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Depravação Total - Sermão 01/08/2021

Atualizado: 4 de ago. de 2021



“Diz o insensato no seu coração: Não há Deus. Corrompem-se e praticam abominação; já não há quem faça o bem. Do céu olha o Senhor para os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.” Salmo 14.1-3


INTRODUÇÃO




Quando cada um de nós participou de uma reunião de integração na Igreja Pentecostal Reformada (ou ao menos leu o documento de apresentação da igreja), fomos apresentados a uma série de terminologias que provavelmente não eram muito utilizadas em nossas igrejas de origem: cinco solas, doutrinas da graça, calvinismo e outras. Esse primeiro vislumbre pode causar um susto inicial nos recém-chegados, mas que vai sendo paulatinamente aliviado quando, a cada exposição bíblica, a maravilhosa glória do evangelho vai se descortinando aos nossos olhos.


Neste mês de agosto, permitindo o Senhor, dedicaremos nossas reuniões matutinas para o estudo das doutrinas da graça. Elas compõe um importante pilar de nossa confissão teológica e nos identifica, na tradição cristã, com os reformados calvinistas. Para todo o presbitério da nossa igreja, é de grande importância que tenhamos consciência dessas verdades ensinadas na Escritura, uma vez que a plena compreensão delas molda de forma poderosa a nossa cosmovisão e o nosso posicionamento cristão no mundo. Que Deus nos ajude nessa jornada!


a depravação total


A primeira das cinco doutrinas da graça é chamada de "Depravação Total", uma expressão com palavras tão fortes que tem sido sugerido, nos últimos anos, que ela seja apresentada como "total inabilidade". Ela afirma que o homem sem Cristo é totalmente depravado, ou seja, que o pecado o afetou sua totalidade. Isso significa que cada parte do homem está contaminado pelo pecado (mente, emoção e vontade).


Isso não significa que o ser humano seja totalmente mau, ou incapaz de fazer coisas boas. Seria desonestidade intelectual minha ignorar muitos homens brilhantes que desempenharam papéis importantes na história humana. Existem diversas ações sociais relevantes que não não foram iniciados por grupos cristãos ou religiosos. O homem, apesar de perdido, ainda traz consigo a imagem de Deus. O fato é que o pecado impede o homem de ser totalmente bom (que seria uma exigência caso esse quisesse salvar-se por sua própria virtude). Por melhor que seja o comportamento humano, sempre haverá nele algum teor de orgulho e pecado. Spurgeon explicou isso com maestria, quando afirmou: “Há pecado até na nossa santidade, há incredulidade na nossa fé; há ódio no nosso próprio amor; há lama da serpente na mais bela flor do nosso jardim.”


Em sua condição sem Cristo, o homem está morto em delitos e pecados, seguindo o curso deste mundo e o espírito que atua nos filhos da desobediência. Ele é escravo das inclinações da sua carne e dos pensamentos, vivendo para satisfazer essa vontade. Utilizando a linguagem de Paulo, ele é, por natureza, filho da ira. Deste modo, a natureza humana foi tão contaminada pelo pecado, a ponto do homem estar alienado de Deus e irremediável em sua condição. Neste estado deplorável, o ser humano:


1. Não quer a Deus


E não quereis vir a mim para terdes vida. João 5:40

2. Não busca nem compreende a Deus


Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Romanos 3:11

3. É escravo do pecado


Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado. João 8:34

4. É morto em ofensas e pecados


“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” Rm 5.8

5. É inimigo de Deus


Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. Tiago 4:4

Uma das diferenças cruciais do cristianismo com as outras religiões mundiais é a forma como enxergamos o estado da humanidade com relação a Deus. Os outros credos vêem o homem essencialmente bom, mas de algum modo afastado da divindade, precisando assimilar uma série de crenças e comportamentos para ser salvo ou aperfeiçoado. A fé cristã bíblica tem uma visão particular: o ser humano foi criado bom, mas o pecado o perverteu de tal modo que ele se tornou incapaz de compreender a vontade de Deus e sem capacidade espiritual para buscar ao Criador. O homem está perdido.



as implicações da depravação total na sociedade humana


Quando analisamos a história humana, vemos as marcas da depravação total em cada esfera da sociedade humana. O holocausto judeu, os milhões de mortos pela revolução comunista pelas mãos de Lenin, Stalin, Fidel Castro, Che Guevara e outros; a indiferença das pessoas com respeito a desigualdade social, a disseminação e aceitação do aborto, os ataques contra a família nuclear, a cultura de consumismo ocidental, as atrocidades praticadas "em nome de Deus" nas religiões mundiais (inclusive entre cristãos). Se você vive neste mundo e não percebe que há algo errado com ele, você ainda está unido à queda de Adão e segue, como os demais, o espírito da potestade do ar, o espírito que atua nos filhos da desobediência.


