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Acolhendo Minorias - Sermão de 21/07/2024

Atualizado: 23 de jul.





“Esta é uma afirmação digna de confiança, e todos devem aceitá-la: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores”, e eu sou o pior de todos.” 1 Timóteo‬ ‭1‬:‭15‬ ‭NVT‬‬


Introdução


Eu nasci na década de oitenta, no já distante ano de 1980. Tempo bom, marcado por boa música, clássicos do cinema e uma cultura pouco politizada. O reflexo disso percebia-se na sociedade.


À parte da desigualdade social, sempre presente em nosso país, não havia grande disparidade entre as pessoas. Reconhecíamos uns aos outros como homem e mulher. A polarização era pouco perceptível, quase inexistente.


Os costumes sociais eram outros, herança da moralidade judaico cristã que fazia parte da formação católica de nosso povo.


Esse cenário é radicalmente diferente hoje.


A fragmentação social é gigantesca. Existem dezenas (talvez centenas) de nichos culturais, acolhendo todo tipo de gente.


A moralidade atual não se parece nada com a que recebi em minha formação. A nova moralidade só tem uma regra, na verdade: é proibido discordar.


Algumas coisas, contudo, ainda são as mesmas:


  • todos pecaram, e estão afastados do propósito de Deus, Rm 3.23

  • O salário do pecado ainda é a morte, Rm 6.23

  • O dom gratuito de Deus ainda é a vida eterna em Cristo, Rm 6.23

  • Jesus é o único caminho para Deus, Jo 14.6


A Igreja não deve estar amarrada com a cultura, afinal, isso a impedirá de olhar para a sociedade atual da mesma forma que Jesus olharia. Resgatar o evangelho e a urgência da missão é o maior desafio que temos atualmente.


Vou desenhar para que vocês entendam exatamente o que estou falando:


  • A Igreja recebeu das Escrituras uma boa notícia de salvação e uma coleção de valores éticos e morais que são eternos e que Deus exige de todo Seu povo, de todas as épocas e de qualquer cultura, e que não podem ser alterados;


  • A mudança na sociedade não desidrata nossa missão: precisamos pregar com amor o evangelho a todos os tipos de pecadores, discipular os que se convertem e não impor agendas culturais que não sejam biblicamente ordenadas.






UM PROBLEMA UNIVERSAL


Como explicamos na reflexão da semana anterior, o ponto de partida para entender a fé cristã é entendermos uma palavrinha chamada pecado. As Escrituras afirmam que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). Essa afirmação significa, num português simplificado, que cada ser humano da face da terra (inclusive eu que falo com vocês) é inadequado para viver diante de um Deus Santo e que não tolera o pecado.


Pois todos pecaram e não alcançam o padrão da glória de Deus, Rm 3.23

A afirmação "todos" é importantíssima no contexto. No mundo bíblico e no contexto da epístola aos romanos, "todos" representavam judeus e gentios (essa era a divisão mais significativa existente no mundo antigo pela ótica das Escrituras). Hoje, vivemos em um mundo radicalmente fragmentado. E a expressão "todos" deve despertar nossa atenção para que reconheçamos que cada grupo social existente no mundo, seja ele minoria ou não, necessita ouvir o evangelho de Nosso Senhor!


Não importa se você faz parte de um grupo social volumoso ou de uma minoria. Os seus pecados fazem separação entre você e Deus.


E, me perdoe a ousadia de falar amorosamente ao seu coração: sua opinião não será levada em conta no dia do Juízo do Grande Deus.


O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus!


Pois o salário do pecado é a morte, mas a dádiva de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor. Rm 6.23

Ao ressaltar a universalidade do pecado, Paulo chama nossa atenção para a ampla disponibilidade da salvação pela fé em Jesus Cristo, Nosso Senhor.



UMa solução UNIVERSAL


Assim como o pecado é um problema que atinge qualquer tipo de ser humano, a solução oferecida por Deus também pode salvar qualquer tipo de pecador. O evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê.


