atingida desse lado da etenidade:
Pois os pobres vocês sempre terão com vocês e poderão ajudá‑los sempre que o desejarem, mas a mim nem sempre terão. Marcos 14:7
Nossa missão é proclamar o evangelho a toda a criatura e testemunharmos, na vida de nossas comunidades de fé, o crescimento gradual do Reino de Deus, que leva pecadores aos pés de Jesus Cristo.
Jesus contou‑lhes ainda outra parábola: ― O reino dos céus é como o fermento que uma mulher pegou e misturou com três satos de farinha, e toda a massa ficou fermentada. Mateus 13:33 (NVI)
Sendo assim, reafirmamos os ideais que fazem parte da constituição da Igreja Pentecostal Reformada, desde os seus primórdios:
Reconhecemos que Deus pode usar cristãos para atuarem pelo bem comum na vida pública, levando justiça a cada recôndito social.
José no Egito, Daniel na Babilônia, William Wilberforce (anglicano, trabalhou pelo fim da escravidão), Margaret Thatcher (mulher metodista, que reorganizou a economia britânica), Martin Luther King (batista, batalhou pelo fim da segregação racial norte americana), Abraham Kuyper (reformado, integrou a cosmovisão cristã no goveno holandês, promovendo uma teologia social transformadora que impactou a política e o mundo moderno).
Graças a Deus por essas figuras históricas e suas respectivas contribuições.
Mas, que fique claro:
Filhos da igreja podem se envolver com a política. A Igreja não!
Como organismo vivo, pregamos a remissão de pecados pela fé em Jesus Cristo a conservadores, progressistas, comunistas e anarquistas.
Todos esses, arrependidos e crentes no Deus verdadeiro, são perdoados dos seus pecados e chamados a viverem em profunda obediência à Palavra de Deus.
O mundo não será transformado por ideologias polítcas. O mundo será renovado pelo Rei que vem cavalgando para vencer.
"Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro chama-se Fiel e Verdadeiro, e julga e guerreia com justiça. Os seus olhos são como chama de fogo, e sobre a sua cabeça há muitos diademas. Tem um nome escrito que ninguém conhece, senão ele mesmo. Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome é a Palavra de Deus. Seguiam-no os exércitos do céu, montados em cavalos brancos e vestidos de linho fino, branco e puro. Da sua boca sai uma espada afiada, para ferir com ela as nações. Ele as governará com cetro de ferro. Ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso. No manto e na sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis e Senhor dos senhores." Ap 19.11-16
Nosso Messias se chama JESUS CRISTO!
O Pai dos pobres, dos órfãos e das viúvas é o SENHOR DOS EXÉRCITOS!
Ao Teu Deus adorarás e somente a Ele darás culto! Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!
Pastor Sérgio Fernandes
Pastor Titular da IPR
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