“Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si. Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu.” Isaías 53.11-12
INTRODUÇÃO
Nos domingos anteriores, estivemos reunidos estudando a Escritura Sagrada e refletindo a respeito doutrinas da graça. Você pode ler os sermões e assistir as gravações dos cultos
Depravação Total.
Considero de muito importância você conhecer esses conteúdos de antemão antes de estudar o que pretendo, na graça de Cristo, apresentar aqui.
Trabalhando como empreendedor na área de publicidade propaganda há muitos anos, sou constantemente envolvido em projetos de meus clientes, que envolvem metas e objetivos financeiros muito bem definidos. Todas as vezes que não atingimos os resultados aos quais nos propomos atingir, entendemos que o projeto de alguma forma fracassou e somos então desafiados a redesenhá-lo, a fim de que tudo o que for proposto seja plenamente alcançado.
Quando refletimos sobre a obra da graça e o plano de Deus de reunir os seus eleitos em um só corpo, que é a igreja, estamos diante de um projeto divino que prevê o retorno daquilo que Ele planejou. Sendo assim, devemos iniciar essa explanação bíblica com uma pergunta bastante específica: Deus pode falhar naquilo que Ele planejou?
a expiação limitada
O terceiro título das principais doutrinas mencionadas é Expiação Limitada, ou Expiação Definida. Tendo recebido os nomes dos eleitos pelo Pai na eternidade passada, Jesus Cristo veio a este mundo para adquirir a salvação deles. Na cruz, Jesus não tornou o mundo inteiro algo potencialmente salvável. Antes, ele de fato salvou. Jesus assegurou realmente a vida eterna para suas ovelhas. Morrendo por todos os que lhe tinham sido confiados pelo Pai, propiciou a ira de Deus. Todos aqueles pelos quais Jesus morreu foram verdadeiramente salvos por meio de sua morte. Nenhum deles perecerá.
Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia. Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. João 6:38-40
A expiação limitada, assim como a eleição incondicional, compõe a porção mais "criticada" e "incompreendida" das doutrinas da graça, porque elas trazem um contraponto ao pensamento religioso dominante. Por isso, devemos com carinho, dedicação e atenção entendermos todas as suas implicações biblicamente e aceitarmos, de coração, essa verdade tão biblicamente sustentada.
o sacrifício na antiga aliança
Para entendermos a expiação limitada, precisamos recorrer ao conceito do sistema de sacrifício levítico e entender o que ele significava e como ele funcionava. Como lemos nos textos do Antigo Testamento, Deus instituiu o sacrifício de sangue como meio de expiar os pecados do povo e assim, purificá-los cerimonialmente para que lhe prestassem culto e adoração. A palavra expiação significa "cobrir, reparar, pacificar". Sendo assim, todas as vezes que um israelita desejava se aproximar de Deus para a adoração, ele apresentava ao Senhor um sacrifício.
E porá a sua mão sobre a cabeça da sua oferta, e a degolará diante da porta da tenda da congregação; e os filhos de Arão, os sacerdotes, espargirão o sangue sobre o altar em redor. Levítico 3:2
Havia na ordem dos sacrifícios levíticos diversos princípios espirituais que serviam como sombra ao perfeito sacrifício que Jesus ofereceria na cruz para salvar o seu povo. Vejamos brevemente alguns deles:
Cada israelita trazia o seu próprio animal para a adoração, conforme as instruções previstas no livro de Levítico. Um animal por pessoa, era uma expiação definida; Lv 1.2; 3.1,2 e outras;
O sacrifício era feito com o adorador pondo a mão na cabeça do animal, indicando ali uma transferência de culpa, de modo que aquele sacrifício era substitutivo;
A possibilidade de um sacrifício substitutivo era uma forma de Deus ensinar aos israelitas a respeito de sua graça (ao oportunizar uma forma de perdão / reparação) e ao mesmo tempo, o custo de nossos pecados. O sacrifício do animal lembrava Israel que a santidade de Deus deve ser vindicada. A substituição, mostra que Ele oferece graça ao povo que escolheu. Leia Levítico 3.
Mesmo no sacrifício do Dia da Expiação, que abrangia toda a comunidade de Israel, havia claramente uma definição de alcance e de eficácia. Em toda a revelação bíblica, os sacrifícios de expiação sempre tem limites estabelecidos. Leiamos Lv 16
o perfeito sacrifício de cristo
Todos os sacrifícios da antiga aliança apontavam para o perfeito e suficiente sacrifício que seria oferecido pelo Senhor Jesus a fim de resgatar aqueles que o Pai havia escolhido desde a eternidade passada. Quando Jesus se manifesta publicamente, o seu precursor João Batista o apresenta como "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29), apontando que na Nova Aliança, tanto judeus quanto gentios seriam beneficiados pelo seu sacrifício redentor.
No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. João 1:29
Assim como o sangue de animais era eficaz naquilo que se propunha a fazer, o sacrifício de Cristo foi suficiente, eficaz, impossível de ser invalidado e capaz de proporcionar uma eterna redenção.
Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção. Hebreus 9:11,12
Se o sacrifício de Cristo foi perfeito e Ele obteve uma eterna redenção, é importantíssimo respondermos três perguntas:
Por quem Jesus morreu?
Quem será beneficiado por essa morte?
A obra que Jesus consumou na cruz pode falhar?
por quem jesus morreu?
