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A IGREJA E A DOENÇA AUTOIMUNE - Sermão de 15/09/2024

Atualizado: há 3 dias


"Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só." Efésios 4.3,4


INTRODUÇÃO


Imagine que o corpo humano é uma comunidade.


Cada célula, tecido e órgão tem uma função específica e importante para manter o corpo saudável e em harmonia.


No entanto, em pessoas com doenças autoimunes, algo vai errado.


O sistema imunológico, que deveria proteger o corpo, confunde o que é saudável com o que é prejudicial, e começa a atacar suas próprias células.


Em vez de cooperar para o bem de todo o corpo, ele acaba causando danos. A harmonia é quebrada, e o corpo sofre as consequências dessa "divisão interna".


Os principais exemplos de doenças autoimunes são: lúpus, artrite reumatóide e diabetes tipo 1.


Agora, pense na comunidade cristã. Somos chamados a ser o "corpo de Cristo", onde cada pessoa tem uma função vital para o bem comum.


Quando estamos unidos, o corpo (ou seja, a comunidade) funciona de maneira saudável, refletindo o amor de Cristo para o mundo.


Mas, às vezes, como no caso de uma doença autoimune, podem surgir mal-entendidos, divisões e conflitos. Em vez de trabalharmos juntos para o bem de todos, acabamos nos prejudicando uns aos outros, enfraquecendo o corpo que deveríamos estar fortalecendo.


O desafio da unidade na comunidade cristã é real, assim como a luta contra uma doença autoimune. Precisamos estar sempre vigilantes para evitar que pequenas desavenças cresçam e tragam danos à nossa união.


Na reflexão de hoje, falaremos sobre o desafio da unidade e de que modo podemos contribuir para que não nada destrua a sua unidade espiritual.





A IGREJA COMO CORPO DE CRISTO


Quando lemos as Escrituras, a natureza da igreja como o Corpo de Cristo é enfatizada radicalmente. Leiamos:


Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja. Ele é o princípio, supremo sobre os que ressuscitam dos mortos; portanto, ele é primeiro em tudo. Cl 1.18

A idéia expressa nesse versículo traz a idéia de que Cristo governa soberano sobre a Igreja, e que a Igreja existe para ser a continuidade da missão de Cristo, pregando o evangelho e reconciliando a humanidade com Deus.


Nesse interim, cada cristão salvo é batizado pelo Espírito Santo e inserido no corpo de Cristo para cumprir um papel específico na grande causa do evangelho!


Alguns de nós são judeus, alguns são gentios, alguns são escravos e alguns são livres, mas todos nós fomos batizados em um só corpo pelo único Espírito, e todos recebemos o privilégio de beber do mesmo Espírito. 1 Co 12.13

Neste processo, Deus nos estabeleceu na Igreja do modo que quis. Ele nos deu dons e talentos específicos que, somados com o de outros irmãos na fé, tornam a igreja um organismo singular, cuja presença e movimento no mundo são capazes de transformações espirituais perenes e duradouras.


Mas nosso corpo tem muitas partes, e Deus colocou cada uma delas onde ele quis. 1 Co 12.18

Embora sejamos únicos, cada um do seu jeito, somos todos um único corpo. Isso significa que faz parte da nossa natureza como igreja trabalharmos pelo bem comum e nos movimentarmos juntos para cumprimento de nossa missão.


"Assim como cada um de nós tem um corpo com muitos membros, e esses membros não exercem todos a mesma função, assim também em Cristo nós, que somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros." Rm 12.4,5

Isso faz que haja harmonia entre os membros, de modo que todos cuidem uns dos outros.1 Co 12.25

Por isso, não existe 'carreira solo' na igreja, não biblicamente falando.


  • Não existe chamado específico que possa funcionar à parte de uma igreja local.

  • Não existe cristianismo sem comunhão estreita com os outros irmãos na fé

  • A nossa unidade é decisiva para o cumprimento do plano de Deus!

  • A nossa unidade é mais importante que nossos programas e departamentos locais.



A unidade espiritual é, inclusive, um dos valores da Igreja Pentecostal Reformada, e um aspecto muito caro à nossa aliança local.


Como afirmamos em nosso pacto de membresia, assumimos um compromisso diante de Deus e da igreja de batalharmos pela nossa unidade, não sendo os elos fracos que possam destruir a comunhão entre nossos membros. Lembre-se da oração de Jesus.


Minha oração é que todos eles sejam um, como nós somos um, como tu estás em mim, Pai, e eu estou em ti. Que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Jo 17.20,21


DEUS NOS TRATA CORPORATIVAMENTE



Um dos aspectos mais belos do ensino da igreja como Corpo de Cristo é a revelação de que Deus nos trata corporativamente.


