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As Bem-Aventuranças - Sermão de 23/04/2023




Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos aproximaram-se dele, e ele começou a ensiná-los, Mateus 5:1,2

Introdução


Essa é a última reflexão da série Marcos Antigos. Até aqui, estabelecemos nestes estudos que a base da ética cristã é o amor e entendemos que só podemos obedecer a lei de Cristo amando. É claro que agora, surgirão percepções honestas em nosso coração, tais como:


  • Nós não amamos o suficiente;

  • Desse lado da eternamente, jamais seremos capazes de viver integralmente à luz da vontade de Deus.

  • Como Deus lidará com as minhas inadequações?


O apóstolo Paulo reconheceu que, embora vivesse na dimensão da graça de Deus e da nova vida do Espírito, ele ainda enfrentava recorrentes frustrações por falhar em cumprir integralmente a vontade de Deus.


Assim, encontro esta lei: quando quero fazer o bem, o mal reside em mim. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus. Mas vejo nos meus membros outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, sou escravo da lei do pecado. Romanos 7:21-25

O ensino das bem-aventuranças surge exatamente nesse contexto.


Elas são um convite gracioso para abraçarmos a nossa própria inadequação e celebrarmos a nossa união com Cristo.


A salvação é uma obra dEle e Ele nos conduzirá a um estado de felicidade e bem-estar espiritual que nos preparará para o perfeito estado eterno, onde esses ideais atingirão a sua perfeição.


É sobre isso que pretendo falar nessa manhã!






Evitando as incompreensões sobre o tema


A primeira coisa que precisamos entender, na ética e no ensino de Jesus, é que as bem-aventuranças não são uma lista de leis que devemos seguir rigorosamente. Isso transformaria essas bençãos em uma forma sofisticada de legalismo religioso.


A segunda coisa que devemos ter em mente é que o alto padrão do sermão da montanha, em especial das bem-aventuranças, foi cumprido somente por um homem, Jesus Cristo. Cada um de nós, como aprendizes dEle, somos encorajados a experimentá-las, apesar de nossa santificação ainda ser incompleta. Nenhum homem viverá integralmente as perspectivas desses ensinos deste lado da eternidade!


A terceira coisa importante é que não devemos tomar esses ensinamentos somente pela perspectiva futura, como se nós não pudéssemos experimentar, em vida, a alegria aqui prometida. Jesus estava falando aos seus discípulos (Mt 5.1) a respeito do Reino (vv.3) que Ele inaugurou com a sua presença histórica no mundo. Cada discípulo de Jesus já vive, pela redenção, parcialmente os ideais das bem-aventuranças, devendo crescer neles ao longo de sua comunhão pactual com Cristo.



O que são as bem-aventuranças?


A palavra que traduzimos como bem-aventurança vem do grego 'makarios', que poderia ser traduzido como 'mais do que feliz'. A teologia refomada reconhece que as bem-aventuranças representam o bem-estar concedido pelo Senhor para todos os seus fiéis, que pertence a eles graças a redenção que há em Jesus Cristo.


Provavelmente, a vida em abundância (Jo 10.10), prometida por Jesus, aponta para a realidade das bem-aventuranças experimentadas no viver cotidiano.


O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. João 10:10

As bem-aventuranças não são mandamentos a serem obedecidos, mas a revelação das promessas que já vivemos e ainda viveremos como súditos do Rei Jesus. A salvação nos introduz no Reino de Deus e ao fazermos parte do governo soberano do Senhor, nosso coração é tocado para vivermos a ética desse Reino.


Ele nos libertou do poder das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, Colossenses 1:13

As bem-aventuranças nos recordam que Deus não abençoa as pessoas levianamente ou indiscriminadamente – Ele abençoa seu povo de acordo com sua aliança de constante amor por nós.


Nem todos são abençoados. Somente aqueles que estão em aliança com Deus são abençoados, e somente aqueles que foram redimidos por Jesus Cristo são bem aventurados.


Jesus satisfez a condição por sua vida perfeita e morte expiatória substitutiva.



Uma breve apresentação das bem-aventuranças


Pretendo, no futuro, dedicar oito semanas para refletirmos em cada uma das bem-aventuranças. Hoje, faremos uma breve análise de cada uma delas, entendendo seu contexto e como elas nos orientam sobre o tipo de vida que agrada a Deus.


— Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Mateus 5:3

Essa primeira bem-aventurança é a coroa de todas as afirmações posteriores.


Ela afirma que o Reino de Deus pertence aos que reconhecem a sua própria miséria espiritual. É o oposto da autossufiência. O pobre de espírito reconhece sua falência espiritual e a sua necessidade urgente da graça de Deus.


Cada ser humano é destituído da glória de Deus, mas a maior parte deles não enxerga a própria miséria e vive a sua vida como se Deus não existisse. Mas há aqueles que foram iluminados pelo Espírito Santo e que tiveram seus olhos abertos; eles viram a imundícia de seus pecados e passaram a desejar a libertação dessa escravidão pela graça de Cristo.


