Como viver uma vida extraordinária em 2025? - Sermão de 08/01/2025

Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus. 1 Co 10.31

INTRODUÇÃO

Hoje estou reunido aqui para adorar ao Senhor com vocês e com uma difícil missão a ser executada: pregar meu primeiro sermão de 2025 e o último antes de minhas férias.

Tentei elaborar diversas propostas do que deveria comunicar ao coração de vocês: pensei em algum sermão doutrinário, ou aludir de alguma forma ao tema anual de nossa comunidade, mas, sinceramente, não parecia a coisa certa a se fazer.

Refletindo sobre isso, e vendo as inúmeras tensões de um novo ano, que já surge em um cenário mundial de tantas incertezas, percebi que era oportuno encorajar a cada um de vocês para abraçarem uma vida extraordinária em 2025.

Calma, o pastor Sérgio não vai fazer uma pregação coach nessa noite.

Mas quero conduzir seus corações a uma reflexão sincera sobre um relacionamento pessoal com Deus e o impacto que isso tem em transformar nossa vida comum em uma vida extraordinária.

O contexto do verso

O versículo que li na abertura da reflexão é considerado o lema da fé reformada.

Viver para glória de Deus é o alvo máximo do cristão. Essa decisão deve abranger cada detalhe da nossa vida, seja em aspectos diretamente ligados à piedade (o culto, a oração, a santificação) quanto naquilo que faz parte da vida comum de um ser humano (como comer e beber).

Esse versículo, contudo, surge em um contexto que pode ser ignorado por nós cristãos.

No capítulo 10 da primeira epístola aos coríntios, Paulo está advertindo os crentes de corinto a respeito da possibilidade de estarem vivendo uma fé superficial, sem considerar a natureza e a santidade de Deus.

Irmãos, não quero que vocês se esqueçam do que aconteceu muito tempo atrás, quando nossos antepassados foram guiados por uma nuvem que ia adiante deles e atravessaram o mar. 1 Co 10.1

Paulo demonstra ao longo do capítulo que os israelitas viveram experiências gigantes com Deus. eles viram a coluna de nuvem, a abertura do mar vermelho. Beberam água da rocha e comeram maná descido do céu.

Todas essas experiências, contudo, falavam a respeito da graça soberana de Deus e não da fé que eles possuíam. Pelo contrário, as Escrituras são enfáticas em afirmar que, mesmo com tantos milagres vividos, Deus os reprovou severamente.

Na nuvem e no mar, todos foram batizados como seguidores de Moisés. Todos comeram do mesmo alimento espiritual e todos beberam da mesma água espiritual, pois beberam da rocha espiritual que os acompanhava, e essa rocha era Cristo. No entanto, Deus não se agradou da maioria deles, e seus corpos ficaram espalhados pelo deserto.1 Co 10.2-5

Paulo destaca ao longo do capítulo o que estava de errado com aquele povo. Mesmo vivendo sobre uma experiência extraordinária de revelação de Deus, aqueles homens não acolheram a palavra de Deus a ponto de se renderem a Ele.

Seus corações estavam sedentos por milagres e não por Deus.

Os inúmeros pecados que eles continuamente cometiam são destacados por Paulo nos versículos seguintes:

• Eles cobiçaram coisas más, vv.6

• Eles adoraram ídolos, vv.7

• Eles comeram e beberam e se entregaram a farra, vv.7

• Eles cometeram imoralidade sexual, vv.8

• Eles puseram o Senhor à prova, vv.9

• Eles murmuraram contra o Senhor, vv.10

Essas coisas que aconteceram a eles nos servem como exemplo. Foram escritas como advertência para nós, que vivemos no fim dos tempos. 1 Co 10.11

Perceba que Paulo demonstra com ênfase que Deus se importa muito com a vida daqueles que fazem parte da comunidade cristã. Ao utilizar os tropeços de Israel em sua exortação, o apóstolo está nos encorajando a não seguirmos essas mesmas pisadas fracas e vacilantes que vão fatalmente nos levar a destruição.

E, obviamente, esse texto nos demonstra que não é a presença de milagres que determina a aprovação de Deus a um povo, mas sim, a obediência desse povo à mensagem do evangelho.

No restante do capítulo, leremos Paulo demonstrando como os corintios deveriam considerar os valores da fé para questões triviais da vida, tais como:

• a participação ou não em cultos idólatras, vv.14

• sobre comer ou não a carne vendida nos mercados, vv.25

• sobre participar de uma refeição com um descrente, vv.27

• e sobre como devemos limitar nossa liberdade diante da consciência de irmãos mais fracos na fé, vv.28, 29

Os crentes de Corinto, assim como de Israel, tratavam a fé como algo trivial. Estavam vivendo demonstrações de poder, mas um poder que não transformava os seus corações.

