A Circuncisão DE JESUS - Sermão de 12/02/2025
- Pastor Sérgio Fernandes
- 11 de fev.
- 10 min de leitura
Atualizado: 12 de fev.
Oito dias depois, quando o bebê foi circuncidado, chamaram-no Jesus, o nome que o anjo lhe tinha dado antes mesmo de ele ser concebido. Lc 2.21
INTRODUÇÃO
Sabemos pouco a respeito a infância de Jesus. Esses eventos que ocupam alguns dos evangelhos apócrifos e é de particular interesse de seguidores de doutrinas esotéricas também possuem seu lugar nas Escrituras Sagradas, embora, a Bíblia não se ocupe tanto com essa fase da vida de Nosso Senhor.
Lucas, por ter escrito o seu evangelho como resultado de uma minuciosa pesquisa histórica, é quem mais nos fala da infância do Senhor.
Nessa reflexão, tenho o objetivo de meditar com vocês a respeito da circuncisão e apresentação do Senhor Jesus no templo, duas importantes práticas da religião judaica das quais Cristo participou e também refletirmos sobre os eventos que se deram nessas duas ocasiões.
A HISTORICIDADE DE LUCAS
O evangelho de Lucas é resultado de um trabalho exemplar de seu autor como historiador. Por isso, ele possui histórias e detalhes que são peculiares do livro. Isso é importante para nós, leitores modernos da Bíblia, pelo fato de que Lucas garante estar narrando fatos verídicos e historicamente verificáveis.
Muitos se propuseram a escrever uma narração dos acontecimentos que se cumpriram entre nós. Usaram os relatos que nos foram transmitidos por aqueles que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e servos da palavra. Depois de investigar tudo detalhadamente desde o início, também decidi escrever-lhe um relato preciso, excelentíssimo Teófilo, para que tenha plena certeza de tudo que lhe foi ensinado. Lc 1.1-4
Hoje, em um tempo onde a fé cristã é culturalmente combatida, é muito importante cada crente estar ciente da historicidade de nossa fé.
O cristianismo não é fruto da mente dos primeiros cristãos, mas a narração dos fatos que aconteceram entre nós e que foram preservados nos evangelhos, para conhecermos que Jesus Cristo é o Senhor.
a circuncisão de jesus
Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu na plenitude dos tempos e debaixo da lei. Sendo judeu, Ele foi submetido a todas as práticas da religião judaica. Isso incluía a circuncisão.
Oito dias depois, quando o bebê foi circuncidado, chamaram-no Jesus, o nome que o anjo lhe tinha dado antes mesmo de ele ser concebido. Lc 2.21
A circuncisão foi instituída pelo próprio Deus e era um sinal da aliança com Abraão e com sua descendência. O oitavo dia era significativo porque, segundo a tradição judaica, o corpo do bebê já estava biologicamente preparado para a coagulação do sangue.
"O filho de oito dias será circuncidado entre vós, todo homem nascido em vossa casa ou comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua descendência." Gn 17.12
E ao oitavo dia se circuncidará ao menino a carne do seu prepúcio. Lv 13.2
Um ponto que deve ser destacado aqui no verso é que José e Maria aceitaram a orientação do anjo, dando ao Seu Filho o nome que havia sido revelado.
A disposição deles, de obedecer a Deus, é um exemplo vivo para nós, que devemos procurar, da mesma forma, sermos em tudo dedicados e obedientes a Deus, como uma resposta natural da graça que recebemos por Nosso Senhor Jesus Cristo.
A circuncisão hoje não faz parte da nosso religião, tendo sida substituída pelo batismo, que é o sacramento que demonstra exteriormente que nosso coração já foi circuncidado pelo Senhor, sendo removido dele o domínio da natureza humana.
