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A Cura do Leproso - Sermão de 06/04/2025

Atualizado: 9 de abr.



Um leproso aproximou‑se dele e suplicou‑lhe de joelhos: ― Se quiseres, podes purificar‑me! Mc 1.40


INTRODUÇÃO


Poucas histórias bíblicas são tão conhecidas como a cura do leproso. Ela é tão importante na narrativa das Escrituras que foi contada por três dos quatro evangelistas, com poucas mudanças significativas entre elas (Mt 8.1-4; Mc 1.40-44; Lc 5.12-14).


Apesar da brevidade de cada uma dessas passagens, há muito a ser conhecido no estudo do texto em questão. Meu objetivo hoje é me debruçar nessa história e compartilhar com vocês aquilo que o Senhor ministrou ao meu coração.




A ocasião do milagre


Quando fazemos uma leitura comparativa do relato de cada um dos evangelistas sobre esse milagre, recebemos algumas dicas da ocasião em que ele aconteceu.



Mateus nos dirá que este evento ocorreu logo após o sermão da montanha, quando multidões seguiam a Jesus (Mt 8.1).


Quando ele desceu do monte, grandes multidões o seguiram. Mt 8.1

Marcos afirma que Jesus caminhava por toda a Galiléia, pregando nas sinagogas e expulsando demônios (Mc 1.39), então, o leproso se aproximou.


Então, ele percorreu toda a região da Galileia, pregando nas sinagogas e expulsando os demônios. Mc 1.39

Já Lucas menciona que a cura do leproso aconteceu em uma das cidades onde Jesus pregava (Lc 5.12).


Desse modo, é possível considerar que o milagre tenha acontecido na região da Galiléia.


Estando Jesus em uma das cidades, encontrou um homem coberto de lepra. Lc 5.12

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Havia uma tradição entre os rabinos, comum e conhecida entre os judeus, que o Cristo, quando viesse, seria capaz de curar pessoas leprosas. Embora as Escrituras não afirmem isso, a resposta de Jesus para João Batista reforça essa expectativa que o povo possuía.


João, ao ouvir na prisão o que Cristo estava fazendo, enviou os seus discípulos para lhe perguntarem: ― És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar outro? Jesus respondeu: ― Voltem e anunciem a João o que vocês ouvem e veem: os cegos veem, os aleijados andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e o evangelho está sendo pregado aos pobres. Mt 11.2-5

Esse é o motivo pelo qual os evangelhos sinóticos dão destaque a esse evento:


Jesus estava demonstrando todas as credenciais de ser aquele que haveria de vir! A forma como vivia, os sinais que operava e suas palavras despertavam o coração do povo sobre ser Ele o Messias Prometido.



A LEPRA no mundo bíblico


O nome "lepra" era utilizado para descrever uma quantidade vasta de doenças de pele, sendo aquilo que hoje conhecemos como hanseniase uma delas.


Com a medicina atual, uma doença como a hanseniase é tratada com três antibióticos e pode ser curada em até 12 meses de tratamento.


Não era assim no mundo bíblico.


Por ser uma doença de difícil tratamento e de fácil transmissão, a lepra tinha impacto pessoal, social e religioso na vida do doente.


O impacto pessoal era percebido no sofrimento físico causado pela doença, e pelas feridas emocionais oriundo do afastamento das pessoas e consequente solidão.


Podemos perceber isso na vida de Jó, por exemplo.


Saiu, pois, Satanás da presença do Senhor e afligiu Jó com feridas terríveis, da sola dos pés ao alto da cabeça. Então, Jó apanhou um caco de louça e com ele se raspava, sentado entre as cinzas. Jó 2.7,8

Ser deixado à margem também causava feridas invisíveis, tão dolorosas quanto às da pele.


“Ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos, os quais pararam de longe.” Lc 17.12

O impacto social era sentido pelo isolamento obrigatório que era imposto ao leproso. Ao ser identificada a lepra, o doente era obrigado a deixar sua cidade e viver afastado, enquanto aguardava a cura da enfermidade.


