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Bebidas alcóolicas e a liberdade cristã




Todas as vezes que precisamos recorrer a Bíblia Sagrada para discorrermos sobre um assunto em específico, precisamos ser honestos com o texto sagrado, com as circunstâncias nas quais ele foi escrito e, principalmente, com a totalidade da Escritura. Por isso, ao falarmos sobre o consumo de bebidas alcoólicas precisamos evitar os extremos legalistas (é pecado beber) e antinomianistas (podemos beber sem restrição alguma). Ambos os conceitos não podem ser sustentados biblicamente e, em qualquer um deles, princípios bíblicos serão fortemente quebrados. Por isso, para tratar do assunto, precisaremos fazer uma análise mais ampla para que possamos livremente exercer nossa liberdade de consciência sobre consumir bebidas alcoólicas ou não.



A Bíblia não proíbe o consumo de bebidas alcoólicas



A posição reformada sobre o consumo de bebidas alcoólicas sempre apontou para a moderação e nunca para a proibição. O proibicionismo que vemos no movimento evangélico hodierno foi herdado de movimentos de santidade do final do século XIX, popularizados no Brasil pelos pentecostais e com fortes tendências legalistas.


Por isso, vamos recorrer a revelação para buscarmos discernimento do Senhor sobre o assunto. Ao analisarmos a história narrada pela Escritura, veremos que o consumo de vinho alcoólico sempre esteve presente entre o povo de Deus. No Antigo Testamento, lemos entre tantas passagens que mostram o vinho como parte do costume do povo, o próprio Deus ordenando que o povo comesse, bebesse e se alegrasse em sua presença, como lemos em Dt 14.26:


Lá poderás trocar a prata, o dinheiro, por tudo o que quiseres comer: carne de vaca, ovelha, carneiro, vinho, bebida fermentada, ou qualquer outro alimento que desejares. Então, juntamente com tua família comerás e te alegrarás ali, na presença de Yahweh, teu Deus.

Salomão, em Eclesiastes, considerava o privilégio de comer, beber e se alegrar como um dom de Deus dado à humanidade:


E também que todo o homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto é um dom de Deus. Eclesiastes 3:13

Neemias conclamou o povo a festejar e se alegrar no dia que havia consagrado ao Senhor, recomendando que da fartura que tinham dividissem em amor com os que nada possuíam.


Disse-lhes mais: Ide, comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor; portanto não vos entristeçais; porque a alegria do Senhor é a vossa força. Neemias 8:10

A própria era do Messias seria demonstrada profeticamente como um tempo onde haveria vinho em abundância para o povo.


"Virá o tempo", diz o Senhor , "em que o trigo e as uvas crescerão tão rápido que o povo não dará conta de colhê-los. Vinho doce gotejará das videiras no alto das colinas de Israel. Trarei meu povo exilado de Israel de volta de terras distantes, e eles reconstruirão as cidades destruídas e voltarão a morar nelas. Plantarão vinhedos e jardins, comerão de suas colheitas e beberão de seu vinho. Amós 9:13,14

Como uma máxima a ser observada, o núcleo da lei moral de Deus, expresso nos dez mandamentos, não possui um imperativo “não beberás”. Na lei de Deus, o consumo alcoólico, por si só, não representa imoralidade e, por isso, não se constitui pecado.


No Novo Testamento não existem restrições normativas sobre o consumo de bebidas alcoólicas. Nós observamos no texto bíblico que o vinho esteve presente na última ceia feita com Jesus e com os discípulos (Mc 14.23-25). No seu primeiro milagre, Jesus transformou água em vinho (Jo 2.1-11). O próprio Cristo era reconhecido como alguém que tomava vinho, como podemos ler em Mt 11.19. Se beber fosse por si só uma transgressão, Jesus teria sido reprovado por Deus e jamais poderia se oferecer em sacrifício por nossos pecados. Além disso, Jesus associou seu precioso sangue ao vinho quando instituiu a ceia do Senhor. Se o vinho fosse por si só pecaminoso ou maligno, Cristo jamais teria feito tal associação.


Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo dos publicanos e pecadores. Mas a sabedoria é justificada por seus filhos. Mateus 11:19

Ainda no Novo Testamento, Paulo recomenda que os cristãos “comam e bebam para a glória de Deus” (1 Co 10.31). Ele certamente não tinha em mente comida e água. Como parte de um tratamento medicinal (e para desafiar a consciência dos legalistas), Paulo recomendou a Timóteo que não tomasse somente água, mas que bebesse um pouco de vinho por causa de suas constantes enfermidades (1 Tm 5.23). Nas recomendações dadas para separação de presbíteros, Paulo ensinou que eles não deveriam ser dados ao vinho (1 Tm 3.3) e os diáconos e não poderiam ser dadas a muito vinho (1 Tm 3.8), nem as mulheres idosas da igreja (Tt 2.3). Nenhum destes textos proíbe enfaticamente o consumo de bebida. Essa preocupação, de fato, não deveria ocupar a mente dos cristãos, uma vez que Paulo deixou claro que o Reino de Deus não se refere ao que comemos ou bebemos, mas a nossa vida em contato íntimo com o Senhor Jesus.


Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. Romanos 14:17

Como podemos ver, não é possível sustentar biblicamente que consumir bebida alcoólica seja por si só um pecado. E não é. Isso significa que o cristão pode beber livremente, como qualquer outra pessoa da cultura onde ele está inserido? Não!



A Bíblia faz sérias recomendações sobre o excesso de liberdade e a embriaguez



Igrejas que recomendam por doutrina que os seus membros não consumam bebidas alcoólicas não tomaram essa decisão simplesmente por pouco conhecimento bíblico ou excesso de zelo. Todos nós sabemos os males que o consumo de bebidas alcoólicas pode causar em famílias, ministérios, vida profissional e financeira de pessoas que se deixam dominar pelo vício. Por isso, embora a proibição não seja um caminho bíblico, a liberação também não é.


A nossa liberdade em Cristo jamais deve se tornar uma pedra de tropeço a um irmão mais fraco na fé (Rm 14,15). A liberdade cristã está mais relacionada a servir em amor do que em fazer o que bem entendo (Gl 5.13). Por isso, se a minha liberdade leva meu irmão a pecar, eu próprio estou pecando contra a sua consciência.


É fato que igrejas locais devem ensinar e discipular para que os irmãs “fracos na fé” deixem a fraqueza e o leite espiritual e passem a se alimentar com os temas mais fortes e necessários do evangelho, contudo, dependendo do modo como uma pessoa foi convertida por Cristo, talvez ela precise conviver restrita de prazeres lícitos até o fim de sua vida, uma vez que o pecado batalhará contra ela para novamente torná-la escrava dele (Rm 6.12,13).


Além disso, o povo cristão é chamado a viver uma vida sóbria, cheia do Espírito (Ef 5.18). A sobriedade é um estado de controle total de minhas faculdades morais e intelectuais (1 Pe 1.13; 4.7; 5.8). Uma única experiência de embriaguez me fará pecar contra esta clara recomendação bíblica. Quais seriam as consequências desastrosas de uma atitude impensada ou decisão tomada em um momento de embriaguez? Como isso refletiria em minha vida cristã e no meu testemunho da salvação em Cristo?


Alguns problemas gravíssimos que poder ser ocasionados pelo consumo de álcool, expostos nas páginas da Escritura:


  • Violência, Pv 20.1;

  • Perca de pudor, Gn 9.18; Hc 2.15;

  • Endividamente e empobrecimento, Pv 23.20,21;

  • Perca de sensibilidade corporal e consciência, Pv 23.29-35;

  • Frieza espiritual Is 5.11,12;

  • Perca de equilíbrio e domínio de si, Is 26.7-8;


Perceba que, embora a Bíblia não considere o consumo alcoólico um pecado, ela não se silencia sobre os diversos males que o hábito pode causar. O que Deus deseja nos ensinar com isso? Responsabilidade, tolerância, domínio próprio e moderação!



Quem nunca deve consumir bebida alcoólica?



Muitos irmãos que hoje fazem parte da Igreja de Cristo vieram de conversões traumáticas envolvendo problemas relacionados ao alcoolismo. Neste caso, o abandono do álcool fez parte da experiência de conversão. Estes irmãos, para o bem de suas almas, nunca mais devem chegar perto do antigo hábito e preferencialmente devem evitar relacionamentos e locais onde o consumo alcoólico acontece livremente (Mc 9.43). Essa regra também deve ser seguida por qualquer irmão que, no passado, passou por experiências de embriaguez e tem consciência de que não possui autocontrole quando o assunto é bebida.


E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga, Marcos 9:43

Menores de idade também devem suportar a pressão social e evitarem se aventurar em um mundo para o qual ainda não estão emocionalmente preparados para lidar. Beber não é legal. É uma decisão que deve ser exercida por pessoas maiores de idade, maduras o suficiente para arcarem com as responsabilidades por trás de suas decisões. Ocupe sua adolescência e juventude para buscar a face do Senhor e se deleitar nEle!


Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento; Eclesiastes 12:1

Grávidas e pessoas em tratamento médico devem evitar com determinação o consumo alcoólico, uma vez que isso pode trazer complicações de saúde seríssimas. O seu corpo é templo do Espírito e você deve zelar por ele, para a glória de Deus!


Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? 1 Coríntios 6:19

O que uma pessoa busca no consumo alcoólico?


Um último ponto importante é obter um discernimento sobre o motivo que nos leva a desejar consumir bebidas alcoólicas. O álcool tem ação direta no sistema límbico, do Sistema Nervoso Central, e age como um depressor das funções cerebrais, diminuindo o centro da crítica da pessoa, que fica mais expansiva. A sensação de leveza inicial pode ser uma espécie de fuga para a ansiedade e os problemas. Sendo assim, há aqueles que desejam consumir álcool por necessidade de aceitação social, outros porque de fato gostam do sabor da bebida e outros porque querem fugir por um momento de sua realidade.