Em Cristo vocês foram circuncidados, mas não por uma operação física, e sim espiritual, na qual foi removido o domínio de sua natureza humana. No batismo, vocês foram sepultados com Cristo e, com ele, foram ressuscitados para a nova vida por meio da fé no grande poder de Deus, que ressuscitou Cristo dos mortos. Colossenses 2.11,12
a APRESENTAÇÃO de jesus E O SACRIFÍCIO DE PURIFICAÇÃO
Depois de cumprida a purificação, os pais de Jesus o levaram ao templo, para ser apresentado ao Senhor e para que Maria fizesse o seu sacrifício pela purificação. Esses ritos faziam parte da religião judaica, sendo instituídos em Ex 13.2 e Lv 12.4-6.
A leitura bíblica afirma o seguinte
Passados os dias da purificação deles segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, conforme o que está escrito na Lei do Senhor: Todo primogênito ao Senhor será consagrado; e para oferecer um sacrifício, segundo o que está escrito na referida Lei: Um par de rolas ou dois pombinhos. Lc 2.22-24
Vou começar explicando o que era a apresentação dos primogênitos no templo.
Seu principal propósito era recordar o povo que Deus poupou os primogênitos de Israel na noite da Páscoa, quando feriu os primogênitos egípcios (Êx 13:2, 12-15). Assim, os primogênitos israelitas eram considerados como pertencentes a Deus e precisavam ser apresentados e resgatados.
“Consagre a mim todos os primeiros filhos homens dos israelitas. O primeiro filho de cada família e a primeira cria dos animais me pertencem”. Ex 13.2
O conceito de resgatar os primogênitos no Antigo Testamento apontava para a redenção em Cristo.
No Novo Testamento, Jesus é chamado de Primogênito (Cl 1:15; Hb 1:6), não no sentido de precisar ser resgatado, mas porque Ele é o supremo herdeiro e aquele que veio para resgatar o Seu povo com Seu próprio sangue.
Jesus, como o verdadeiro Primogênito, não precisou ser resgatado, mas veio para resgatar!
Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; Cl 1.15
Na ocasião da apresetação, também era pago um preço de "resgate" do primeiro filho consagrado ao Senhor, no valor de cinco siclos de prata (cerca de 100 gramas), conforme registrado em Nm 18.15.16. Com respeito à Cristo, a Bíblia não fala nada a respeito desse pagamento. Algumas hipóteses são levantadas:
Lucas pode não ter considerado importante esse detalhe, uma vez que seu evangelho era direcionado ao público gentio;
Maria e José podem não ter resgatado Jesus, por entenderem que Ele pertencia a Deus e não carecia de resgate;
O resgate pode ter sido pago em outro evento, não documentado.
“O primeiro filho de cada família e a primeira cria de cada animal, oferecidos ao Senhor, serão seus. Mas o primeiro filho e a primeira cria de animais cerimonialmente impuros serão sempre resgatados. Vocês deverão resgatá-los quando eles tiverem um mês de idade. (O preço do resgate é de cinco peças de prata, com base no siclo do santuário, equivalente a doze gramas cada peça. Nm 18.15,16
Após apresentarem Jesus, Maria trouxe ao Senhor o seu sacrifício de purificação.
Segundo lemos em Levítico 12:4-6, após dar à luz um filho homem, a mãe era considerada ritualmente impura por 40 dias (7 dias de impureza inicial + 33 de purificação). Nesse período, ela deveria afastar-se do templo e do culto público e não podia tocar nas coisas sagradas.
“Quando se completar o tempo de purificação pelo nascimento de um filho ou de uma filha, a mulher levará um cordeiro de um ano como holocausto e um pombinho ou rolinha para a oferta pelo pecado. Levará as ofertas ao sacerdote à entrada da tenda do encontro. O sacerdote as apresentará ao Senhor para fazer expiação pela mulher. Ela voltará a ficar cerimonialmente pura depois do sangramento do parto. Essas são as instruções para a mulher depois do nascimento de um filho ou de uma filha.“Se a mulher não tiver condições de levar um cordeiro, levará duas rolinhas ou dois pombinhos. Um será para o holocausto, e o outro, para a oferta pelo pecado. O sacerdote os sacrificará para fazer expiação pela mulher, e ela ficará cerimonialmente pura”. Levítico 12.6-8
Maria seguiu essa regra, mesmo sendo a mãe do Salvador, o que mostra sua submissão à Lei. O fato da expressão purificação estar no plural ("deles") não sugere que José tenha ficado cerimonialmente impuro, mas que ele estava ao lado da mulher durante a sua purificação.