Ordena aos filhos de Israel que lancem para fora do arraial todo o leproso, todo o que padece fluxo e todo o que se contaminou com algum morto. Nm 5.2

O leproso em quem houver praga, as suas vestes serão rasgadas, e a sua cabeça descoberta; e cobrirá o lábio superior e clamará: Imundo, imundo. Todos os dias em que a praga estiver nele, será imundo; imundo está, habitará só; a sua habitação será fora do arraial. Lv 13.45,46

O impacto religioso da lepra se dava pela proibição de participar do culto e dos sacrifícios judaicos. A única forma de um leproso retornar às celebrações era mediante a cura, algo que, na maioria dos casos, era improvável de acontecer.


O capítulo 14 de Levítico explica o processo de purificação do leproso caso fosse curado, o que envolvia sacrifícios e rituais antes de ser reintegrado à congregação. Não faremos a leitura no sermão de hoje, mas recomendo que vocês façam em casa.



Quando a dor nos move



Como vimos, um leproso vivia profundamente o impacto de sua doença.


O texto bíblico em estudo parece sugerir que ele ouviu a pregação do Sermão do Monte.


As palavras de Cristo devem ter tocado profundamente o seu coração.


Ele então faz o improvável: Ele se aproximou do Salvador (Mc 1.40; Mt 8.2; Lc 5.12).


Improvável, porque ele não poderia se aproximar, mas ele fez!


E aproximou-se dele um leproso, que, rogando-lhe e pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se queres, bem podes limpar-me. Mc 1.40

As pessoas à sua volta devem tê-lo ouvido gritar: "imundo, imundo", e acredito que muitos ali se afastaram dele, mas Jesus não se moveu do seu lugar.


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Veja, todos nós passamos por momentos de dor e de aflição.


A dor costuma paralisar algumas pessoas, mas aqui, vemos o contrário: a dor moveu a fé daquele leproso, tirando-o do lugar de morte e desesperança.


O leproso, no íntimo, pensava estar se aproximando de Jesus, mas, na verdade, era Cristo quem o chamava e o atraía com graça irresistível.


E o que o moveu? A fé que Deus mesmo operou em seu coração, levando-o até Jesus!


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Fazendo uma análise dos textos, eu acredito que o Espírito revelou ao leproso que Jesus era o Messias que viria. Essa tese parece plausível pelas questões que eu apresento abaixo:


Primeiro, ele se ajoelhou diante de Jesus e o adorou. Judeus pós-exílio eram cautelosos com o pecado de idolatria e jamais se prostrariam a um homem comum.


E eis que veio um leproso e o adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo. Mt 8.2

Em Mt 8.2 expressão traduzida por "adorou" é 'prosekýnesen', que significa no contexto bíblico 'prostrar-se em adoração a Deus' (Mt 4.10; Jo 4.24). Esse gesto mostra que o leproso reconhecia Jesus, no mínimo, uma pessoa com autoridade divina.


De que maneira eu e você temos identificado Jesus? Ele é apenas um curandeiro, um revolucionário, ou Ele é o Filho de Deus, digno de nossa obediência e adoração?


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Segundo, o leproso dirigiu-se a Jesus com um título divino. A expressão traduzida por "Senhor" é 'Kýrios', que pode ser traduzida como Mestre, mas quando aplicada a Jesus, costuma ter conotação divina.


E aconteceu que, quando estava em uma daquelas cidades, eis que um homem cheio de lepra, vendo a Jesus, prostrou-se sobre o rosto e rogou-lhe, dizendo: Senhor, se quiseres, bem podes limpar-me. Lc 5.12

Reconhecer a Jesus como "Senhor" é um dom do Espírito dado à nós. Só é capaz de chamar Jesus de "Senhor", reconhecendo sua divindade, aqueles que foram iluminados pelo Espírito para isso.

Por isso, quero que compreendam que ninguém que fala pelo Espírito de Deus amaldiçoa Jesus, e ninguém pode dizer que Jesus é Senhor a não ser pelo Espírito Santo. 1 Co 12.13

Esse, inclusive, é um dos sinais bíblicos da conversão. O convertido reconhece Jesus como Senhor e acolhe o senhorio de Jesus em cada detalhe de sua vida.