Israel e Corinto, aparentemente, tinham essa característica em comum: havia mjuitas demonstrações do poder de Deus no meio do povo, mas muito pouco de Deus dentro do povo.

• Nossa fé não é sobre espetáculos espirituais, mas sobre joelhos dobrados em quartos fechados.

• Nossa fé não é sobre sinais miraculosos, mas sobre o milagre de corações convertidos

• Nossa fé não é sobre demonstrações de poder, mas sobre demonstrações de serviço

• Nossa fé não é sobre mar se abrindo, rocha dando água, maná descendo do céu. É sobre a forma como Deus deseja transformar nossa vida comum em uma vida extraordinária.

Com Deus, o comum virá extraordinário. Há um interessante contraste no capítulo 10 que demonstra essa verdade espiritual.

“todos comeram e beberam e se entregaram à farra”.1 Co 10.7

Portanto, quer vocês comam, quer bebam, quer façam qualquer outra coisa, façam para a glória de Deus. 1 Co 10.31

Quando o Comum vira extraordinário

Fazer algo para glória de Deus significa "fazer algo como se fosse para Deus" ou "fazer algo com o mesmo amor, retidão e santidade com o qual Deus faria".

É deixar uma marca de excelência nas coisas mais simples da vida.

Eu glorifico a Deus pelo fato de que Paulo nos desafiou a glorificar a Deus em coisas comuns e não apenas em assuntos tipicamente ligados à religião e piedade.

Ele disse: "quer comais ou bebais", aludindo à alimentação, o elemento mais corriqueiro da vida humana.

Esse aspecto aparece em outros textos do Novo Testamento. Por exemplo:

Trabalhem com entusiasmo, como se servissem ao Senhor, e não a homens. Ef 6.7

Em tudo que fizerem, trabalhem de bom ânimo, como se fosse para o Senhor, e não para os homens. Cl 3.23

Obviamente, esse entusiasmo para agradar a Deus e não a si próprio não é um pedido banal de religiosidade, mas a resposta natural de um coração tocado pelo evangelho.

Assim como Nosso Senhor não viveu para agradar a si mesmo, mas para fazer a vontade de Deus, nós, seus discípulos, devemos fazer o mesmo.

Pois Cristo não viveu para agradar a si mesmo (...), Rm 15.3

“Pai, se queres, afasta de mim este cálice. Contudo, que seja feita a tua vontade, e não a minha”. Lc 22.42

Quando o coração do homem é tocado pelo Senhor de verdade, tudo se torna extraordinário, porque tudo passará a ser feito para glória de Deus.

Jesus ensinou aos seus discípulos que a nossa vida deve resplandecer a glória do evangelho que nos salvou.

Esse é um meio pelo qual ele espalha seu amor e sua verdade pelo mundo.

Não faz sentido acender uma lâmpada e depois colocá-la sob um cesto. Pelo contrário, ela é colocada num pedestal, de onde ilumina todos que estão na casa. Da mesma forma, suas boas obras devem brilhar, para que todos as vejam e louvem seu Pai, que está no céu.” Mt 5.15,16

Cada aspecto de nossa vida deve ser vivido de tal modo que o Todo Poderoso seja glorificado em nós e através de nós.

Lembre-se: a vida do cristão é a Bíblia que o mundo está lendo...

COMO VIVER O EXTRAORDINÁRIO EM UM NOVO ANO?

Se você ainda não captou aquilo que Deus deseja comunicar ao seu coração nessa reflexão, vou acrescentar um elemento importante para chegarmos num consenso piedoso.

Explicando a natureza da fé em Deus, Jesus sintetizou toda a lei moral das Escrituras em dois simples mandamentos.

Um dos mestres da lei estava ali ouvindo a discussão. Ao perceber que Jesus tinha respondido bem, perguntou: “De todos os mandamentos, qual é o mais importante?”. Jesus respondeu: “O mandamento mais importante é este: ‘Ouça, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de toda a sua mente e de todas as suas forças’. O segundo é igualmente importante: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. Nenhum outro mandamento é maior que esses”. Mc 12.28-31

O extraordinário em nossa vida comum é o resultado da equação piedade somada com intenção.

A base da vida extraordinária é a piedade. Sem amar ao Senhor, nada que eu viva é real, eterno e verdadeiro. Agostinho, importante pai da igreja do século IV, fez duas afirmações contundentes a respeito da experiência de amar a Deus.

"Apaixonar-se por Deus é o maior dos romances; procurá-Lo, a maior das aventuras; encontrá-Lo, a maior de todas as realizações".