A obediência dos seus pais à Lei é uma marca que certamente foi deixada no coração de Jesus. Pais comprometidos com Deus deixarão uma marca positiva na formação espiritual dos filhos.
Culto doméstico, orações, leitura bíblica familiar não são bobeiras: são práticas fundamentais que sempre deveriam acontecer em lares cristãos. É nosso dever formar a próxima geração!
O fato de Maria oferecer no sacrifício um par de pombinhos indica que ela vivia em situação de pobreza. Isso nos recorda de um tema especial para Lucas, que era o Messias estar identificado com os mais humildes.
Conquanto na igreja exista uma diversidade de pessoas, Jesus deve ser sempre proclamado como o Salvador de Todos. Em Deus, não há acepção!
simeão, um homem justo
Após o relato da apresentação de Jesus no Templo, Lucas introduz Simeão, um homem justo e devoto, esperando a consolação de Israel. O Espírito Santo havia lhe revelado que veria o Messias antes de morrer.
A relação do Espírito com Simeão é semelhante a dos profetas do AT, sendo que ele recebeu uma promessa específica sobre estar face a face com o Messias.
Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão; homem este justo e piedoso que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. Revelara-lhe o Espírito Santo que não passaria pela morte antes de ver o Cristo do Senhor. Lc 2.25,26
A consolação de Israel era a manifestação do Messias, conforme lemos em Is 40.1,2. A piedade e integridade de Simeão eram resultado de sua fé no Messias.
Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém, bradai-lhe que já é findo o tempo da sua milícia, que a sua iniquidade está perdoada e que já recebeu em dobro das mãos do Senhor por todos os seus pecados.
Em toda a história, as pessoas foram salvas pela fé em Jesus.
Essa fé viva no coração nos conduz a uma transformação radical, para vivermos de modo agradável a Ele.
No passado, pela fé que Ele viria. Hoje, pela fé que Ele já veio!
Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio do seu nome, todo o que nele crê recebe remissão dos pecados. At 10.43
Movido pelo Espírito Simeão foi ao templo e ali encontrou José, Maria e Jesus. Ele tomou o menino nos abraços, alegre, vendo o cumprimento daquilo que Deus havia lhe prometido.
Em Simeão, há um movimento em direção a Jesus: Ele esperou, creu, viu, abraçou e louvou...
'Movido pelo Espírito, foi ao templo; e, quando os pais trouxeram o menino Jesus para fazerem com ele o que a Lei ordenava, Simeão o tomou nos braços e louvou a Deus, dizendo: Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra; porque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparaste diante de todos os povos: luz para revelação aos gentios, e para glória do teu povo de Israel. Lucas 2:27-32
A confiança de Simeão sobre a morte é parecida com aquela que gozam os cristãos. Ele pegou Jesus no colo e entendeu que poderia "partir em paz". O crente não teme a morte, porque Jesus ressuscitou e triunfou sobre ela!
Há um contraste interessante entre Simeão e nós, que somos o povo de Deus na Nova Aliança.
Simeão viu Jesus antes de morrer, nós veremos quando partirmos desse mundo e nos encontramos com Ele.
Simeão tomou Jesus nos braços, mas é Jesus quem nos toma em Seus braços
Simeão celebrou em louvor a Deus o fato de que o Messias traria revelação aos gentios e glória a Israel. Isso tem um sentido que não deve ser ignorado por nós cristãos.
"Revelação aos gentios" significava que, através de Jesus, os gentios se tornariam participantes da promessa de salvação. A eles seria "revelada" a Graça de Deus. Eu, o Senhor, te chamei em justiça, tomar-te-ei pela mão, e te guardarei, e te farei mediador da aliança com o povo e luz para os gentios; Is 42.6
"Glória à Israel" significava que Deus cumpriria suas promessas feitas à Abraão e a Davi, trazendo salvação ao seu povo. Deus é um Deus de Palavra. Todas as promessas que se cumpriram para Israel nos recordam de todas as promessas que se cumprirão em nós, como Igreja. Deus nunca falha!