“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais.” Efésios 2.1-3


a depravação total na parábola da dracma perdida


Dentre as parábolas de Jesus, destaco uma que parece apontar para a realidade da depravação total: a da dracma perdida. Em Lucas 15, somos apresentados a três estórias contadas pelo Salvador. Em todas elas, enfatiza-se a alegria que há no céu quando um pecador se arrepende. É muito interessante observarmos que, na complexa mente de Cristo, uma moeda pode nos ensinar (e muito) a respeito da salvação.


"Ou, qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e, perdendo uma delas, não acende uma candeia, varre a casa e procura atentamente, até encontrá-la? E quando a encontra, reúne suas amigas e vizinhas e diz: ‘Alegrem-se comigo, pois encontrei minha moeda perdida’. Eu lhes digo que, da mesma forma, há alegria na presença dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende". Lucas 15:8-10

Nessa parábola, uma mulher tinha consigo dez dracmas. A dracma era uma moeda grega, de prata, tendo quase o mesmo valor que o denário romano. Correspondia ao salário de um dia de trabalho. A mulher perdeu uma delas. Imediatamente, ela acendeu a candeia, varreu a casa e a procurou diligentemente, até achá-la. A alegria de encontrar a moeda perdida foi tanta que ela reuniu suas amigas para festejarem com ela.


Enquanto nas parábolas vizinhas a figura do perdido é a de um ser vivo (a ovelha e o filho pródigo), aqui quem se perdeu foi um objeto inanimado. A ovelha, embora irracional, sabe que se perdeu do rebanho. O filho pródigo tem ciência de que deixou a casa do pai. Mas uma moeda perdida não tem conhecimento da sua condição. Se ninguém se ocupar em encontrá-la, ela permanecerá perdida. Assim como a dracma, que não sabe estar perdida, o homem irregenerado não tem capacidade nem de compreender sua perdição, muito menos de buscar a Deus. Ambos precisam ser encontrados!


o amor de deus revelado nesta parábola


O primeiro ponto que observo é que cada dracma é importante para a mulher. Ela perdeu uma, mas ainda tinha nove. Por que razão se ocupar com apenas uma mísera moeda? Porque ela tinha valor. A dracma era uma pequena moeda de prata, que pesava cerca de 4 gramas, mas equivalia a um dia de trabalho. Perder uma dracma faria uma diferença enorme no orçamento de uma camponesa israelita dos dias de Jesus.


Da mesma forma, apesar de Deus já ter em sua mão nove dracmas, que para mim representam a totalidade dos eleitos que já foram alcançados pelo evangelho, um único eleito perdido é importante para o nosso Pai Celestial. Seu valor é grande: custou o trabalho de Cristo e o seu sangue vertido na cruz. Assim como a mulher se empenhou para encontrar aquela dracma perdida, Deus tem procurado diligentemente salvar seus eleitos de seu estado de depravação. Não há nem sequer um lugar no universo onde a graça divina não possa encontrá-los! Aleluia!


O segundo ponto que observo é que a moeda precisava ser encontrada. Na parábola, ela está perdida dentro da casa. Mas, como é apenas um objeto inanimado, ela não tem consciência disso. As casas das aldeias israelitas não tinham janelas. O que haviam eram pequenas frestas por onde entrava a luz do sol. O interior dessas casas, portanto, era bastante escuro (por isso, a mulher acende a candeia para procurar a moeda). O homem sem Deus vive na escuridão. Ele precisa ser iluminado pela luz celestial para ser encontrado.


O terceiro ponto interessante da parábola é que a moeda é de prata. Esse elemento na Bíblia Sagrada tem duas simbologias conhecidas. Ele representa a humanidade (em contraste com o ouro, que simboliza a divindade) e também a redenção. Para se pagar um preço de resgate eram utilizadas moedas de prata (Nm 18.16, Lv 5.15, 1 Pe 1.18,19). Esses dois símbolos se referem, precisamente, ao que Cristo fez: Ele amou aqueles que o Pai escolheu e pagou o preço do resgate deles com o seu próprio sangue, que foi vertido na cruz do Calvário.