Calma, vou te explicar o que é isso:


Em sua relação com cada salvo em Cristo, Deus nunca o vê ou o trata à parte da sua relação com a sua Igreja Local.


Vou dar dois exemplos bizarros, mas que te farão entender o que estou dizendo. Quando você vai fazer uma caminhada, seus pés vão sozinhos ou o corpo vai com eles?


Quando você vai a um restaurante se alimentar, a boca vai sozinha ou o corpo está junto com ela?


Assim é a Igreja, aos olhos de Deus. O que um membro faz afeta o corpo todo. Deus nos trata corporativamente. Vejamos exemplos:


  • Em Atos 13. Paulo e Barnabé foram comissionados pelo Espírito para plantarem igrejas locais, mas eles foram enviados pela comunidade a qual pertenciam, At 13.2,3.

  • Deus trabalha dentro da igreja coletivamente, fazendo o corpo crescer como um todo. Por isso, quando os membros negligenciam seus papéis, eles comprometem não apenas a si próprios, mas a todos os seus irmãos na fé, Efésios 4.15,16 ('cresçamos em tudo').

  • A igreja é sempre tratada corporativamente na Bíblia: "nação santa", "povo escolhido", 1 Pe 2.9;

  • A própria disciplina eclesiástica é ordenada como uma atividade corporativa. Em nossas relações fraternais, corrigimos uns aos outros no temor de Deus, a fim de não permitir que o pecado se apodere da comunidade. 1 Coríntios 5.


  • Destacando o importante papel que os crentes executam na missão de Deus, Jesus afirmou o amor que os membros nutrem uns pelos outros seria um poderoso testemunho ao mundo. A consciência de que os cristãos são tratados corporativamente deveria fazer com que eles amassem e protegessem uns aos outros.


Por isso, agora eu lhes dou um novo mandamento: Amem uns aos outros. Assim como eu os amei, vocês devem amar uns aos outros. Seu amor uns pelos outros provará ao mundo que são meus discípulos”. Jo 13.34,35

Lembre-se: a salvação do cristão é de caráter individual, mas a missão cristã é SEMPRE de caráter coletivo. Por isso:


  • Quando um membro acerta, todos são beneficiados;

  • Quando um membro cai, todos são prejudicados;

  • Quando um membro dedica-se, todos crescem;

  • Quando um membro negligencia, todos sofrem as consequências;



EVÓDIA E SINTIQUE



Praticar essa importante revelação bíblica, contudo, não é algo simples. Em Filipos, por exemplos, duas mulheres cristãs causaram um alvoroço na obra de Cristo por um desentendimento que tiveram:


Agora, suplico a Evódia e a Síntique: tendo em vista que estão no Senhor, resolvam seu desentendimento. E peço a você, meu fiel colaborador, que ajude essas duas mulheres, pois elas trabalharam arduamente comigo na propagação das boas-novas, e também com Clemente e com meus outros colaboradores, cujos nomes estão escritos no livro da vida. Fp 4.2,3

A Bíblia dá testemunho de que Evódia e Síntique trabalhavam arduamente pela propagação do evangelho. Foram obreiras de Paulo e de Clemente, dois vultos piedosos da história da igreja. Eram importantes para o plano de Deus e para a comunidade.


Mas estavam duelando uma com a outra.


Esqueceram da causa de Cristo e se apegaram às suas próprias causas pessoais.


Paulo pede a um colaborador fiel da igreja, não nomeado, que ajude-as em sua reconciliação. Ele sabia que membros da igreja local que estão em desarmonia são um câncer que contamina toda a igreja.


A Bíblia não fala o que causou o desentendimento entre elas.


Mas o que causa desentendimentos entre nós?


O que nos leva, como doenças autoimunes, a nos levantarmos contra nossos próprios irmãos e, com isso, ferirmos a unidade da igreja?


Refletindo sobre isso, trouxe um diagnóstico...


Primeiro, muitos membros acreditam que a Igreja existe apenas para satisfazer suas necessidades de afirmação, desejos pessoais, emocionais e afetivos. Eles cobram afeto sem dar afeto. Eles cobram compromisso da igreja sem se comprometer. E quando sentem que a igreja falha em "mimá-los", se levantam contra ela e a adoecem.


Nada façam por ambição egoísta ou vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a vocês mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros. Filipenses 2:3-4

Segundo, muitos membros tratam seus ministérios no corpo de Cristo como seus reinos pessoais impenetráveis. E se sentem ameaçados quando alguém novo chega, por medo de perderem cargos e funções. Isso torna a comunidade um ambiente hostil, onde cada um está lutando por si mesmo e não pela causa de Cristo. Isso pode ser uma fonte de fofocas, calúnias e assassinatos de reputações.