Não há promessa bíblica para os soberbos, para os arrogantes, para os orgulhosos, para os autossuficientes. Um coração transformado por Cristo lutará contra essas malignas inclinações.


Mas aos falidos que clamam pela graça, a Bíblia diz: o Reino de Deus pertence a vocês!


Assim como Cristo se esvaziou, o pobre de espírito se esvazia também, para receber o verdadeiro tesouro: a presença de Deus no coração.



— Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Mateus 5:4


O fato de termos consciência de nossa falência espiritual cria em nós uma tensão terrível, muitas vezes insuportável, pois nós conhecemos a lei de Deus e sabemos que falhamos em obedecê-la.


Quantas vezes eu não me olho no espelho e digo: eu não estou vendo Jesus Cristo nessa imagem que está a minha frente.


O resultado disso é um choro esperançoso. São lágrimas que derramamos por desejar ardentemente vencer o pecado e viver uma vida íntegra com Deus. Todos os que dessa forma se derramam diante de Deus serão consolados, porque no Reino Eterno não haverá qualquer fragmento de pecado ou do mal.


Ímpios choram porque suas postagens não tem likes, ou porque o vizinho trocou de carro e eles não. Choram por não fazerem viagens caras de final de ano ou por não aparecerem na capa de revistas.


Crentes choram porque falham em dar glórias a Deus!


Hoje, quando peco (pastores pecam também), sou consolado pela graça de Cristo que já me perdoou, mas chegará o dia em que não haverão lágrimas em meus olhos, porque já as primeiras coisas terão passado e o perfeito estado eterno estará diante de nós!


Cristo chorou pelos pecados da nação e nós choramos na batalha contra os nossos próprios pecados. Mas há consolação perfeita no sacrifício que Jesus ofereceu por nós!



— Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. Mateus 5:5


A busca desenfreada por poder a qualquer custo é a caracteristica dessa geração. Guerras, conflitos, cisões e tantas coisas ruins são resultado desse mal. Como súditos do Reino, somos chamados a nos submetermos humildemente a Deus.


A mansidão bíblica é o resultado do toque de Jesus em nosso coração, que nos leva a aceitarmos o seu jugo, que é suave e o seu fardo, que é leve. É o oposto de uma vida agitada e desregrada.


A graça "amansa" o animal selvagem que há dentro de nós, nos tornando como Jesus, que era manso e humilde de coração, aceitando a vontade do Pai Celestial.


Quando observamos vidas repletas de instabilidades, vícios, 'vacilos' e uma busca desenfreada por poder e autossatisfação, estamos testemunhando alguém que ainda não foi devidamente amansado por Cristo.


O súdito de Jesus, contudo, conserva para si o autocontrole temente a Deus, porque ele confia no Rei e aceita a Sua vontade. E a promessa bíblica é perene: vocês herdarão a terra! A herança eterna será conquistada com temor e sem guerra.


Cristo sofreu como ovelha muda perante os seus tosquiadores, porque mansamente se submeteu a Deus. E a sua mansidão nos trouxe salvação!


— Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Mateus 5:6


Fazendo um profundo contraste com a postura hipócrita dos fariseus, Jesus afirma que seus discípulos tem fome e sede de justiça. Enquanto os fariseus buscam ser justos para serem vistos pelos homens, os discípulos de Cristo deveriam buscar a verdadeira justiça, aquela que provém da fé não em si mesmo, mas no Salvador.


Todos aqueles que consideram a Bíblia a Palavra de Deus reconhecem os altos padrões da santidade divina e a nossa incapacidade de obedecê-los integralmente. Somente a justiça de Cristo pode nos revestir para habitarmos na presença de Deus.


Por isso, o discípulo de Cristo não tenta mostrar uma justiça que ele não possui. Ele humildemente abraça a justiça que Cristo conquistou com sua morte e ressurreição. Os que buscam essa justiça serão, pela promessa bíblica, saciados!


Cristo cumpriu a lei de Deus para cada um dos seus fiéis e essa obediência é creditada e nossa conta! Nós vivemos pelos resultados do penoso trabalho dele! A nossa salvação não custou nosso suor, mas custou todo o sangue que Ele verteu na cruz!


— Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Mateus 5:7

Nossa sociedade valoriza a força acima da compaixão. A graça, contudo, nos ensina que somos recipientes indignos da misericórdia de Deus. Ele não nos perdoou porque somos bons, mas porque Ele é bom!


A misericórdia não é uma recompensa que alcançamos por nossos esforços, Deus é misericordioso conosco graciosamente. O sentimento que surge em nosso coração pela misericórdia imerecida é tratarmos uns aos outros com a mesma compaixão.


A promessa bíblica para quem segue esse caminho é a de que as misericórdias sobre sua vida sempre se renovarão. Na ética do reino, não perdoar é uma das ofensas mais graves que podemos cometer. Deus perdoa o pecador para nos ensinar o poder do perdão.


