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Doutrinas da Graça-Sermão de 13/10/2024

Foto do escritor: Emerson BomfimEmerson Bomfim

Atualizado: 11 de nov. de 2024




Introdução

 

A doutrina da Graça, particularmente como apresentada nas "Doutrinas da Graça" do Calvinismo, é um conjunto de ensinamentos teológicos que foram sistematizados principalmente por João Calvino, um dos reformadores protestantes mais influentes do século XVI. Embora as ideias fundamentais sobre a graça divina não sejam exclusivas de Calvino, ele foi um dos principais responsáveis ​​por organizar e defender esses conceitos, que se tornaram centrais na teologia reformada.


O desenvolvimento dessa doutrina tem suas raízes nas reflexões de Agostinho de Hipona, no século IV, que defendia a soberania de Deus na salvação e a total dependência da humanidade da graça divina para a salvação. Agostinho enfatizou que, sem a graça de Deus, o ser humano, prejudicado pelo pecado original, é incapaz de buscar a Deus por si mesmo.


No entanto, foi durante a Reforma Protestante que essa visão da graça foi refinada e expandida, em contraste com o entendimento católico medieval, que defendia a cooperação humana com a graça divina para a salvação. Martinho Lutero, outro reformador importante, também ressaltou a justificação pela fé e a impossibilidade do homem alcançar a salvação por suas próprias obras, mas foi Calvino que elaborou as doutrinas da predestinação e da graça irresistível, consolidando-se como "Doutrinas da Graça", também conhecidas como os Cinco Pontos do Calvinismo.


Essas doutrinas afirmam a total dependência da humanidade da graça de Deus para a salvação e incluem conceitos como a eleição incondicional e a perseverança dos santos. A tradição teológica reformada desde então tem sustentado que a graça de Deus não é apenas necessária, mas também eficaz e sóbria na salvação de seus eleitos.

 

Depravação Total

 

A Reforma Protestante, liderada por Martinho Lutero no século XVI, foi fortemente influenciada por Romanos 1:17: “O justo viverá pela fé”. Lutero desafiou a ideia de que a salvação dependia dos méritos humanos, afirmando que o pecado corrompeu totalmente o ser humano, afetando tanto o corpo quanto a alma. Segundo ele, nascemos com uma natureza inclinada ao pecado, e nossa condição pecaminosa não é apenas consequência de ações, mas uma realidade desde o nascimento.


A doutrina da Depravação Total sustenta que o pecado afetou todas as dimensões do ser humano: mente, emoções e vontade. Isso não significa que o homem é tão mau quanto poderia ser, mas que, sem regeneração, ele é incapaz de buscar a Deus ou realizar o bem espiritual. Como Paulo escreveu em Romanos 7.19: Quero fazer o bem, mas não o faço. Não quero fazer o que é errado, mas, ainda assim, o faço.

 

 “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe.” Salmo 51.5

“Vocês estavam mortos por causa de sua desobediência e de seus muitos pecados,2 nos quais costumavam viver, como o resto do mundo, obedecendo ao comandante dos poderes do mundo invisível. Ele é o espírito que opera no coração dos que se recusam a obedecer.3 Todos nós vivíamos desse modo, seguindo os desejos ardentes e as inclinações de nossa natureza humana. Éramos, por natureza, merecedores da ira, como os demais.” E.f 2.1-3

 

Eleição Incondicional

Presos aos prazeres mundanos, somos incapazes de nos aproximar de Deus por nossa própria iniciativa. Deus, em Sua graça, elegeu pessoas para que estas cheguem à fé em Jesus Cristo. É Deus quem toma a iniciativa, conduzindo todo o processo de salvação. Essa doutrina, respaldada pelas Escrituras, é ensinada pelo próprio Cristo: “Pois ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer a mim; e no último dia eu o ressuscitarei.” (João 6:44). Essa eleição é um ato soberano de Deus, sem depender de qualquer mérito humano.


Pois Deus conheceu de antemão os seus e os predestinou para se tornarem semelhantes à imagem de seu Filho, a fim de que ele fosse o primeiro entre muitos irmãos.30 Depois de predestiná-los ele os chamou, e depois de chamá-los, os declarou justos, e depois de declará-los justos, lhes deu sua glória. Rm 8.29-30

 

Expiação Limitada

A morte de Cristo na cruz é central para o Cristianismo, pois removeu a culpa e restaurou a comunhão entre Deus e os pecadores. Entretanto, a expiação não é universal. Embora Cristo tenha morrido para salvar, seu sacrifício foi intencionalmente eficaz apenas para os eleitos. As Escrituras são claras ao afirmar que Ele morreu "pelas Suas ovelhas" (João 10:15), aquelas que o Pai escolheu antes da fundação do mundo (Efésios 1:4).