Um quarto ponto a ser notado é que a mulher procura a moeda até encontrá-la. Ela não desiste de achar aquilo que lhe pertence, empregando todos os meios para recuperar a dracma. O Deus da Bíblia não tem seus planos frustrados. Ele afirmou:


"Desde os dias mais antigos eu o sou. Não há quem possa livrar alguém de minha mão. Agindo eu quem pode desfazer? " (Is 43:13).

como deus resgata uma humanidade depravada


Observe no texto o procedimento da mulher para encontrar a dracma perdida. Ela percebe que está faltando uma moeda. Ela acende a candeia. Varre a casa. Procura diligentemente, até encontrar o que havia perdido. Percebo aqui uma interessante alegoria sobre o que o Senhor fez para nos resgatar. Veja só:


A mulher sabe que falta uma moeda. Deus sabe, também, aqueles que são dele e estão perdidos. A Escritura afirma que Deus nos escolheu antes da fundação do mundo (Ef 1.4). Os nomes que constam no livro da vida são conhecidos antes da criação (Ap 13.8). Deus sabe os que são dEle, e Ele os encontrará! É papel do Pai atrair as pessoas até Jesus. O Salvador falou:


Manifestei o teu nome àqueles que me deste do mundo. Eram teus, tu os deste a mim, e eles têm guardado a tua palavra. João 17:6

A mulher acende a candeia para localizar a moeda. Aqui, observo a obra o Espírito Santo em iluminar o pecador, esclarecendo-o do seu estado de perdição. O salmo 18.28 diz:


"Sim, tu acendes a minha candeia; o Senhor meu Deus alumia as minhas trevas". Sl 18.28;

Segundo o Senhor Jesus, o Consolador convencerá o mundo (o homem perdido) do pecado (Jo 16.8). Nenhum pecador pode entender a mensagem da salvação sem que essa candeia o ilumine. O Espírito ilumina o homem e lhe presenteia também com a fé para cre no Salvador (Ef 2.8).


Pois pela graça de Deus vocês são salvos por meio da fé. Isso não vem de vocês, mas é um presente dado por Deus. A salvação não é o resultado dos esforços de vocês; portanto, ninguém pode se orgulhar de tê-la. (Efésios 2:8-9 NTLH)

Na parábola, a mulher, além de acender a candeia, também varre a casa. Diferentes intérpretes tem dado diversas explicações para esse aspecto da parábola. Na minha alegoria, entendo que varrer "é limpar, tornar limpo". Para a moeda ser achada, a casa tem que ser limpa. Como uma vassoura nos tempos bíblicos era feita com um cabo rústico de madeira, isso me mostra a obra de Cristo cruz. O que ele fez pode salvar todo tipo de gente mas é eficaz somente na vida dos que crêem.


Vejo também que a mulher procurou diligentemente a dracma, até encontrá-la. Deus predestinou seu povo a salvação (Rm 8.29,30; Ef 1.5). E por seu divino decreto, Ele alcançará e resgatará todos aqueles que são dele. Não é possível escaparmos das garras dessa maravilhosa graça. O Pai nos encontrará!


Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. (Romanos 8:29-30 ARC)


a morte de cristo é o único caminho bíblico de salvação


A parábola termina mencionando que há festa quando um perdido é encontrado. A mulher festeja com suas vizinhas, e no céu, na presença dos anjos, há alegria quando um pecador se arrepende. A sua vida pode estar marcada por desvios morais terríveis. Seu viver pode ser resumido pela descrença, pelo ódio, pelo abandono, pela solidão, marcas evidentes de que o pecado governa o seu coração. Talvez até digam que para você nem mesmo Deus seria capaz de lhe salvar. Tenha esperança! Na parábola, mulher encontrou a dracma perdida. Deus buscará os seus eleitos até encontrá-los. Ele pode transformar sua morte em vida, sua culpa em justiça, sua escravidão em liberdade, sua inimizade em amizade, sua condenação em perdão!


A única resposta à depravação total do homem é uma salvação operada por Deus do começo ao fim. Por isso, erguemos a verdade bíblica e anunciamos o evangelho da graça de Cristo, que é poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e depois do grego (Rm 1.16,17).


A Ele a glória por tão maravilhosa salvação!


Pastor Sérgio Fernandes

Pastor Titular da IPR



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