top of page
Buscar

A herança Pentecostal no Culto Cristão - Sermão 07/11/2021

Atualizado: 29 de nov. de 2021



Venham, cantemos ao Senhor com júbilo, celebremos o Rochedo da nossa salvação. Saiamos ao seu encontro com ações de graças, vitoriemo-lo com salmos. Salmos 95:1,2


Introdução


Nas mensagens anteriores dessa série, falamos a respeito do que é o culto cristão e de como a tradição reformada nos ofereceu uma alternativa bíblica de liturgia à missa realizada pelo catolicismo romano. Nessa terceira exposição, analisaremos à luz da Escritura, de que modo o movimento pentecostal contribuiu para o culto cristão trazendo para a reunião uma busca intensa pela presença do Senhor e um dinamismo espiritual potencializado pelas manifestações dos dons do Espírito Santo.


Obviamente, o que analisarei parte da minha própria experiência com o pentecostalismo clássico, onde estive por vinte e dois anos. O culto pentecostal parte da mesma premissa do culto reformado, buscando oferecer uma liturgia que seja bíblica e reverente. Ao afirmar isso, sempre que mencionar o culto pentecostal eu nunca tenho em mente os "retétés", "encontros de vasos" e outras anomalias que observamos no Brasil. Essa reunião, fortalecida pela ação do Espírito, é o modelo que pretendemos seguir em nossa querida Igreja Pentecostal Reformada.






A BUSCA PELA PRESENÇA DE DEUS E PELA EXPERIÊNCIA COM ELE


O culto pentecostal possui todas as características de um culto reformado, mas com um objetivo adicional de se experimentar a presença de Deus. Pentecostais clássicos se reúnem em torno da Palavra de Deus, adoram na perspectiva do sacerdócio de todos os crentes e reconhecem a supremacia de Cristo na reunião. Mas eles não param no Calvário, eles sobem até o cenáculo para aguardarem a promessa do Pai, o derramamento do Espírito, que os capacita na obra do evangelização. Por isso, em reuniões pentecostais clássicas, as orações serão intensas e audíveis, e gestos de adoração surgem espontaneamente no culto, com gritos de glória a Deus e aleluia, e outros que possam expressar os sentimentos de ternura e amor por Cristo. Isso torna a reunião viva, dinâmica e, é claro, um pouco mais barulhenta.



formalismo e espontaneidade


Acredito que um irmão reformado que visite uma de nossas reuniões ficará um pouco impressionado com a espontaneidade de nossos cultos. Em igrejas reformadas, a liturgia é conduzida por um ministro ordenado ou auxiliar autorizado à essa função e a reunião tem um tom solene, silencioso, reverente e reflexivo. Em igrejas pentecostais, as reuniões costumam ser conduzidas por líderes previamente autorizados e envolvem todo o corpo de Cristo. Pastores e membros se unem em adoração e com seus dons espirituais e talentos naturais oferecem seu culto ao Senhor, de forma alegre e espontânea. Esse modelo parece refletir melhor as instruções que Paulo deixou aos coríntios quando eles começaram a bagunçar seus encontros de adoração.


Observe que a Escritura afirma que nas reuniões de adoração de Corinto, havia ampla participação dos membros. Cada um deles trazia uma pequena porção de participação que, somadas umas as outras, deveriam glorificar a Cristo e, ao mesmo tempo, ser feito para edificação (vv.26) e com ordem e decência (vv.40). Ao reconhecer a ampla participação dos membros no culto, Paulo estimula que cada membro do corpo funcione de modo orgânico a fim de revelar a pessoa de Cristo em cada reunião. Essa espontaneidade, contudo, deve ser feita de forma organizada, a fim de que o culto seja inteligível (vv.15) e não cause confusão à quem nos visita (vv.23)


Que fareis pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação. 1 Coríntios 14:26

Mas faça-se tudo decentemente e com ordem. 1 Coríntios 14:40

O dom de línguas no culto pentecostal


Como parte do movimento pentecostal, certamente você notará que em nossas reuniões alguns irmãos poderão falar espontaneamente em outras línguas, como parte de sua adoração. A Bíblia reconhece que tais manifestações acontecem em um culto público, como podemos observar nos versículos abaixo, ao mesmo tempo que a necessidade de normatizar essas manifestações não deve ser feita de modo a impedir que elas aconteçam:


E eu quero que todos vós faleis em línguas, mas muito mais que profetizeis; porque o que profetiza é maior do que o que fala em línguas, a não ser que também interprete para que a igreja receba edificação. 1 Coríntios 14:5
Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas. 1 Coríntios 14:39

Contudo, é importante observarmos que Paulo tinha uma profunda preocupação com o modo com o qual esses dons sobrenaturais podem roubar nossa atenção do que realmente importa no culto, que é a glória de Deus. Por isso, quanto ao falar em línguas, a Bíblia nos deixa algumas recomendações que não podem ser ignoradas.


Nossa oração não pode ser feita apenas em línguas espirituais

A oração em línguas é uma marca do movimento pentecostal, ainda que seja um dom superestimado. Paulo pede que os crentes que possuem esse dom que orem tanto desde modo espiritual, mas principalmente, que orem com o entendimento (com palavras que eles saibam o significado). O propósito disso é tanto a edificação pessoal quanto a coletiva. Veja o que a Escritura diz:


Porque, se eu orar em língua desconhecida, o meu espírito ora bem, mas o meu entendimento fica sem fruto. Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento.De outra maneira, se tu bendisseres com o espírito, como dirá o que ocupa o lugar de indouto, o Amém, sobre a tua ação de graças, visto que não sabe o que dizes? Porque realmente tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado. 1 Coríntios 14:14-17

As mensagens não podem ser entregues apenas em línguas espirituais

O povo em Corinto estimava tanto o dom de línguas que em suas reuniões, eles anunciavam mensagens de Deus em língua desconhecida. Essa prática deixava o culto público confuso, porque os crentes no local não compreendiam o que era dito, mas respeitavam aquele ato como sinal da presença de Deus, contudo, os incrédulos viam isso e consideravam os crentes como loucos.


De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis. Se, pois, toda a igreja se congregar num lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou infiéis, não dirão porventura que estais loucos? 1 Coríntios 14:22,23

Por isso, Paulo recomenda que havendo mensagens espirituais comunicadas em outras línguas, é necessário que haja na igreja um intérprete. Obviamente, Paulo não tem em mente nessa aplicação aquele falar em línguas espontâneo, resultado de oração ou de adoração, mas especificadamente, quando há uma mensagem sendo entregue dessa forma. Se o cristão considerar que tem uma mensagem em línguas, mas sabe que não há um crente com o dom de interpretá-las, ele deve falar somente com Deus. Isso mostra que as línguas, embora sejam um carisma do Espírito, elas podem ser controladas e até silenciadas, quando isso for proveitoso para o bom andamento do culto, sem que com isso a pessoa esteja demonstrando frieza ou pouca espiritualidade.


E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus. 1 Coríntios 14:27,28

Todos que oram ou falam em línguas devem pedir a Deus a capacidade de interpretá-las

O maior problema do entendimento dos pentecostais é imaginarem que as línguas são um fim, quando na verdade, elas são parte de todo um banquete oferecido pelo Espírito para nossa edificação em Cristo. Paulo recomendava aos irmãos que operavam nesse dom que não ficassem somente nele, mas que buscassem também o dom de interpretar línguas. Vejamos!


Por isso, o que fala em língua desconhecida, ore para que a possa interpretar. 1 Coríntios 14:13

A necessidade da interpretação das línguas era tornar o culto compreensível. Como bom pentecostal, é óbvio que sinto uma alegria imensa quando diversos irmãos são tocados pelo Espírito e começam a adorar, orar e falar em outras línguas, isso deixa o culto dinâmico e sem monotonia. Mas as orientações de Paulo devem ser consideradas palavra de Deus para nossa edificação. E por isso, é uma atitude "pentecostal" levar a sério suas orientações sobre como nós devemos nos portar no culto público pensando na presença de visitantes e na necessidade de ordem e de decência durante a reunião.


Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos. Todavia eu antes quero falar na igreja cinco palavras na minha própria inteligência, para que possa também instruir os outros, do que dez mil palavras em língua desconhecida. Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento. 1 Coríntios 14:18-20


O dom de PROFECIA no culto pentecostal


O dom de profecia é uma comunicação espontânea de uma mensagem espiritual para a igreja ou para um crente individual. Esse movimento dinâmico do Espírito que rompe com a monotonia do culto é uma importante marca do movimento pentecostal e esperamos que ele sempre aconteça em nosso meio. Contudo, a Escritura também normatiza o modo pelo qual esse carisma deve acontecer.


Se houverem profecias no culto, devem ser entregues uma de cada vez

As profecias devem ser comunicadas à igreja ou a membros do corpo de Cristo de forma ordeira, uma de cada vez. Se a mensagem for para toda a igreja, ela deve ser falada de modo audível para que, ao ser anunciada, possa ser julgada por toda a assembleia reunida. Se for uma mensagem para um membro do corpo, ele deve primeiro ouvir a mensagem, julgar se ela de fato procede da parte de Deus e então reagir aceitando-a no coração ou não.


E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. 1 Coríntios 14:29

A profecia não deve atrapalhar a adoração coletiva e individual da igreja, muito menos a pregação da Palavra de Deus

O foco do culto deve ser a adoração ao Senhor, por isso, aqueles que operam no dom da profecia devem se preocupar em não atrapalhar a adoração ao profetizarem. Por isso, enquanto estivemos adorando ao Senhor com cânticos, os irmãos que tem o dom de profecia devem adorar também. Enquanto a Escritura está sendo pregada, eles devem ouvir a pregação (que é a verdadeira profecia naquele momento). A profecia deve ser entregue nos intervalos entre as oportunidades do culto, de modo ordeiro, para que não atrapalhe a singeleza da reunião e nem tire a atenção dos crentes.


Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados. 1 Coríntios 14:30,31

espontaneidade e autocontrole


Para alguns pentecostais, seguir essas recomendações é um fardo, porque alegam que "sentem tanto poder" que não conseguem controlar o que acontece no culto e com os seus corpos. Isso é uma falácia. Em nenhum momento, sob nenhuma circunstância, um crente cheio do Espírito perde o controle de seu intelecto, do seus lábios ou do seu corpo. O Espírito Santo aperfeiçoa nossa mente ao invés de roubá-la. Por isso, quem pula na igreja pulou porque quis pular, quem dança, o faz porque quis dançar, quem treme, o faz porque quis tremer. Temos total controle e total domínio sobre cada uma de nossas ações. Por isso, para garantir a decência e a ordem no culto, somos capazes de parar de falar, de ficarmos quietos, de esperarmos nossa vez e garantirmos com isso que o foco da reunião seja sempre Cristo e não as manifestações que acontecem conosco.


E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos. 1 Coríntios 14:32,33

Quando uma liturgia pentecostal é conduzida seguindo as claras instruções da Bíblia Sagrada, ela se torna uma reunião alegre, dinâmica, cativante e profundamente transformadora. Com um desejo ardente de honrar a Cristo e obedecer a Escritura, podemos atingir esse ideal fazendo a nossa liturgia pentecostal reformada ser profundamente espontânea e radicalmente bíblica.


Conclusão


Como você pode perceber, a contribuição do movimento pentecostal para o dinamismo dos cultos marcou profundamente a igreja e hoje diversas tradições cristãs seguem o esse modelo em suas reuniões (até a renovação carismática da Igreja Católica imita a liturgia pentecostal).


O meu desejo é que a nossa reforma espiritual não nos conduza ao formalismo, mas ao dinamismo de uma igreja que busca a Deus com intensidade, ouve e guarda a palavra com temor e serve evangeliza com fervor, para que Cristo Jesus seja adorado e glorificado. A Ele a glória para todo o sempre!


Não extingais o Espírito. 1 Tessalonicenses 5:19

A chama arderá continuamente sobre o altar!



Pastor Sérgio Fernandes

Pastor Titular da IPR



106 visualizações0 comentário

댓글


bottom of page