Assim como Cristo perdoou nossos pecados morrendo na cruz, devemos liberar o perdão mesmo se isso for para nós representar um grande sacrifício. Quem perdoa reflete a imagem de Deus!


— Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus. Mateus 5:8

A pureza de coração é resultado da aplicação da redenção sobre o pecador. Enquanto vivemos escravos do pecado (Jo 8.34), estamos destituídos da glória de Deus e incapazes de contemplar o Rei Eterno e invisível.


Quando nosso coração é lavado no sangue do Cordeiro, passamos a enxergá-lo pela percepção da fé. Ele se manifesta aos que o amam e obedecem seus mandamentos (Jo 14.21).


Eu percebo que todas as vezes que meu coração é contaminado com algum pecado, eu deixo de ver a Deus e passo a ver os defeitos do meu irmão. Mas quando me arrependo e busco a purificação que há no sangue de Jesus, eu passo a ver a Deus pela fé.


A promessa para aqueles que são purificados é que a percepção se tornará realidade um dia. Hoje eu creio em Cristo, mas chegará o dia em que eu o verei como Ele É. Para isso Cristo morreu: para que os cegos possam ver!


— Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Mateus 5:9

A realidade do conflito que existe entre povos, tribos e nações é resultado da alienação do homem para com Deus. Jesus, com sua morte histórica na cruz, desfez a barreira que dividia a humanidade e uniu no mesmo corpo, que é a igreja, pessoas de toda raça, tribo e nação.


A reconciliação que Cristo promoveu com o sangue da sua cruz pacifica o coração dos súditos do reino, tornando-os, individualmente, agentes de pacificação. Um mundo fragmentado como o nosso necessita da manifestação dos filhos de Deus. Somente uma Igreja viva pode reconciliar os irreconciliáveis. O fim do ódio só acontecerá com o avanço do evangelho.


Por isso, onde uma igreja bíblica é organizada, ali se inicia uma ação invisível de pacificação: homens são reconciliados por Deus pelo evangelho e levam da paz que recebem para aqueles que estão vivendo em conflito.


O castigo que nos trouxe a paz foi conquistado pelo sofrimento de Cristo na cruz. Pelas suas pisaduras fomos sarados. A promessa desta bem-aventurança é que seremos reconhecidos como filhos de Deus. O Deus da Paz manifestará ao mundo uma igreja pacificadora.


— Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. — Bem-aventurados são vocês quando, por minha causa, os insultarem e os perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vocês. Mateus 5:10,11

A nossa posição como filhos de Deus resultará em sofrimento recorrente. O fato de não nos curvarmos ao paganismo desse mundo e rejeitarmos seus padrões contaminados pelo pecado gerarão inevitavelmente perseguições, sejam elas físicas ou ideológicas.


É impossível viver piedosamente sem sofrer alguma forma de perseguição. Obviamente, essa perseguição não é aquela causada quando nos posicionamos de modo incoerente com os valores do reino. É uma perseguição em resultado de nossa lealdade a Cristo.


Assim como Cristo foi morto pela ira dos homens, a Igreja, seu corpo, deve esperar sofrimentos inclusive que levem a morte. Mas a bem-aventurança promete a quem vive tais perseguições que o Reino de Deus lhe pertence.


Assim como participamos dos sofrimentos de Cristo, participaremos de Sua glória também!



CONCLUSÃO


Como vimos, as bem-aventuranças representam o caráter perfeito vivido e cumprido pelo Senhor Jesus e, ao mesmo tempo, o padrão ético que Ele espera de nós, súditos do Seu Reino.


Nós vivemos nesta realidade, onde participamos das bençãos advindas da redenção e nos esmeramos para vivermos os ideais propostos pelo Rei àqueles que Ele eficazmente chamou para salvação.


Se você deseja participar dessa benção, você precisa receber o toque de Jesus Cristo.


Sua vida de pecados ofende a santidade de Deus. Se você não se arrepender do seu desprezo por Deus e pelo Seu Filho Jesus Cristo, você permanecerá debaixo da maldição da lei, morrerá em seus pecados e será julgado por um Deus Santo que abomina toda forma mal.


Esse Deus Santo, contudo, revelou Seu plano para tornar pecadores amaldiçoados em seres bem-aventurados. Como?


Pela morte e ressurreição de Seu Filho Jesus! Deus enviou Jesus para resgatar aqueles estavam debaixo da escravidão do pecado.


Todo aquele que crê no Filho não perece. Mas todo aquele que rejeita o Filho, a ira de Deus permanece sobre Ele.


O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas suas mãos. Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece. João 3:35,36

O último marco antigo a ser redescoberto é esse: Cristo promete abençoar todos aqueles que foram resgatados dos seus pecados e creram nEle de coração! Estes bem-aventurados serão moldados por Deus como vasos de honra e pelo poder da graça de Cristo, viverão a ética do Reino já nesse mundo, e a experimentarão em sua completude, quando Ele voltar!


Que Deus nos ajude a viver a plenitude da benção de Cristo!


Pastor Sérgio Fernandes

Pastor Titular da IPR

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