Pois não me envergonho das boas-novas a respeito de Cristo, que são o poder de Deus em ação para salvar todos os que creem, primeiro os judeus, e também os gentios. As boas-novas revelam como Deus nos declara justos diante dele, o que, do começo ao fim, é algo que se dá pela fé. Como dizem as Escrituras: “O justo viverá pela fé”. Rm 1.16,17

Uma leitura na epístola aos Romanos demonstra que, diferente de nós, Paulo não estava culturalmente aprisionado quando pregava o evangelho.


As vezes imaginamos que a sociedade dos tempos de Jesus era pura e muito diferente da nossa. Na verdade, o mundo greco-romano da época possuía questões sociais e culturais abrangentes tão desafiadoras como as atuais.


Práticas como escravidão, imposição do culto ao imperador, paganismo de grandes proporções, casamentos arranjados, ampla promiscuidade sexual e outros compunham desafios para a Igreja, que precisava ser fiel à Palavra enquanto vivia em uma sociedade cheia de diversidade.


Paulo parece não se concentrar nisso. Ele simplesmente chama os pecadores para abandonarem seus pecados e crerem no evangelho.


Agora, porém, conforme prometido na lei de Moisés e nos profetas, Deus nos mostrou como somos declarados justos diante dele sem as exigências da lei:, Rm 3.21

Para o problema da culpa, Deus nos dá a boa notícia da justiça: há uma forma de sermos livres da condenação eterna.


Ao citar a Lei e os Profetas, Paulo dignifica a nossa religião. Hoje, cristãos são recorrentemente tratados como preconceituosos por algumas minorias da sociedade.


De fato, alguns crentes de quarta-série têm atitudes que não são compatíveis nem sequer com a ética cristã.


Mas nossa fé é milenar, sobreviveu a mudança nos tempos e na cultura e ainda hoje salva os pecadores que Deus escolheu para si.


Por isso, quando alguém se dirige a mim, como cristão, me chamando de preconceituoso, costumo responder: os valores que professo como cristão foram dados por um Deus Eterno, foram provados ao longo da história humana e permaneceram. O verdadeiro preconceito, nessa base, está naquele que não é capaz de aceitar nossas convicções.


somos declarados justos diante de Deus por meio da fé em Jesus Cristo, e isso se aplica a todos que creem, sem nenhuma distinção. Rm 3.22

Veja, Deus revelou a fé pessoal em Jesus Cristo como o único caminho para um pecador ser declarado justo diante dEle. Isso se aplica a "todos que creem". Qualquer tipo de pecador pode se achegar a Jesus e encontrar perdão.


Não somente os nossos tipos de pecadores favoritos.


Pois todos pecaram e não alcançam o padrão da glória de Deus, mas ele, em sua graça, nos declara justos por meio de Cristo Jesus, que nos resgatou do castigo por nossos pecados. Rm 3.23,24

A graça de Deus está no cerne de nossa religião e ela está acima da cultura.


O que Deus nos oferece não está baseado em virtude ou mérito (porque não os temos, afinal, nossas obras são como trapos imundos, Is 64.6), muito menos Deus está propondo salvação por nos julgar vítimas da sociedade (nós somos pecadores por natureza e culpados pelo pecado).


O Deus Santo simplesmente decidiu amar seres humanos pecadores que merecem a condenação.


E para resgatá-los, Ele Soberanamente ofereceu Cristo como preço de nosso resgate.


Deus apresentou Jesus como sacrifício pelo pecado, com o sangue que ele derramou, mostrando assim sua justiça em favor dos que creem. No passado ele se conteve e não castigou os pecados antes cometidos, Rm 3.25

Veja, foi Deus quem apresentou Jesus como sacrifício pelo pecado. Ele não morreu por ser um revolucionário, Ele morreu pela determinação de Deus para ser o substituto na cruz daqueles que serão salvos dos seus pecados.


Esse sacríficio demonstrou a 'justiça de Deus' em favor dos que crêem.


A expressão 'justiça' no Novo Testamento se refere ao modo pelo qual o Deus Santo declara pecadores justos em Sua presença. Como afirma o apóstolo, isso acontece quando esses pecadores crêem em Jesus.


pois planejava revelar sua justiça no tempo presente. Com isso, Deus se mostrou justo, condenando o pecado, e justificador, declarando justo o pecador que crê em Jesus. Rm 3.26

Ao enviar Jesus para morrer na cruz do Calvário, Deus mostrou sua justiça. Como um Deus Justo, Ele puniu em Cristo o pecado de todos os que receberão o dom da salvação.