Para o leproso, Jesus é Senhor! E para você?


Se Jesus e a Palavra não influenciam sua forma de trabalhar, namorar, congregar, exercer sua liberdade de consciência, relacionar-se com outras pessoas, talvez você esteja seguindo um deus criado por sua imaginação, não o KYRIOS, Filho de Deus.


Pense nisso!


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Por fim, o leproso possuía absoluta confiança no poder de Jesus. Ele não diz assim: "Jesus, se puderes", mas sim, "se quiseres".


Ele sabia que Jesus podia!


Como os judeus do seu tempo, ele reconhecia que o Messias curaria leprosos.


Mas como um verdadeiro adorador, ele submeteu sua fé à soberania de Cristo.


Fé não é receber tudo o que pedimos, mas continuar adorando quando nossas preces ou expectativas não são atendidas. A verdadeira fé tem mais a ver com disposição do que resultados.


Deus não se curva ao homem, mas o homem de fé se curva à Deus!


E uma coisa que aprendemos com o Senhor: uma boa disposição do coração costuma ser surpreendida por demonstrações amorosas da graça de Deus. Lembre-se, tudo coopera para nosso bem (Rm 8.28).



Um toque transformador



Os evangelistas são unânimes em registrar a resposta breve de Jesus ao pedido do leproso: "Quero, fica limpo".


Jesus falou pouco, mas fez muito!


Ele tocou o leproso!


A lei considerava impuro e culpado quem tocasse em impureza alheia.


Se tocar a impureza de uma pessoa, seja qual for a impureza com que se faça impuro, e não se der conta disso, mas ficar sabendo depois, será culpado. Lv 5.3

Jesus operou diversos milagres pelo simples poder da Sua Palavra. Não haveria necessidade dEle tocar alguém e se tornar cerimonialmente impuro, mas Ele o fez.


Era um toque repleto de amor e compaixão. Jesus tocou o intocável.


Ao tocar o leproso, Ele tocou:


  • na sua solidão: não te deixarei sozinho!

  • no seu fracasso: a vida não acabou, ainda há novas chances e oportunidades!

  • no seu vazio: eu preencherei o seu coração de propósito!

  • nas suas frustrações: eu sou tudo o que você precisa, nada te falta!

  • no seu coração pecaminoso: Eu Sou teu Salvador!


E o mais interessante é que, ao tocar o leproso, Jesus não se tornou impuro cerimonialmente, mas o homem foi imediatamente curado.


Nosso Senhor Jesus não podia ser contaminado com a impureza! 

E o seu toque poderoso santificava e curava o mais vil pecador!


Foi assim com o leproso!


Da doença para cura, da margem para o meio, da solidão à comunhão, o leproso foi completamente restaurado!


Jesus é o mesmo ontem, hoje e para sempre, Hb 13.8.

Podemos confiar que hoje mesmo Ele continua tocando os intocáveis!


O amor e compaixão de Jesus é capaz restaurar aqueles que estão perdidos neste mundo, sem fé, sem esperança e sem amor.


Se você está ouvindo essa mensagem, e precisa de um toque de Jesus, venha depressa ao Salvador!


O Cristo vivo pode tocar você!

E nenhum homem é o mesmo quando é tocado por Jesus!



Um toque que direciona



Jesus fez dois pedidos ao leproso: que Ele não espalhasse a notícia da sua cura e que se apresentasse ao sacerdote.


— Olhe! Não conte nada a ninguém, mas vá, apresente-se ao sacerdote e ofereça, pela sua purificação, o sacrifício que Moisés ordenou, para servir de testemunho ao povo. Mc 1.44

Ao evitar a superexposição, Jesus queria garantir que poderia dar continuidade a sua missão que não se resumia a resolver problemas temporais das pessoas, mas em proclamar o Reino de Deus aos corações, promovendo uma purificação espiritual permanente, reconciliando pecadores com Deus!


