Aprendendo com a dor - Sermão 11/07/2021

E orou Jonas ao SENHOR, seu Deus, das entranhas do peixe. Jonas 2:1

Introdução

O primeiro capítulo de Jonas tem a finalidade de nos posicionar biblicamente sobre o personagem e a sua história de fuga do Senhor e do chamado que havia recebido. Como tivemos a oportunidade de ler, o profeta começa o primeiro capítulo ouvindo a voz de Deus e termina ouvindo o estômago do grande peixe. Uma grande derrocada.

O sofrimento, contudo, fez bem a Jonas, auxiliando o profeta a entender melhor a vontade de Deus e o seu plano. Uma vez que a voz de Deus, o barulho do mar e a grande tempestade não tiveram sucesso em constrangê-lo a obedecer seu chamado, o sofrimento foi o mecanismo utilizado para despertar sua atenção. Nesta reflexão, quero meditar com vocês sobre o modo como Deus pode usar a dor para despertar os homens de sua sonolência espiritual. Que Ele fale aos nossos corações.

relembrando

Os últimos três versículos do capítulo 1 de Jonas são o pano de fundo dos acontecimentos narrados no capítulo 2. Após tentar fugir de Deus, o profeta se viu em apuros quando o Senhor decidiu lançá-lo nas profundezas do mar, onde um peixe gigantesco já estava ordenado a tragá-lo e impedir sua morte.

E levantaram a Jonas, e o lançaram ao mar, e cessou o mar da sua fúria. Temeram, pois, estes homens ao Senhor com grande temor; e ofereceram sacrifício ao Senhor, e fizeram votos. Preparou, pois, o Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe. Jonas 1:15-17

Deus, por uma decisão soberana, manteve Jonas em um estado dificil de descrever. Ele havia sido lançado ao mar, mas não morreu. Mas por ter sido tragado vivo por um peixe, tampouco podemos afirmar que ele estava seguro. Essa "quase morte" era a circunstância perfeita para que ele se concentrasse em Deus e se arrependesse da desobediência e obstinação do seu coração.

Há situações extremas em nossa vida em que Deus precisa permitir o sofrimento para aprendermos lições que não quisemos aprender de outra forma. É fato que nem todo sofrimento seja correção, mas o crente deve sempre orar ao Senhor quando algo acontece "fora do planejamento" para discernir o motivo por trás dessas experiências. Foi exatamente o que Jonas fez, e Deus ouviu a sua oração!

a oração de jonas

E disse: Na minha angústia clamei ao Senhor, e ele me respondeu; do ventre do inferno gritei, e tu ouviste a minha voz. Jonas 2:2

Um homem pode ser levado a orar sob diversas circunstâncias. Alguns oram de alegria, outros, por dependência, outros com raiva, outros com prazer e outros oram por mera religiosidade. Jonas orou na angústia. Após sentir o peso de sua desobediência e colher o resultado dela, na pouca vida e esperança que lhe restava ele decidiu orar. Uma decisão sensata após tanta loucura.

O fato é que nunca é tarde para orar. Podemos ter tomado decisões ruins, ter cometido pecados grosseiros, ter feito atos injustos ou até mesmo vergonhosos, mas o caminho que nos leva de volta à vontade de Deus passa por clamarmos ao nosso Criador. Jonas entendeu que somente clamando ao Senhor poderia aliviar as dores e angústias que sentia. E o interessante é que a Escritura afirma que Deus o respondeu! Aleluia!

Porque tu me lançaste no profundo, no coração dos mares, e a corrente das águas me cercou; todas as tuas ondas e as tuas vagas têm passado por cima de mim. Jonas 2:3

Sensibilizado pela dor, Jonas enxergou com clareza Deus e a Sua soberania. Podemos teorizar muito sobre o Criador, mas somente quando sentimos o peso de Sua mão, seja nos amparando ou nos corrigindo, é que passamos a compreender melhor quem Ele É. E nessa condição miserável, Jonas exergou ao Senhor como Ele É.

Repare as palavras da oração. "Senhor, foi tu que me lançaste no profundo". "As tuas ondas e as elevações dos mares estão passando por sobre mim". Jonas entendeu que o universo segue as ordens de Deus. As ondas são de Deus. As vagas também são. A criação pertence a Ele, e a nossa vida também. Nada está encoberto diante dos olhos do Senhor e nada acontece sem a sua condução e permissão.

E eu disse: Lançado estou de diante dos teus olhos; todavia tornarei a ver o teu santo templo? Jonas 2:4

Jonas discerniu que a sua desobediência havia causado aquele sofrimento e agora, inspirado pela dor da separação, sentiu na alma o desejo pela presença de Deus. Quando converso com irmãos afastados do evangelho, ouço de boa parte o lamento por ter perdido a comunhão com Cristo. O pecado parece atrativo, mas ele é um assaltante cruel e persistente. Jonas entendeu a duras penas que era melhor sofrer obedecendo a Deus do que desobecendo.

Jonas tinha a alegria da comunhão com Deus, mas deu ouvidos a voz do pecado o chamando a desobediência. Ele tinha a coragem da fé, mas deu ouvidos ao medo e sucumbiu. Gozava da esperança que havia diante de Deus, em seu santo templo, mas agora estava quase morrendo na barriga do peixe. Suas palavras são tão melancólicas: "todavia, tornarei a ver o seu santo templo"?.