Naquelas seis horas pendurado no madeiro, Jesus sofreu toda a ira de Deus! É uma cena histórica angustiante, mas necessária, para que a justiça de Deus fosse satisfeita.


Paulo continua afirmando que Deus se mostrou justificador, declarando justo o pecador que crê em Jesus.


Uma vez que as transgressões de cada pecador eleito já foram punidas em Cristo, Deus, sendo justo, não pode punir novamente os pecados que já foram pagos por Seu Filho.


Portanto, com base nos méritos de Cristo, Deus coloca na conta de cada pecador arrependido a vida perfeita que Jesus viveu, declarando-o assim sem culpa diante dEle.


Como podemos ter certeza de que isso é verdade? Paulo afirma que a ressurreição histórica e incontestável de Jesus prova a verdade da fé cristã.


Ele foi entregue à morte por causa de nossos pecados e foi ressuscitado para que fôssemos declarados justos diante de Deus. Rm 4.25

O sacrifício de Cristo pode salvar qualquer pecador. Não apenas os pecadores que 'aprovamos', mas todo tipo de pecador, de qualquer grupo social, inclusive, dentre as minorias.



SOMENTE O EVANGELHO


Como vimos, a boa notícia da salvação estabelece um padrão divinamente revelado e que não pode ser ignorado: todos pecaram, esses pecadores estão distribuídos em diversos nichos e camadas sociais e só Jesus pode salvá-los da condenação.


Se quisermos, como igreja, romper com a imposição da cultura e das ideologias políticas sobre nossa vocação e missão, precisamos abrir mão desses filtros perniciosos e nos apegarmos somente com a revelação das Escrituras e com o evangelho da graça.


Quando um cristão não bíblico vê uma pessoa introduzida em algum nicho cultural ou minoria, passa a tratá-lo como um caso perdido. Nenhum texto da Bíblia nos autoriza a termos essa abordagem.


Veja, Paulo afirmou ser "o pior dos pecadores", 1 Tm 1.15, levando em conta seu estado antes da conversão. Ele era um homem religioso e acima de qualquer suspeita.


Mas, tocado pela graça de Cristo, reconheceu a depravação do seu próprio coração.


Ora, se o pior foi salvo, qualquer pecador pode ser salvo.



COMO LEVAR O EVANGELHO A MINORIAS SOCIAIS?


Uma vez que estabelecemos que o evangelho transforma qualquer pecador, devemos agora nos aplicar a como estabelecer pontes com minorias sociais para compartilharmos essa mensagem ao seu coração.


Vamos definir o que são minorias sociais: Minorias sociais são grupos de pessoas que possuem características culturais, étnicas, religiosas, econômicas ou de gênero que os diferenciam da maioria dominante da sociedade.


Esses grupos geralmente enfrentam desigualdades sociais, políticas e econômicas e podem ser alvo de discriminação, preconceito e marginalização.


Eu creio piamente que Jesus deseja salvar multidões dentro das minorias sociais!


As aplicações que faço a partir desse momento são de caráter pastoral, encorajando cada membro da IPR a olhar com misericórdia para as minorias, acreditando em sua conversão pela graça de Jesus Cristo.


  • Primeiro, precisamos firmar em nosso coração que acolher minorias não se trata de aprovar condutas incompatíveis com os valores da fé evangélica, mas sim, em não negar a graça para outras pessoas simplesmente porque elas são diferentes de nós. Da mesma forma, não devemos considerar que santidade / santificação seja um sinônimo de desprezo à grupos cujos pecados nós reprovamos com mais veêmencia. Jesus foi santo e nunca desprezou nem sequer um pecador. Os fariseus e mestres da lei o criticavam, dizendo: “Ele se reúne com pecadores e até come com eles!”. Lucas 15.2