Jesus não quer adoradores interesseiros, Ele quer pessoas dispostas a caminhar com Ele com integridade, obediência e adoração.


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O pedido para o leproso se apresentar ao sacerdote tinha o objetivo de garantir que o leproso cumpriria os requisitos da lei, para poder ser reintroduzido em sua vida pessoal, social e religiosa, garantindo uma completa restauração.


O fato de ter sido tocado por Jesus não o privava de seus compromissos civis e religiosos. Quem foi tocado por Jesus faz o que é certo, em cada esfera da vida!


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O toque de Jesus direcionou o leproso à uma completa restauração.


Quando somos tocados pelo Mestre, esse toque afetará cada detalhe de nossa vida, a fim de podermos viver de modo agradável àquele que nos chamou (1 Co 10.31).



Um chamado à piedade



Aos irmãos que me ouvem nessa manhã, o caminho do Crucificado nos convida a termos um olhar misericordioso para aqueles que estão à margem, perecendo no caminho da exclusão.


Ninguém podia ajudar o leproso, mas Jesus o ajudou!


Nós, que somos o corpo de Cristo, devemos estar dispostos a tocar as feridas daqueles que estão à margem para restaurá-los.


Nosso ministério é de levar restauração à todos, indistintamente, sem nos conformarmos com esse mundo afundado no pecado. O amor de Deus em nós é poderoso para transformar o mundo à nossa volta, uma pessoa de cada vez.


Qual desses três você diria que foi o próximo do homem atacado pelos bandidos?”, perguntou Jesus. O especialista da lei respondeu: “Aquele que teve misericórdia dele”. Então Jesus disse: “Vá e faça o mesmo", Lucas 10.36,37

E como comunidade cristã, também precisamos olhar para nossos irmãos que estão caídos pelo desânimo, pelo pecado e pela fraqueza, e dizer-lhes com convicção: Jesus quer você limpo!


Vamos parar de atacar nossos soldados feridos! Não apaguemos o pavio que ainda fumega. Aquele que curou o leproso levanta crentes caídos. E Ele faz isso através de nós, 'leprosos' que foram curados pelo Seu poder salvador!


A nossa existência como Corpo de Cristo é permitir que o toque de Jesus continue restaurando! Ao invés de ser um dedo apontado, seja um toque restaurador!


Tenham compaixão daqueles que vacilam na fé. Resgatem outros, tirando-os das chamas do julgamento. De outros ainda, tenham misericórdia, mas façam isso com grande cautela, odiando os pecados que contaminam a vida deles. Jd 22,23


CONCLUSÃO



Você, amigo que ainda não conhece Jesus, pode ser que você seja como esse homem leproso:


Contaminado pela triste lepra do pecado, você vive sua vida à margem, se escondendo, com medo de Deus, com medo das pessoas, reconhecendo que está imundo diante de um Deus Santo.


A Palavra afirma que nossos pecados fazem separação entre nós e o nosso Deus, para que Ele não nos ouça (Is 59.1,2). Nós somos por natureza filhos da ira, pecadores que amam o pecado e odeiam a Deus (Ef 2.1,2), que vivem suas vidas distantes do único que pode nos salvar.


Mas Deus enviou Jesus para nos livrar desta triste condição! O Salvador veio habitar com os homens, pregou o evangelho, foi crucificado, mas Deus o Pai o ressuscitou ao terceiro dia!


A vida santa e invencível de Jesus, que o livrou da morte, é poderosa para remover a impureza de nosso pecado e nos introduzir em uma nova relação com Deus!


A vitória do leproso não se deu quando ele reconheceu sua condição, mas sim, quando Ele reconheceu Seu Salvador.


Se aproxime de Jesus! Caia aos pés daquele que é poderoso para salvar! Venha, como o leproso, aos pés daquele que morreu para perdoar seus pecados, mas que ressuscitou para te declarar justo aos olhos de Deus!


Contudo, aqueles que o Pai me dá virão a mim, e eu jamais os rejeitarei. João 6.37


Pastor Sérgio Fernandes

Pastor Titular da IPR

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