'E estavam o pai e a mãe do menino admirados do que dele se dizia. Simeão os abençoou e disse a Maria, mãe do menino: Eis que este menino está destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição (também uma espada traspassará a tua própria alma), para que se manifestem os pensamentos de muitos corações. Lucas 2:33-35
Embora Maria e José já soubessem à missão de Jesus, ainda não tinham clareza da grandiosidade dos eventos que se seguiriam.
Uma parte significativa do plano de Deus é revelada progressivamente, à medida que caminhamos à luz de Sua presença.
Por isso, as palavras de Simeão deram maior clareza ao que viria pela frente:
a manifestação do Messias derrubaria e exaltaria, isto é, os que crêssem, receberiam a graça salvadora, os que rejeitassem, a condenação. Jesus tem esse poder incrível de causar a divisão: alguns o amarão, outros, o rejeitarão. De que lado você está?
O ministério de Jesus feriria a alma de Maria. Ela sofreria por causa de Jesus, algo que certamente se refere à dor de presenciar a crucificação. Uma parte natural da caminhada com o Crucificado é sofrer por causa dEle. Deus trata seus eleitos na escola do sofrimento. Algumas lições são aprendidas na dor...
A profetisa Ana
Por fim, na ocasião da apresentação de Jesus, uma profetisa chamada Ana presenciou a profecia de Simeão. Leiamos Lc 2.36-38.
'Havia uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, avançada em dias, que vivera com seu marido sete anos desde que se casara e que era viúva de oitenta e quatro anos. Esta não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e orações. E, chegando naquela hora, dava graças a Deus e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. ' Lucas 2:36-38
Não era muito comum nos dias de Jesus a existência de profetas. Ela pertencia à tribo de Aser, que era uma das dez tribos do norte, dispersas após a invasão assíria, sugerindo que fiéis dessas tribos ainda existiam nesse tempo.
A Bíblia destaca alguns elementos interessantes sobre Ana:
Ela era avançada em idade e viúva.
Ela não deixava o templo e sua dedicação a Deus, com jejuns e orações
Despertada pelas palavras de Simeão, ela espalhava a boa notícia da chegada do menino a todos que esperavam a chegada do Messias.
Embora fosse avançada em idade, ela permanecia fiel a Deus. Ela perdeu o marido, mas não perdeu a fé!
Para muitos, a velhice vai se tornando um sinônimo de amargura, irresponsabilidades e desejo de aproveitar o que resta da vida de forma inconsequente. Para nós, não!
A velhice deve ser um estímulo para uma santificação e dedicação maior à Deus, para deixarmos aos mais jovens uma exemplo de vida cheia do Espírito Santo. Você pode estar avançado em idade, mas você ainda é útil nos planos de Deus.
A dedicação de Ana a Deus em jejuns e orações a deixou sensível para se dirigir ao templo no momento certo para ver Jesus. A oração e o jejum são importantes disciplinas espirituais, que nos mantém alertas ao cumprimento da vontade de Deus.
A indiferença dos cristãos modernos é resultado direto do abandono da disciplina da oração. A oração perseverante de Ana foi decisiva para que ela pudesse ver a glória de Jesus Cristo.
Ana pode ser contada como uma das primeiras evangelistas do NT. Ela proclamou, como nós, que o Messias já havia chegado! Temos essa importante missão a cumprir: anunciar com ousadia que Jesus veio, morreu, ressuscitou, voltou ao céu e voltará!
CONCLUSÃO
Nesta noite, unido à Igreja no caminho ao lado do crucificado, quero ser fiel a Palavra de Deus como José, cheio do Espírito como Simeão e evangelista como Ana.
Que Ele me ajude a viver desse modo, para o louvor da Sua glória!

Pastor Sérgio Fernandes
Pastor Titular da IPR
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