Em Isaías 53, vemos que Cristo “carregou sobre si as iniquidades de muitos” e “justificará a muitos”. Portanto, Cristo morreu para garantir a sabedoria daqueles que foram escolhidos por Deus, e não simplesmente para torná-los "salváveis". Ele morreu para salvar efetivamente aqueles a quem o Pai deu.


“Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.” Mateus 1.21


 “Então, lhes disse: Isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos.” Marcos 14.24


“Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos.” João 15.13

 

 Graça Irresistível

A doutrina da graça irresistível não implica que a influência do Espírito Santo não possa ser resistida, mas sim que Ele é capaz de superar toda resistência, tornando sua influência irresistível. Em Atos 7:51, Estevão diz aos líderes judeus: “Homens de dura cerviz, incircuncisos de coração e ouvidos, sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis”. Além disso, Paulo menciona a possibilidade de entristecer ou apagar o Espírito (Efésios 4:30; 1 Tessalonicenses 5:19).


Deus frequentemente dá mandamentos que são resistidos, e toda a história de Israel no Antigo Testamento reflete essa resistência, como demonstrada na parábola dos lavradores maus (Mateus 21:33-43; cf. Romanos 10:21).


A doutrina da graça irresistível afirma que Deus é soberano e tem o poder de superar toda resistência a Seu desejo. “Segundo a sua vontade ele opera com o exército dos céus e os moradores da terra; não há quem possa deter a mão!” (Daniel 4:35). “No céu está nosso Deus e tudo faz como lhe agrada” (Salmo 115:3). Quando Deus decide cumprir Seu propósito soberano, ninguém pode resistir com sucesso.


Isso é o que Paulo ensina em Romanos 9:14-18, o que leva seu oponente a perguntar: “De que se queixa ele ainda? Pois, quem jamais resistiu à sua vontade?” Paulo responde: “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura pode o objeto perguntar a quem o fez: por que eu fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para fazer um vaso para honra e outro para desonra?” (Romanos 9:20b).


Mais especificamente, a graça irresistível refere-se à obra soberana de Deus que supera toda rebelião em nossos corações, trazendo-nos à fé em Cristo Jesus para a salvação. Se nossa doutrina da depravação total é verdadeira, não poderia haver salvação sem a realidade da graça irresistível. Se estamos mortos em nossos pecados e totalmente incapacitados de nos submeter a Deus, nunca criaríamos em Cristo a menos que Deus superasse nossa rebelião.


Alguns podem argumentar que “o Espírito Santo pode nos trazer a Deus, mas podemos usar nossa liberdade para resistir ou aceitar esse chamado”. Nossa resposta é que, sem a graça salvífica, sempre usaremos nossa liberdade para resistir a Deus. Isso é o que significa estar “incapaz de se submeter a Deus”. Se alguém se torna humilde o suficiente para se submeter a Deus, é porque Deus lhe deu uma nova natureza. Se alguém permanece resistente e orgulhoso, é porque não recebeu tal espírito disposto. Para entendermos isso de maneira mais persuasiva, devemos considerar as Escrituras.


Em João 6:44, Jesus declara: “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me invejo, não o trouxe”. Esse “trazer” é a obra soberana da graça, sem a qual ninguém poderia ser salvo da rebelião contra Deus. Alguém poderia dizer: “Ele traz todos os homens, não apenas alguns”. No entanto, esta afirmação ignora o contexto claro de que o “trazer” do Pai é a razão pela qual alguns crêem e outros não.


Especificamente, em João 6:64-65, lemos: “Contudo, há descrentes entre vós. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quais eram os que não criariam e quem o havia de trair. E prosseguiu: Por causa disso, é que vos tenho dito: Ninguém pode vir a mim, se pelo Pai não lhe for concedido”.