As águas me cercaram até à alma, o abismo me rodeou, e as algas se enrolaram na minha cabeça. Eu desci até aos fundamentos dos montes; a terra me encerrou para sempre com os seus ferrolhos; mas tu fizeste subir a minha vida da perdição, ó Senhor meu Deus. Jonas 2:5,6

Para mostrar para Jonas a realidade de uma vida de desobediência, Deus determinou ao peixe que fizesse um passeio com o profeta pelas profundezas dos mares. Na poesia dele, ele descreve que desceu até o fundamento dos montes e as algas se enrolaram na sua cabeça. Deus primeiro permitiu que o profeta quase morresse, para depois livrá-lo da sua perdição.

Haverão momento em que Deus permitirá que sejamos levados aos extremos, para ali, nos recordarmos dEle com dependência, arrependimento e rendição. Todo homem de fé passará por momentos de tensão espiritual em sua vida, para que dessa maneira, seu coração seja moldado para adorar e glorificar ao nome do Senhor.

Quando desfalecia em mim a minha alma, lembrei-me do Senhor; e entrou a ti a minha oração, no teu santo templo. Jonas 2:7

No pior dia de sua vida, Jonas se lembrou de Deus. Que tristeza, afinal, como Jonas, muitas vezes nos recordamos do nosso Senhor apenas em momentos ruins. Deus deseja nos ouvir em cada momento! Está alegre? Fale com Deus! Está grato? Fale com Deus. Subiu um degrau de sucesso? Agradeça. Está precisando tomar decisões? Fale com Ele! Construa uma vida de profunda dependência da graça de Deus, para o agradá-lo em todas as coisas!

E veja só, apesar de ter se lembrado de Deus somente no dia mau, a Bíblia afirma que a oração de Jonas "entrou" na presença do Senhor! Jonas queria estar no templo, mas ele descobriu que poderia ter comunhão com Deus até na barriga do peixe. Quando decidimos viver uma vida de profunda dependência do Senhor, cada lugar e cada segundo são oportunos e neles construímos um altar para, em Cristo, adorarmos ao Senhor!

Os que observam as falsas vaidades deixam a sua misericórdia. Mas eu te oferecerei sacrifício com a voz do agradecimento; o que votei pagarei. Do Senhor vem a salvação. Jonas 2:8,9

Jonas, num lampejo de memória, se recordou dos marinheiros oferecendo sacrifícios aos falsos deuses, o que foi ineficiente para acalmar a tempestade. Ele sabia perfeitamente que o coração idólatra do homem procurará preencher o espaço que é de Deus com ídolos, vícios, prazeres ilícitos e pecados que não podem ser nomeados. Recusam-se em receber a misericórdia que é ofertada com amor pelo Criador!

Mas Jonas, constrangido pela mão de Deus, decide fazer o certo: ele vai oferecer sacrifícios com voz de agradecimento e pagar os seus votos. Nessa declaração, o profeta assume o compromisso de retribuir a segunda chance que recebeu cumprindo a vontade de Deus. Se o Criador é o Deus de tudo e de todos, Jonas não deixaria de anunciar a palavra divina aos pagãos ninivitas. Em suas palavras, ele reconhece que a salvação vem do Senhor.

da dor, veio o aprendizado

Após orar ao Senhor, Jonas testemunhou o grande milagre: Deus ordenou ao peixe que o vomitasse de volta à terra. O que o Senhor havia determinado para a morte de Jonas, Ele usou também para lhe dar vida. Jonas deixou a terra e foi ao mar para fugir de Deus, mas o mar devolveu Jonas à terra porque terra e mar pertencem ao Senhor!

A cruz de Jesus Cristo nos mostra como Deus é especialista em usar a dor para produzir vida. Jesus sofreu o flagelo por nossos pecados, mas pelas suas pisaduras nós fomos sarados. Ele levou na cruz os nossos pecados e ali, sofreu toda a ira de Deus que pertencia a cada um de nós. Mas a sua dor foi nossa cura! Na chamada vocacional de Deus à cada um dos seus eleitos, dias de dor e angústia não são opcionais: elas fazem parte do que significa ser humano, afinal, a Igreja carrega consigo parte dos sofrimentos de Cristo. De nossos dias maus, das cinzas que nos cobrem, o Senhor espalha a sua consolação sobre as pessoas que servimos e revela a graciosidade do amor de Cristo, que pode salvar todo tipo de gente!

trazendo sempre no corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus, da mesma forma, seja revelada em nosso corpo. 2 Corintios 4.10

Hoje o Senhor quer nos ajudar a ressignificar o nosso sofrimento. Talvez nossas dores sejam consequências de nossa desobediência, mas podem ser também parte natural do chamado que recebemos, não importa, podemos, pelo exemplo de Cristo, tirar aprendizado da dor e nos concentrarmos na bendita esperança que temos, de estarmos unidos para sempre com Cristo.

A dor nos ensina a depender de Deus;

A dor nos ensina que nosso lar não é aqui;

A dor nos ensina a termos empatia pelo nosso semelhante;

A dor nos ensina a valorizarmos o que é eterno;

A dor nos ensina a nos desapegarmos das coisas mundanas;

A dor nos ensina que nosso verdadeiro tesouro é Cristo no coração;

A dor nos ensina que há um novo mundo preparado para nós;

A dor faz os eleitos se achegarem, e os reprovados se afastarem...

A dor nos ensina... ah, como ela nos ensina...

Que Deus, nosso Pai, nos ensine, mesmo em meio as dores, o tamanho do seu amor e a profundidade da graça que Ele disponibiliza para nos salvar. A Ele a glória para sempre!

Que Ele nos abençoe!

Pastor Sérgio Fernandes

Pastor Titular da IPR