O fato é que todas as nossas necessidades psicológicas e emocionais devem estar sendo supridas em Cristo Jesus, por nossa união com Ele (Cl 2.2-12). Então se você consome álcool por pressão social, você está se sujeitando à sociedade e não a Cristo. Se você consome álcool para afogar as mágoas, você está desistindo de ser consolado por Cristo e pelo Seu Espírito. Agora, se você consome bebida alcoólica por prazer, deve ter todo o cuidado de não pecar por embriaguez ou por abuso de sua liberdade cristã, afinal, é bem-aventurado aquele que não se condena naquilo que aprova (Rm 14.22).



Como decidir se eu devo consumir bebida alcoólica ou não?


A Bíblia tem algumas orientações que ajudam a tomar a decisão correta quanto ao álcool. Se pergunte com muita honestidade:


Eu consigo parar de beber quando quiser?

O vício é pecado e é no mínimo inconveniente. Se você não consegue parar, procure ajuda e nunca mais se aproxime do álcool, 1 Co 6.12


Eu consigo me controlar?

Você se mantém em controle quando bebe, ou acaba dizendo ou fazendo coisas que não devia? Escolha sempre a lucidez, Ef 5.18


Está prejudicando minha saúde?

Seu corpo é templo do Espírito Santo; respeite-o. Para algumas pessoas (como grávidas ou pessoas tomando certos medicamentos), até um pouco de álcool pode ser perigoso para a saúde , 1 Co 6.19,20.


Ao consumir álcool, estou dentro da lei?

A Bíblia diz que devemos obedecer à lei. Se você é menor de idade, vai conduzir ou tem outra coisa que restringe legalmente o consumo de álcool, não beba, Rm 13.1.


Minha consciência permite?

Se você não sente paz sobre o assunto, não beba, Rm 14.22-23.



O posicionamento da Igreja Pentecostal Reformada


Tendo apresentado acima uma quantidade considerável de informações a respeito do tema que está sendo exposto, o presbitério da Igreja Pentecostal Reformada entende que o consumo de bebidas alcoólicas por si só não se constitui pecado contra Deus, e para aqueles que o fazem, deve existir moderação, discrição e responsabilidade.


Recomendamos aos irmãos que não consomem bebidas alcoólicas que respeitem em amor os que consomem. Nossa fé não está nessas coisas terrenas, mas em Cristo Jesus. Da mesma forma, os irmãos que consomem bebidas alcoólicas devem seguir com responsabilidade as orientações a seguir:


- O consumo deve ser moderado e pontual. Se você tem a necessidade de consumir álcool diariamente você deixou a moderação há muito tempo e deve se arrepender disso e talvez abandonar de vez o hábito a fim de não incorrer em pecado contra Deus.


- Em passeios e atividades que envolvam o nome da igreja, o consumo de álcool nunca será permitido, uma vez que fatalmente ferirá a consciência de irmãos mais fracos na fé, podendo expor o nome da igreja e o seu bom testemunho cristão.


- Embora seja possível que você consuma uma pequena porção de álcool em um local público sem escândalo (um restaurante, por exemplo), não acreditamos que seja possível um membro da igreja estar sentado em uma mesa de bar consumindo álcool para a glória de Deus. O ato e o local do ato podem representar diferentes motivações e nos expor a diferentes graus de tentações e pecados. A palavra discrição deve ser um importante norteador nessas horas, além do conselho do Salmo 1.1,2.


- O consumo deve ser discreto e deve ocorrer em âmbito privado. Não publique fotos bebendo em redes sociais, evite fazer apologia ao consumo, respeite em amor aqueles que não tem a consciência cristã para se sentirem à vontade com isso, inclusive, nossos irmãos de outras denominações que não compreendem a liberdade para a qual fomos chamados.


- Em eventos e festas particulares, abertos para toda a igreja, nunca deve ser oferecido bebida alcoólica aos convidados. Em encontros menores, onde existe liberdade de consciência entre os participantes, façam tudo para a glória de Deus.


- A Igreja Pentecostal Reformada defende como valores inegociáveis de sua aliança a responsabilidade pessoal, a liberdade de consciência e a tolerância entre os irmãos. Respeitamos os limites pessoais de cada um de nossos irmãos e lembramos que membros que tenham eventos relacionados a embriaguez serão disciplinados localmente, uma vez que isso não condiz com o testemunho que esperamos daqueles que compõe nosso rebanho.


Conclusão


Esperamos com o texto acima oferecer aos membros da IPR material suficiente de reflexão para que possam cumprir os requisitos bíblicos de 1 Co 10.31 em cada detalhe de suas vidas. Fomos chamados à maturidade e à liberdade, sem nunca dar ocasião à carne!


Que Ele nos abençoe!


Pastor Sérgio Fernandes

Pastor Titular da IPR



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