Devemos observar dois pontos importantes. Primeiro, o ato de ir a Cristo é considerado um dom; não se trata apenas de uma oportunidade. Ir a Cristo é “dado” a alguns, e não a outros. Em segundo lugar, a razão pela qual Jesus menciona isso é para explicar por que “há descrentes entre vós”. Podemos parafrasear assim: Jesus sabia desde o princípio que Judas não creria nele, apesar de todos os ensinamentos e convites que recebeu.


E porque sabia disso, ele explica com as palavras: Ninguém pode vir a mim se pelo Pai não lhe for concedido. Judas não recebeu essa concessão. Embora tenha tido muitas influências positivas em sua vida, o dom decisivo da graça irresistível não lhe foi concedido.


Em 2 Timóteo 2:24-25, está escrito: “Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva um contendor, mas deve ser brando para com todos; apto para ensinar, paciente, disciplinando com mansidão aos que se opõem, na expectativa de que Deus não só lhes concede o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade”. Aqui, assim como em João 6:65, a reclamação é considerada um dom de Deus.


Observe que ele não diz apenas que a salvação é um dom de Deus, mas que o pré-requisito para a salvação também é um dom. Quando alguém ouve um pregador chamando-a ao arrependimento, pode resistir a esse chamado. No entanto, se Deus conceder desculpas, a resistência será removida.


Não querer se arrepender é o mesmo que resistiu ao Espírito Santo. Portanto, quando Deus concede desculpas, isso equivale a remover a resistência, razão pela qual chamamos essa obra de Deus de “graça irresistível”.

 

Perseverança dos Santos

A perseverança dos santos é uma consequência lógica dos pontos anteriores. Se Deus elegeu, Cristo morreu pelos eleitos e o Espírito os chamou de forma irresistível, então é certo que esses eleitos perseverarão até o fim. A salvação é uma obra de Deus do começo ao fim, e Ele garante que os eleitos não se perderão. Paulo assegura isso em Romanos 8: "Aqueles que Ele predestinou, também chamou; e os que chamaram, também justificou; e os que justificou, também glorificou."


A salvação final é garantida pela obra de Cristo e pela soberania de Deus. Se os eleitos não perseverassem, a eleição de Deus e o sacrifício de Cristo falhariam — algo impossível para o Deus soberano.


Normalmente uma pergunta é feita no meio cristão: Pode o crente perder a sua salvação no meio do caminho ou, uma vez salvo, salvo para sempre? Geralmente, os que contestam uma resposta negativa a esta pergunta, argumentam: Bom, se o crente não perde a salvação, significa que ele pode fazer o que quiser e pecar a vontade!


Este foi um dos questionamentos que Paulo respondeu quando escreveu à igreja em Roma. A pergunta era: “Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei e sim da graça? (Rm. 6:15). A resposta foi um enfático NÃO! Paulo rejeitou de longe esta hipótese.

“ De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos ? (...) considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. (...) De modo nenhum (...) Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna.” (Rm. 6:2, 11, 15 e 22)


Podemos comparar esta doutrina a uma longa viagem de carro. Ao estudarmos o roteiro, escolheremos o caminho que mais nos parece seguro. Procuraremos um que tenha postos de gasolina, hotéis, restaurantes, oficinas e postos policiais. Tudo isto porque buscamos segurança e garantia de que chegaremos ao destino final, ainda que haja dificuldades no percurso. Contudo, todas estas garantias não nos isenta de dirigirmos com prudência e responsabilidade, fazermos uma boa inspeção no veículo antes de viajarmos e estarmos com toda a documentação em dia.


Semelhantemente é a doutrina da perseverança dos santos. Ela nos dá garantia de uma viagem segura e nos garante a chegada ao destino final. Porém, longe de nos incitar a irresponsabilidade, ela é um motivo a mais para nos dedicarmos a consagração e a fidelidade. Ela é um dos motivo para corrermos com dedicação a carreira cristã, mesmo em meio à todas as dificuldades que surgirem no trajeto. Por causa desta sublime doutrina, podemos dizer como o apóstolo Paulo: “... porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia” (1 Tm. 1:12b).

 

“Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis.” Ezequiel 36.27

“Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim.” Jeremias 32.40

“Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.” João 5.24


“E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.” João 6.39-40

 

Conclusão

 

Não importa o que aconteça, exerçam a sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo, para que assim, quer eu vá e os veja, quer apenas ouça a seu respeito em minha ausência, fique eu sabendo que vocês permanecem firmes num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica (Fp 1:27).

 

Calvinista ou Arminiano, vamos lutar juntos pela fé evangélica

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