A primeira pergunta que precisamos fazer é essa: por quem Jesus morreu? No pensamento cristão dominante, é natural que rapidamente se responda que Jesus morreu por todos. Para essa resposta, precisamos fazer uma pequena análise: É possível que alguém por quem Jesus morreu se perca eternamente? A forma como respondemos isso está diretamente ligada ao modo como identificamos o efeito e alcance da morte de Cristo Jesus.
Para alguns cristãos, Jesus na cruz do Calvário tornou a salvação possível, mas não real. Isso significa que eles acreditam que Jesus ao morrer na cruz abriu uma possibilidade para que qualquer pessoa se achegue a Ele e receba perdão. Sendo assim, Jesus morreu por todas as pessoas do mundo, indistintamente, mas se essas pessoas não se aproximarem dele, não receberão perdão. Este pensamento surge do uso das expressões "todos" na Escritura, em poucas passagens bíblicas, que dão a entender que a universalidade da salvação diz respeito a cada ser humano da face da terra. Um exemplo disso é o clássico João 3.16.
Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.João 3:16,17
A questão é que, biblicamente, em quase todas as passagens bíblicas onde "mundo" e "todos" são citados como participantes do benefício da morte de Cristo, o que está em vista é a universalidade da salvação, podendo ser dada gracionamente a judeus e gentios, e nunca uma salvação disponivel a cada pessoa, porque se isso fosse verdade, precisaríamos admitir que o plano de Deus fracassou, pela quantidade inumerável de pessoas que foram ao inferno após o advento de Cristo. Se Deus planejou ofertar a salvação para todo mundo, e uma única pessoa se perdeu, podemos imaginar que Deus é um gestor de projetos frustrados. Mas sabemos, biblicamente, que isso não é uma verdade.
O testemunho que encontramos na Escritura é que a morte de Cristo, assim como os sacrifícios da velha aliança, foi definida e com um propósito específico e real. Na cruz do Calvário, Jesus morreu por todos aqueles que o Pai lhe deu, aqueles que foram eleitos por Deus, antes da fundação do mundo, para a salvação. E somente por eles. Vejamos diversos versículos que apontam que a morte de Cristo foi definida a essas pessoas:
Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas. João 10:14,15
“Tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” Mateus 20.28
“Assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação.” Hebreus 9.28
A grande diferença entre as duas perspectivas é que na primeira, ao morrer por todos potencialmente, Cristo de fato não morreu por niguém em específico, sendo a sua morte eficaz somente se alguém viesse a crer. Na segunda, que é a posição reformada e a que compõe o nosso pensamento e teologia local, a salvação é real, porque Cristo morreu na cruz especificadamente por aqueles que o Pai lhe confiou e estes, pela ação irrresistível do Espírito, chegarão a fé, para que o efeito dessa morte substitutiva seja creditado em suas vidas. Nesse posicionamento, afirmamos que nenhuma alma pela qual Deus enviou Seu Filho irá perecer. O plano de Deus se concretizará e Ele cumprirá o que prometeu.
quem será beneficiado pela morte de cristo?
Uma vez que entendemos anteriormente que a morte de Cristo foi definida como um sacrifício substitutivo pelos seus eleitos, somente eles serão beneficiados por ela. Em todo o seu ministério, Jesus fez uma clara distinção entre aqueles que eram do mundo e aqueles que pertenciam a Ele. Vejamos:
Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. João 17:2,3
Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra. João 17:6
Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus. João 17:9
Assim como os israelitas se aproximavam de Deus para serem perdoados de seus pecados e para o adorarem mediante um sacrifício de sangue, a Igreja Eleita se achega a Deus para ser perdoada e para adorá-lo pela suficiente sacrifício de Jesus Cristo.
a obra que jesus consumou na cruz pode falhar?
Responder essa pergunta parece simples, mas ela nos obriga a tomarmos uma posição. Se eu afirmo que a obra de Cristo na cruz não pode falhar, eu preciso assumir em meu coração que creio que ninguém por quem Jesus morreu irá se perder. Então se creio que Ele morreu por todos, precisarei afirmar que todos serão salvos indistintamente, tendo crido em Cristo ou não.
Agora, se creio que Ele morreu apenas por aqueles que o Pai lhe deu, os eleitos, aqueles que ouvem a Sua voz e o seguem, posso afirmar com clareza que a obra dEle não falhará e que todos os que o Pai escolheu não apenas chegarão a fé, mas serão salvos dos seus pecados e não perecerão no inferno por causa do sangue que Ele derramou na cruz. Esses temas serão desenvolvidos com profundidade nas duas próximas mensagens, onde trataremos da Graça Irresistível e da Perseverança dos Santos. Mas para não deixar vocês sem um gostinho dessa preciosa verdade, termino com um dos meus versículos bíblicos favoritos.
As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai. João 10:27-29
conclusão
Quero encerrar essa reflexão externando minha gratidão a Deus pela morte do Senhor Jesus Cristo por mim e por você. Ele sabia que estávamos ali na cruz com Ele. Ele nos viu, nos amou e se entregou voluntariamente por cada um de nós. Esse amor divino e avassalador deve nos constranger a vivermos para Ele e buscarmos continuamente a sua glória! Que Ele seja exaltado acima dos mais altos céus!
Pastor Sérgio Fernandes
Pastor Titular da IPR
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