'Se, pelo contrário, vocês têm em seu coração inveja amargurada e sentimento de rivalidade, não se gloriem disso, nem mintam contra a verdade. ' Tg 3.14


Terceiro, quando surge partidarismo dentro da igreja, as famosas "panelas", é comum que determinados grupos acabem tentando, como um câncer, canibalizar os outros, para garantir seus espaços de poder e de influência.


Pois, visto que há inveja e contenda entre vocês, não são porventura carnais e andam como homens? Quando um diz: 'Eu sou de Paulo', e outro: 'Eu sou de Apolo', não estão sendo como homens? 1 Co 3.3,4

Quarto, quando há ciúmes entre os membros, a malignidade toma conta da igreja. As vezes, por questões de solidão, alguns membros que fazem amizades entre si passam a julgar serem donos das pessoas e hostilizam aqueles que se aproximam de suas 'posses'.


Onde existem ciúme e inveja, aparecem a desordem e toda a espécie de maldades. Tg 3.16

Quinto, por falta de visão corporativa, alguns membros são possuídos de um sentimento de inveja quando vêem outros membros ocupando espaços que eles julgam serem dignos de ocupar. Desse modo, gera-se um sistema maligno onde um membro tenta ocupar o lugar do outro, reduzindo a causa de Cristo a uma hierarquia maligna e diabólica.


"Ame uns aos outros com amor fraternal, preferindo dar honra aos outros mais do que a si mesmo." Rm 12.10

Sexto, por falta de humildade, muitos crentes se tornam pessoas rancorosas, cheias de orgulho e difíceis de serem discipuladas. Como uma inflamação, isso começa a minar a comunhão da igreja de dentro para fora. O orgulho destruiu mais ministérios do que qualquer outro tipo de pecado.


"Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes." Tg 4.6

Sétimo, por falta de perdão, muitos crentes se deixam inflamar pela amargura e, feridos, começam a sangrar em cima daqueles que não os feriram. A igreja, como comunidade de pecadores perdoados, sempre terá problemas, incongruências, pecados e relações interpessoais abaladas pelos deslizes uns dos outros. Mas assim como o Pai nos perdoou em Cristo, Ele exige que sinceramente nos perdoemos uns aos outros. Só o perdão destrói os muros que o pecado levantou.


Toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmia sejam afastadas de vós, com toda malícia. E sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo. Efésios 4.31,32

Essas doenças, que tornam igrejas locais campos de batalha, precisam ser confrontadas, tratadas e curadas.


Nossa luta não é contra a carne o sangue.


Lembre-se: a Bíblia é enfática em sua afirmação à respeito daqueles que semeiam contendas entre os irmãos.


Há seis coisas que o Senhor odeia, ou melhor, sete coisas que ele considera detestáveis: olhos arrogantes, língua mentirosa, mãos que matam o inocente, coração que trama a maldade, pés que se apressam em fazer o mal, testemunha falsa que diz mentiras, e aquele que semeia desentendimento entre irmãos. Pv 6.16-19.


CONCLUSÃO


Nem a Bíblia e nem a história nos contam como terminou a contenda entre Evódia e Síntique. Mas, se essas mulheres eram contadas como eleitas, certamente se resolveram para a glória de Deus.


Eu, contudo, não quero ser contado como aquele que divide, mas como aquele que trabalha pela unidade. Eu fui reconciliado para reconciliar!


A Igreja é a comunidade daqueles que foram reconciliados. Essa é a boa notícia que pregamos: Deus enviou seu Filho para reconciliar pecadores com o Deus Santo, transformando-os em filhos perdoados, através de sua morte na cruz.


A cruz reconcilia os irreconciliáveis.


Se pela cruz Deus nos reconciliou consigo mesmo, essa mesma cruz não deveria nos reconciliar uns com os outros?

A fé evangélica é a fé do amor inabalável, da graça que constrói pontes, do poder de Deus que destrói toda separação. Desse modo, parte essencial de nossa missão é sermos o tipo de gente que mantém a comunidade unida.


Pois todos vocês são filhos de Deus por meio da fé em Cristo Jesus. Todos que foram unidos com Cristo no batismo se revestiram de Cristo. Não há mais judeu nem gentio, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos vocês são um em Cristo Jesus. Gl 3.26-28.

Essa é a minha singela oração a Deus: que Ele nos ajude a sermos um!



Pastor Sérgio Fernandes

Pastor Titular da IPR

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