"Ame a Deus e faça o que você quiser"

Quem, de fato, ama a Deus, viverá para agráda-lo. Então, tudo o que fizer, será basado nesse amor e em resposta a Ele.

Amar a Deus de verdade envolve graça, porque o amamos somente pelo fato dele ter nos amado primeiro (1 Jo 4.19). E envolve decisão, porque eu devo, em resposta a minha união com Jesus, decidir amar a Deus todos os dias. Essa decisão envolve amá-lo:

• De todo coração, isto é, eu admito em vida que cada centímetro do meu coração será ocupado por Deus e não por qualquer coisa que eu deseje mais do que Ele. É um convite ao abandono da idolatria. Só o Senhor é Deus.
  

• De toda minha alma, isto é, eu reconheço que todos os meus desejos e anseios devem passar pela cruz de Jesus Cristo e se submeterem ao Seu senhorio. Sonhos, planos, desejos e ambições sempre serão diabólicos quando não se alinham com a vontade de Deus, mas serão santos, quando se submetem a ela. A glória de Deus faz parte de suas ambições e desejos pessoais?
  

• Com todas as minhas forças, isto é, eu devo de forma disciplinar decidir amar a Deus, mesmo quando meu coração se recusa a lhe render glória. Ler a Bíblia, orar, congregar, sevir, contribuir envolve combater pecados como preguiça, avareza, procrastinação e outros. Se Deus é meu tudo, eu devo me esforçar para ir contra meus instintos naturais e honrar o sangue que foi derramado por mim.
  

• De todo meu entendimento, isto é, eu devo amar a Deus compreendendo a Sua vontade, que está expressa na Bíblia Sagrada. Deus não é adorado pela sinceridade do adorador, mas por obediência ao que está escrito na Bíblia. Se os verdadeiros adoradores adoram a Deus em espírito (pela nova vida espiritual que receberam pela regeneração) e em verdade (de acordo com o que está revelado na Bíblia), só ama a Deus de verdade quem está interessado em conhecê-lo por aquilo que Ele revelou nas Escrituras.

Se eu sou piedoso, minha vida é piedosa. Se a minha vida é piedosa, ela é extraordinária. Então, tudo o que fizer, por mais comum que seja, se tornará extraordinário.

A vida extaordinária também passa por intenção. Eu devo intencionalmente amar o próximo, não apenas quando eu "acho" que devo amá-lo, mas sempre, procurando temperar com amor cada gesto interpessoal que Deus me permite viver.

A comunidade cristã é intencional.

Quando assumimos essa identidade, e passamos a direcionar nossas relações com base em intencionalidade, vamos açucarando nossas relações e enchendo de ternura o mundo, mostrando com isso o poder da glória de Deus.

Acima de tudo, revistam-se do amor que une todos nós em perfeita harmonia. Cl 3.14

Coloque amor sincero em sua vida comum esse ano:

• Seja gentil com as pessoas...

• Deseje bom dia, boa tarde, boa noite...

• Escolha uma pessoa e dedique um ano inteiro para ajudá-la a ser alguém melhor...

• Comprometa-se com o bem. Faça um trabalho social, some com os ministérios da igreja.

• Divida com alguém espontaneamente algo que recebeu.

• Não fofoque, não julgue, não se precipite no falar...

• Perdoe rapidamente, na mesma velocidade que Cristo te perdoou.

• Lembre-se diariamente do pecador que você é e peça a Deus para que Ele te ensine a amar o próximo como Ele ama você.

CONCLUSÃO

A vida de Jesus é extraordinária porque ele somou piedade com intenção.

Nosso Senhor, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, viveu uma vida para glorificar Seu Pai que está no céu. Foi obediente até a morte, e morte de cruz. Quando subiu ao madeiro, levou os pecados de todos os seus eleitos. Quando ressuscitou, tornou real a nossa salvação e adoção, pela justificação.

O extraordinário passa pela cruz! Se não formos à cruz e não entregarmos nossa vida de pecados ao Senhor, não receberemos a vida abundante que Ele promete no evangelho, onde, pela nossa união de salvação com Jesus, o comum se torna extraordinário.

Você tem alma! Você pode estar me ouvindo há anos e ainda ser a mesma velha criatura, que segue os desejos do próprio coração. Se arrependa nessa noite! Abandone o pecado, arranque o orgulho do seu coração e se entregue aquele que te ama e que intencionalmente decidiu salvar você da condenação.

Quando passamos pela cruz e somos salvos pelo Senhor Jesus Cristo, iniciamos o romance mais belo da vida, e a aventura mais emocionante.

Que essa paixão por Cristo te faça viver o extraordinário nesse novo ano!

Que Ele nos abençoe!

Pastor Sérgio Fernandes

Pastor Titular da IPR