  • Reconhecendo a verdade de que cada pessoa carrega consigo a imagem de Deus, nosso tratamento dispensado às minorias deve ser amoroso e respeitoso. Ofender qualquer minoria social é incompatível com os valores de fé que recebemos de Jesus e sustentamos. Nossas divergências éticas e morais podem ser gritantes, mas estamos falando de pessoas que tem uma alma e que devem ouvir a boa notícia de salvação. Amor, gentileza e cordialidade são pregações muito eficazes. Em vez disso, consagrem a Cristo como o Senhor de sua vida. E, se alguém lhes perguntar a respeito de sua esperança, estejam sempre preparados para explicá-la. Façam-no, porém, de modo amável e respeitoso. Mantenham sempre a consciência limpa. Então, se as pessoas falarem mal de vocês, ficarão envergonhadas ao ver como vocês vivem corretamente em Cristo. 1 Pe 3.15,16

  • Terceiro, nossa abordagem com as minorias sempre deve ser com o evangelho, e nunca com a nossa cartilha religiosa e cultural. O maior erro que cometemos é tentar 'moralizar' pessoas que ainda não nasceram de novo e que, portanto, não podem produzir os frutos piedosos prometidos por Cristo. A ponte deve ser construída com o evangelho. Explore temas onde a nossa cosmovisão pode ser partilhada: de onde viemos? por que a sociedade vai de mal a pior? O que fazer para consertar o mundo? O que nos reserva o futuro? Sobre qualquer uma dessas perspectivas, a esperança está em Jesus. Irmãos, na primeira vez que estive com vocês, não usei palavras eloquentes nem sabedoria humana para lhes apresentar o plano secreto de Deus. Pois decidi que, enquanto estivesse com vocês, me esqueceria de tudo exceto de Jesus Cristo, aquele que foi crucificado. 1 Co 2.1,2

  • Quarto, aos pecadores que pertencem à minorias sociais e que demonstram sinais de conversão (e somente para estes), deve-se iniciar a formação cristã integral, através de um discipulado robusto, para que reconheçam que a identidade de um ser humano não baseia-se em seus desejos, mas em sua posição diante de Deus pela fé em Jesus Cristo. Devemos também reconhecer que o resultado do evangelho no coração da pessoa pode não corresponder com nossas expectativas. Nossa missão é simplesmente levar o pecador a um relacionamento salvífico com Jesus. Quando vemos sinais claros de conversão, devemos estimular esse pecador perdoado a se batizar e fazer parte da comunidade cristã. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinem esses novos discípulos a obedecerem a todas as ordens que eu lhes dei. E lembrem-se disto: estou sempre com vocês, até o fim dos tempos”. Mt 28.19,20

  • Quinto, devemos ser amorosos e pacientes com o processo de santificação destes novos convertidos oriundos de minorias sociais, uma vez que eles podem ter barreiras adicionais a serem rompidas na longa jornada de se descobrirem salvos em Cristo e se reconhecerem como filhos de Deus perdoados. Irmãos, se alguém for vencido por algum pecado, vocês que são guiados pelo Espírito devem, com mansidão, ajudá-lo a voltar ao caminho certo. E cada um cuide para não ser tentado. Gálatas 6.1

  • Por fim, devemos individualmente abraçar toda a graça de Cristo, para que sejamos curados de nossas feridas que nos impedem de termos raízes na igreja local. Muitos membros da igreja ainda estão aprisionados com pecados, traumas e maus hábitos que os impedem de estar devidamente acolhidos e abrigados na igreja. Se nós mesmos não estivermos acolhidos e unidos aos demais, não teremos êxito em acolher outros pecadores que chegam, em especial, aqueles que compõe minorias. Precisamos nos apegar a fé para sermos livres e, na fé, levarmos libertação para os outros. 'Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.', João 8:36



CONCLUSÃO


O fruto maligno da pós-modernidade é a fragmentação moral e social. Veremos nos próximos anos um aprofundamento dessa realidade e precisamos, como igreja, manter viva nossa vocação, levando a boa notícia da salvação e conduzindo pecadores à Cristo Jesus.


Os tempos são trabalhosos sim! Mas Deus, Nosso Pai, é poderoso para salvar qualquer pecador. Ele fez isso conosco e pode fazer com qualquer um.


Por isso, nosso reconhecimento como uma 'comunidade de pecadores' deve ampliar nossa visão, para sermos capazes de acolher outros pecadores que, como nós, conheceram o imenso amor de Jesus e foram salvos por Ele.


Inclusive, aqueles que compõe minorias sociais.



Pastor Sérgio Fernandes

Pastor Titular da IPR

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